Havia
uma mesa no meio da sala, e eu estava em frente a ela. A sala estava
parcialmente cheia e a meia luz. No centro da mesa tinha uma garrafa de tequila,
e as luzes ali piscavam incessantemente pelo cômodo. As pessoas dançavam, e
dentre todas aquelas almas dançantes meus olhos eram total paixão por ela, a
tequila, é claro! Eu precisava beber para esquecer cada pedaço de você que
havia ficado guardado dentro de mim, como um câncer que parecia crescer sem fim
a cada dia mais. E eu realmente não aguentava mais, precisava me livrar de
você! Mas eu te amava demais para isso, sentia muito sua falta, era uma tortura
sem fim! Tomei minha primeira dose.
É
engraçado como hoje em dia todo mundo é muito igual... Você era diferente, eu
ficava bobo só de ver você andando, passando por mim, seu cheiro, seu rebolado,
seu sorriso de tirar suspiros de mim igual doce de criança. O mais triste era
saber que meu erro não foi ter se apaixonado perdidamente por você, por que
você havia se rendido a mim também. E a gente viveu um amor nuclear, de
explosões constantes de paixão, de momentos mágicos e singulares. Eu me lembro
de te buscar na porta da faculdade e de todo mundo olhar para a gente como se
fossemos de um outro planeta. Era uma química muito forte, você era o oxigênio
que faltava para a combustão do amor que havia dentro de mim. E só de pensar
que agora eu estava apagado, mais cinza que o céu triste de agosto, eu bebia
outra dose.
As
pessoas tendem a mudar pelo outro, se adaptar, às vezes esquecem inclusive de
ser quem elas realmente são. E a gente era simplesmente e puramente nós mesmos,
sem máscaras ou disfarces. Era de uma aceitação impressionante, eu não sei como
poderia existir maior admiração mútua, por sermos quem éramos de verdade. Como
você pode ir embora enxergando isso?
Como pode me abandonar sabendo que estávamos tão bem sintonizados? Eu
sinceramente não consigo entender o que é tão mais urgente que dois corações
que se amam perdidamente e estão predestinados a ser uma onda única unissonante
de amor. Tomei a terceira dose.
Cabisbaixo,
visivelmente triste e desiludido com a vida no meio da festa, alguém me tira para
dançar e eu sei que é porque querem tentar me animar. E o fato de todo mundo
saber como você fugiu covardemente de mim me deixa mais envergonhado de mim
mesmo, de ter se aproximado de você e não ter previsto a explosão que viria. Eu
bebi a quarta e a quinta dose pensando em como seria bom ter você ali comigo...
Você tinha uma energia fortíssima quando se aproximava de mim, seus lábios me
atraiam como polos inversos de um imã. Eu sentia todo o desejo do mundo
concentrado no seu olhar sedutor fixo nos meus olhos. A gente dançava
sensualmente em cima de um palco de cabaré, você puxava meu suspensório e minha
gravata vermelha, eu descia a mão pelo seu corpete até a sua cintura e te
apertava forte junto ao meu corpo, e logo mais você dava as costas para mim de
novo... Não sinto falta de você, sinto sede de tomar cada gota de paixão que éramos
juntos. Cada gota da minha sexta dose.
Eu já
estava alucinando e invariavelmente conseguiria te esquecer, era tão óbvio! Mas
eu insistia em ser idiota, por que eu precisava por para fora a dor de ter
perdido a coisa mais linda que um dia já havia passado pela minha vida. Como
você era sensual e doce ao mesmo tempo, como era forte e sensível, como era
bela e inteligente, como era tudo o que eu jamais conseguiria descrever como
perfeição nesse meu mundo tão cor de rosa. Aprendi a não me iludir com a vida,
aprendi a não criar demasiadas expectativas nas pessoas. Obrigado por isso...
acho.
Aquela
noite eu pus cada gota de você para fora do meu corpo. A ressaca ainda se
prolongou por dias afora, mas eu aprendi a dizer nunca mais para essa dor.
Temos que aprender a experimentar outras vidas, em outros bares do nosso
coração, em outras projeções da nossa visão. Tão limitado somos em buscar o que
ainda não entendemos tão bem. A falta de amor próprio.
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