segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Mais um café, por favor!



                Eu te amei com a força de um milhão de corações, e você só me provou que a ingratidão tem nome e endereço. Eu te escrevi centenas de versos sinceros, e você sequer leu o bilhete de bom dia que eu lhe deixei na mesa da sala. Eu te idolatrei como uma princesa de conto de fadas por incontáveis anos, e você nem ao menos teve a decência de me dar aquela chance que tanto prometeu. Eu te propus todas as formas possíveis de vida ao meu lado, e você se quer respondeu minhas mensagens antes de me trocar por outra pessoa. Eu fui capaz de fazer o mundo inteiro acreditar que nós éramos perfeitos um para o outro, em certos momentos até você mesmo acreditou, mas mesmo assim continuou apenas me alimentando com a ilusão de que em um amanhã eu poderia ficar ao seu lado.
                De todas as ilusões que eu tive o desprazer de viver na minha vida, você certamente foi a mais idiota. Por que eu fui idiota. Por que ela nunca aconteceu. E eu desisti dela dezenas de vezes e me fiz acreditar de novo outras dezenas de vezes, pra sempre no mesmo buraco me lamentar o fato de que você nunca vai me olhar da maneira como eu a vejo. E mais uma vez eu choro enquanto você dorme a noite, alimentando a certeza dessa via de mão única que existe em torno de uma amizade que beneficia demais o seu egoísmo. Qual era sua desculpa mesmo? Medo?
                Se existe um Deus acima de mim eu espero que ele esteja observando o tanto que eu me entrego e confio nas pessoas que eu amo, pra domingo a noite ter que tomar essas bordoadas da vida e me sentir a pior pessoa do universo. É triste ter essa certeza de que as magoas que são causadas aqui dentro são permanentes, e com tempo, tudo o que é bonito acaba perdendo a magia, o brilho e a aquela doce imagem de que o amor é infinito, único e transcendente a qualquer litígio ou banalidade cotidiana.

                Na verdade, eu que me cansei. Boa noite.

***Dá um like ai pra ajudar? Muito agradecido!

domingo, 21 de dezembro de 2014

Infinito, infinitesimal, Eterno




O eterno. O que é o eterno? O que seria o eterno senão a infinita soma de pequenos, infinitos, infinitesimais eternos juntos.

Conheci uma garota esses tempos atrás. Ela gostava de fumar e eu odiava aquilo, mas amava ela, então sentava ao seu lado e assistia aqueles rodopios de fumaça fugirem de sua boca. Em câmera lenta, a fumaça parecia uma entidade viva, como se um pedaço da alma dela saltasse para fora e voltasse, timidamente, para seu corpo, à cada baforada nicotinada.

Seu beijo tinha gosto de maçã (porque ela usava gloss de maçã, mas isso não vem ao caso) e seu corpo era pálido como uma nuvem, e quando eu me deitava em seus seios, podia sentir sua respiração ritmada, como se um carnaval morasse dentro dela. E realmente morava, um carnaval de sentimentos, flores e pensamentos que saíam pelos seus olhos, pela sua boca, pelo seu corpo todo.

Ela era uma obra de arte viva, tudo que via pintava. Algumas vezes em fotos, outras vezes no próprio corpo, mas frequentemente em lágrimas e sorrisos curtos. Mas o que é o eterno senão a soma de todos os eternos curtos sorrisos?

Nos conhecemos na internet (como todo mundo, né), vi sua foto pelo perfil de um amigo e me apaixonei naquele instante. Nunca tinha visto uma menina/mulher tão linda. Seus olhos eram profundos e silenciosos. Eternos.

Na primeira vez que nossas bocasse tocaram, não foi eterno, foi na verdade estranho. Não combinamos muito bem no beijo e nem na vida, pra falar a verdade. Ela gostava da cidade e eu vivia escondido, explorando florestas por aí. Ela amava o rock, e eu o shot. Ela não comia chocolate preto, só branco. Eu comia de tudo, não tinha frescura. Quando nossas bocas se tocaram, elas não se encontraram muito bem, demonstrando na carne a diferença entre nossas almas. Foi o melhor beijo da minha vida.

