Vinha
vindo devagar e ajeitando delicadamente o carro na vaga pintada ao chão. Ela
desceu com o pé direito e um vento soprou seus cabelos loiros sentido
norte-sul, ela olhou o sol no topo do céu azul com aquelas nuvens de algodão
doce fazendo desenhos de criança, e com sua bolsa de couro no ombro foi
caminhando até a padaria da esquina.
Ela entrou ali e notou que não havia
ninguém no caixa do estabelecimento, se dirigiu ao balcão e ficou ali
paquerando alguns pães doces, e só alguns minutos depois reparou que era a
única pessoa ali dentro. Ela bateu a campainha duas vezes em cima da mesa e
ninguém apareceu. Ela podia ouvir a própria respiração, e isso lhe deixou
atormentada, desceu mais umas oito cacetadas na campainha de metal que ecoou
por toda a padaria e depois se silenciou mortalmente com o ar que entrava nos
pulmões dela.
Ela saiu assustada dali e quando
chegou à rua não notou se quer um movimento de vida, sem carros, pessoas ou
animais. Ela dirigiu o olhar ao relógio e ele marcava três horas da tarde de um
sábado de agosto. “Deve ser brincadeira isso!” e ela correu pela avenida
buscando alguém e não achou nada que não fosse seu próprio reflexo nos grandes
letreiros que se estendiam pela vitrine das lojas.
Ela entrou em cinco ou seis
estabelecimentos e todos eles estavam abertos, mas completamente desertos.
Desesperou-se. Foi até o telefone e discou automaticamente um número, e quando
ouviu a voz do outro lado respirou aliviada por um instante. “Olá, você ligou
para um número restrito, no momento ele não se encontra em funcionamento”. Ela
levou as mãos à cabeça quando notou se tratar de uma gravação, e de repente
olhou pra tudo aquilo em volta e percebeu que não sabia onde estava.
Ela abriu a bolsa e estava vazia. “qual
o meu nome?” ela não sabia onde morava e saiu em pânico atrás de ajuda gritando
por socorro, e mais uma vez, o único som era o do seu sapato martelando o
cimento frio. A tarde caia e o sol se retirava escondendo-se por entre as
montanhas no horizonte. Ela por esse horário roía as unhas sentada no meio fio
em algum lugar qualquer. Foi quando ouviu um barulho.
Não, dessa vez não era ela, vinha de
algum lugar à direita da sua posição, e ela saiu em disparada até lá, seguindo
aquelas vibrações sonoras como um cão farejador. Deu em um prédio antigo com
vigas robustas de concreto, e no centro dele havia uma porta de madeira toda
trabalhada a mão, onde uma fresta indicava uma luz lá dentro, e o som passava
por esse vão. Ela entrou ali e viu sombras se movimentando, respirando aliviada
ela ergueu as mãos “graças a Deus encontrei alguém, vocês poderiam...” e ela se
deparou com uma enorme sala vazia, onde um retroprojetor reproduzia um filme em
uma enorme parede branca. Ela perdeu o folego por alguns segundos antes de sair
dali.
A noite já era densa e ela estava
atormentada, começou a ouvir vozes, passos, e pessoas a seguindo, mas não conseguia
vê-las, e podia sentir que esses vultos da noite queriam lhe ferir, ela correu
alucinadamente pela rua, passou por alguns quilômetros de asfalto e em cada
esquina observava e sentia um monstro da sua imaginação lhe pregando uma peça.
Quando faltou energia e a última gota suor caiu do seu rosto ela se esbofeteou no
chão quente da madrugada, virou-se e olhou a lua cheia no céu, as estrelas, uma
a uma, foram se apagando até que a lua desapareceu, e a escuridão tomou conta
de tudo que havia ali.
“Ahhhh !!!” um grito rompeu a noite
estrelada, ela abriu os olhos e sentiu a cama molhada de suor, suspirou
aliviada por estar acordada. O relógio marca três horas da madrugada, de um
outro sábado de agosto e ela buscou nas cobertas ali a mão e o peito daquele
que lhe ofereceria a paz depois daquela imensa estória da sua mente. Ela não
achou ninguém ali, jogou os edredons ao chão e viu que naquela cama imensa só
havia uma pessoa, ela mesma, e o pesadelo só estava começando.