segunda-feira, 22 de agosto de 2016

No Shopping



As duas garotas estavam sentadas lado a lado na mesa de shopping. Elas conversavam bem animadas e sorriam com bastante frequência. Foram as únicas coisas que reparei antes de chegar até elas, colocar as mãos sobre uma terceira cadeira na mesa e perguntar:

- Por um acaso esse lugar está ocupado?

As duas cessaram a conversa e recolheram o sorriso do rosto para ouvirem a minha pergunta. Eu continuei mantendo o contato visual e a resposta me pareceu demorar mais do que deveria. Não sabia se tinha interrompido uma conversa importante ou falado embolado demais (como acontece às vezes). Decidi falar novamente:

- É que eu e meu amigo (apontei para a mesa ao lado, onde estava Beto, o meu amigo. Ele sorriu e deu uma piscadinha), nós queríamos saber se...

Fui abruptamente interrompido! E aquela que parecia ser a mais velha, talvez por ser a mais alta e corpulenta, (já que a outra garota era bem baixinha e magra) foi dizendo quase que gritando:

- Não, a cadeira não está ocupada, mas você e seu amigo não vão se sentar com a gente! Nem adianta ficar de gracinha. A gente não vai transar com vocês – Eu congelei toda e qualquer reação enquanto a garota ia vomitando todas aquelas palavras. Eu estava ali imóvel, apenas esperando que ela terminasse logo – Agora pode voltar pra lá com seu amigo, não venha encher a nossa paciência!

Eu pude reparar que a garota da esquerda, a que ficou quieta, estava claramente com o rosto assustado, de quem estava parcialmente entrando em pânico. Eu dei um suspiro e conclui:

- Eu só queria a cadeira, tem apenas uma na minha mesa – E sai sem esperar qualquer outra reação delas.

A impressão que eu tive quando dei de costas para as meninas era de que a garota mais nova olhou rapidamente para a mesa onde estava Beto naquele momento, e constatou que havia apenas uma cadeira, de fato. Pois pude ouvir um “É tudo parte da estratégia, não se engane”. Fiquei pensando se a aliança na minha mão, que certamente elas não viram, também fazia parte de uma estratégia maluca de flerte.

Eu peguei uma cadeira de uma terceira mesa que havia acabado de esvaziar e sentei na minha mesa com o Beto, que estava com os olhos arregalados e a boca aberta:

- Cara, que mina grossa mew! Por que você não mandou ela se foder? Folgada! – Dizia ele visualmente indignado com a cena.

- Relaxa! Vamos comer – Disse eu tentando matar o assunto ali e comer minha comida.

- Mas cara – Ia insistindo Beto - Pra que toda essa grosseria? Só por que ela achou que você queria dar em cima dela? Que falta de educação! Deixa eu ir lá falar umas verdades pra ela, foda-se!

Eu ouvia Beto como se não desse a mínima, mas era estranho sim! Enquanto ele continuava esbravejando seu ódio eu dei uma nova olhada para a mesa das garotas. Elas estavam novamente conversando e rindo. Eu reparei que o sorriso delas abria de uma maneira bastante característica, e logo sumia. Como se fosse segredo! Elas pararam por um instante de conversar e ficaram se encarando com olhos profundamente conectados, a moça mais alta passou a mão no rosto da outra, e ela sorriu. Em seguida segurou a sua mão por debaixo da mesa, e a garota pequena deu uma varrida visual com alto teor de desconfiança no ambiente ao redor.

Beto continuava falando:

- Odeio desrespeito, sabe!? Nada justifica ela falar dessa forma com você!

Eu dei uma olhada para ele sem dizer nada, mas como se falasse “Chega, Beto! Pelo amor de Deus!”

Eu não precisava de nada além daquilo que já havia visto. Era uma cena característica. Era amor! E o amor é sempre lindo demais para deixar que qualquer coisa ofusque o seu brilho. E eu, parcialmente ofendido três minutos atrás, sorria por dentro agora. 

A garota mais baixa continuava varrendo o perímetro frequentemente com desconfiança. Eu conhecia aquele olhar, era medo!

Beto não havia visto isso. 

Continuou falando.