As duas garotas estavam sentadas
lado a lado na mesa de shopping. Elas conversavam bem animadas e sorriam com
bastante frequência. Foram as únicas coisas que reparei antes de chegar até
elas, colocar as mãos sobre uma terceira cadeira na mesa e perguntar:
- Por um acaso esse lugar está
ocupado?
As duas cessaram a conversa e
recolheram o sorriso do rosto para ouvirem a minha pergunta. Eu continuei
mantendo o contato visual e a resposta me pareceu demorar mais do que deveria.
Não sabia se tinha interrompido uma conversa importante ou falado embolado
demais (como acontece às vezes). Decidi falar novamente:
- É que eu e meu amigo (apontei
para a mesa ao lado, onde estava Beto, o meu amigo. Ele sorriu e deu uma
piscadinha), nós queríamos saber se...
Fui abruptamente interrompido! E
aquela que parecia ser a mais velha, talvez por ser a mais alta e corpulenta,
(já que a outra garota era bem baixinha e magra) foi dizendo quase que
gritando:
- Não, a cadeira não está ocupada, mas
você e seu amigo não vão se sentar com a gente! Nem adianta ficar de gracinha.
A gente não vai transar com vocês – Eu congelei toda e qualquer reação enquanto
a garota ia vomitando todas aquelas palavras. Eu estava ali imóvel, apenas
esperando que ela terminasse logo – Agora pode voltar pra lá com seu amigo, não
venha encher a nossa paciência!
Eu pude reparar que a garota da
esquerda, a que ficou quieta, estava claramente com o rosto assustado, de quem
estava parcialmente entrando em pânico. Eu dei um suspiro e conclui:
- Eu só queria a cadeira, tem
apenas uma na minha mesa – E sai sem esperar qualquer outra reação delas.
A impressão que eu tive quando dei
de costas para as meninas era de que a garota mais nova olhou rapidamente para
a mesa onde estava Beto naquele momento, e constatou que havia apenas uma
cadeira, de fato. Pois pude ouvir um “É tudo parte da estratégia, não se
engane”. Fiquei pensando se a aliança na minha mão, que certamente elas não
viram, também fazia parte de uma estratégia maluca de flerte.
Eu peguei uma cadeira de uma
terceira mesa que havia acabado de esvaziar e sentei na minha mesa com o Beto,
que estava com os olhos arregalados e a boca aberta:
- Cara, que mina grossa mew! Por
que você não mandou ela se foder? Folgada! – Dizia ele visualmente indignado
com a cena.
- Relaxa! Vamos comer – Disse eu
tentando matar o assunto ali e comer minha comida.
- Mas cara – Ia insistindo Beto -
Pra que toda essa grosseria? Só por que ela achou que você queria dar em cima
dela? Que falta de educação! Deixa eu ir lá falar umas verdades pra ela,
foda-se!
Eu ouvia Beto como se não desse a
mínima, mas era estranho sim! Enquanto ele continuava esbravejando seu ódio eu
dei uma nova olhada para a mesa das garotas. Elas estavam novamente conversando
e rindo. Eu reparei que o sorriso delas abria de uma maneira bastante
característica, e logo sumia. Como se fosse segredo! Elas pararam por um
instante de conversar e ficaram se encarando com olhos profundamente
conectados, a moça mais alta passou a mão no rosto da outra, e ela sorriu. Em
seguida segurou a sua mão por debaixo da mesa, e a garota pequena deu uma
varrida visual com alto teor de desconfiança no ambiente ao redor.
Beto continuava falando:
- Odeio desrespeito, sabe!? Nada
justifica ela falar dessa forma com você!
Eu dei uma olhada para ele sem
dizer nada, mas como se falasse “Chega, Beto! Pelo amor de Deus!”
Eu não precisava de nada além
daquilo que já havia visto. Era uma cena característica. Era amor! E o amor é
sempre lindo demais para deixar que qualquer coisa ofusque o seu brilho. E eu,
parcialmente ofendido três minutos atrás, sorria por dentro agora.
A garota mais baixa continuava
varrendo o perímetro frequentemente com desconfiança. Eu conhecia aquele olhar,
era medo!
Beto não havia visto isso.
Continuou falando.