Namoramos por três eternos meses. Ela do meu lado, na cama, olhava com seus olhos profundos. "Eu gostaria que isso fosse eterno" dizia ela depois de um orgasmo. E eu, exausto, dormia. Dormia em seus braços quentinhos e me sentia seguro como nunca. Sentia-me livre de quaisquer amarras, de qualquer fingimento, nos seus braços eu era eu, apenas eu. Eternamente eu.

Ela morreu. Um dia um cara bêbado pegou o carro de um amigo e acertou-a enquanto atravessava a rua. E em um instante ela se foi para sempre, sem nem dizer um tchau e até logo. O eterno havia acabado para sempre e eu morri junto com ela.

Desculpe pela mudança abrupta no modo de escrever, mas foi assim que se passou em minha mente. Ela morreu, simplesmente assim.

"Você tem de esquecê-la",
Ela não gostaria de te ver triste",
"Era só uma namoradinha",
"Homem não chora",
"Quem mandou ela não prestar atenção",
"Se tivesse em casa não teria sido atropelada"
"Eu te entendo, meu filho",
"Meus pêsames",
"Infelizmente, nada é eterno"

E eu pensei comigo e parei por um momento. Eterno. O que é o eterno? O que seria o eterno senão a infinita soma de pequenos, infinitos, infinitesimais e eternos estarmos juntos. Quantos segundos há em um minuto, quantos centésimos há em um segundo, quantos milésimos há em um centésimos? Quantas infinitas divisõeszinhas existem em uma fração de tempo. Infinitas. Infinitesimais. Eternas.

O eterno é feito de eternos. Eternamente dançando entre si e formando o tempo, que passa gentilmente entre nossas existências.

Ela dizia que queria estar ali eternamente e esteve eternamente. Namoramos por três meses, que foram eternos. Cada beijo durou eternos pedaços infinitamente somados de tempo. Seja para formar um segundo, um minuto ou três meses.

Sinto sua falta. Sinto tanto. Mas sei que estivemos e estaremos juntos eternamente.



Segredos de Liquidificador - Diego William Ferreira


quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Tampouco Naufragado

      

    Em uma única semana eu realizei a proeza de ser indagado pela mesma pergunta quatro vezes, por quatro pessoas totalmente diferentes e não interligadas. Elas certamente anteciparam meu natal em família com a pergunta chave dos tios e tias em eventos desse tipo. Já sabe a pergunta? Não, não é a do pavê. Aliás, eu adoro a do pavê, vou ficar pra tiozão chato mesmo... A pergunta foi a seguinte: “Por que você não namora?” E eu me surpreendi ao perceber a pouco que eu respondi quatro vezes de maneiras completamente distintas, mas todas com sinceridade. Maldito esse meu coração que prefere ser uma metamorfose ambulante a ter aquela velha opinião formada sobre tudo.
        Na real mesmo, eu acho bom essa inconstância dos nossos egos, mas hoje eu queria falar de amor. Parece que a cada dia que passa o amor morre nessa nossa geração, é cada vez mais difícil encontrar quem preze pelo clássico, pelo clichê. O amor virou démodé para a sociedade moderna. Eu não namoro por que eu estou bem sozinho, por que eu não encontrei quem valha a pena dividir minhas particularidades, aliás, eu não encontrei alguém que eu sinta vontade de dividir qualquer coisa. Eu não estou caçando aquela pessoa que vai me transbordar, até por que eu já procurei demais e achei várias pessoas erradas que me deixaram infinitas cicatrizes pelo caminho, mas eu quero encontrá-la sim, por que eu ainda acredito. Não sou mais idiota, nem me apaixono por qualquer sorriso bonito, isso não é ser descrente, uma boa dose de experiência faz bem a essa altura.
        Li uma frase da Simone de Beauvoir maravilhosa sobre o tema que diz “Renunciar ao amor parecia-me tão insensato como desinteressarmo-nos da saúde porque acreditamos na eternidade.” E de fato eu jamais renunciarei àquilo que me move.
        Há tempos não sei o que é sentir amor de verdade, criei tantas barreiras que temo de repente ter ficado imune ao sentimento quando for a hora de encontra-lo de fato. Mas tem essa uma garota (sempre tem uma), que me faz o olhar parar por aqueles segundos a mais, sabe como é? Eu nem a conheço direito. Ela é uma desconhecida praticamente, mas algo nela me seduz de tal forma que todas as minhas defesas caem, ela definitivamente desativa meu firewall por completo, e eu juro que não achei uma metáfora melhor, desculpa. Enfim, ela tem aqueles olhos profundos, cheios de mistério, cheios de “sim, vamos nos aventurar”, ousaria até citar a referência do meu livro predileto, os “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”. Ela também tem um sorriso perfeitamente simétrico, os lábios cheios de uma sensualidade que me parece irreal, ela sorri e as maças da bochecha ficam marcadas tão perfeitamente que a única palavra que me vem a mente é ‘fofo’ e eu morderia aquelas bochechas, com certeza. Além do mais ela tem aqueles longos cabelos morenos, que descem perfeitamente até a cintura como se ela tivesse um esboço antes de ser feita que foi apagado e refeito um milhão de vezes até que cada fio fique perfeitamente alinhado a sensualidade que esbanja aquela mulher. Faltou algo? Ah sim, o corpo, uma palavra, maravilhoso. Ela tem aquelas cinco tatuagens estratégicas que impulsionam o meu desejo a níveis tão anormais que eu fico na expectativa de que a cada uma que eu passo a conhecer passe a ser um passo em direção a um sonho. Se eu fosse descrever esteticamente a mulher perfeita, ela sairia basicamente como essa garota, só que ruiva. Mas se você me perguntar o que menos importa numa mulher certamente eu vou lhe dizer que é a cor da tinta que ela compra na farmácia pra passar no cabelo.
        Ela é tão magnifica que eu colocaria uma foto dela aqui só pra vocês todos concordarem comigo. Mas ela tem aquele ar de mulher bem resolvida, livre, que não quer saber de nada sério, que curte uma boa festa, que ama dançar até o sol nascer. E eu admiro pessoas assim. Inclusive sempre me pego pensando, quantos não devem idolatrá-la por ai, e por que eu seria diferente? A minha barba nem é tão bonita assim. A questão é que eu sempre quis ser diferente, enquanto todos chamam de linda da boca pra fora eu posso aqui imortaliza-la num texto sincero. Mas então eu penso: dizer pra uma pessoa dessas que ela é especial dessa forma em tempos como esse é como dizer “fuja de medo daqui por que eu quero te amar, casar e ter filhos”. Exageros a parte, mas bem. Então eu nunca disse, eu nunca digo. E já se passaram tantos meses, e de verdade foi uma das únicas mulheres que despertaram um interesse real em mim, não estou dizendo que me apaixonei, mas se tivesse certamente seria por ela, pois ninguém mais consegue dentro da minha cabeça ser tão magnifica assim. Por isso eu não namoro...
        Talvez ela leia, talvez ela goste, muito certamente ela desapareça, mas eu decidi escrever. Primeiro por que eu me senti obrigado a explicitar o porquê raios um cara tão “fofo e lindo que escreve poesia com o cotidiano” não namora. E segundo por que já fazem tantos meses que eu sinto que já perdi as minhas chances, então ao menos eu quero ser cordial, cavalheiro e como sempre honrar as minhas promessas como escritor e homem, escrevendo em linhas de sinceridade.
         
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terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Segredos de Liquidificador




- Ligue o rádio - disse ela - Ligue bem alto para que eu possa gritar o que estou sentindo.

- O rádio está quebrado - disse ele - Liguei no 220V, mas era 110V.

- Você não está entendendo!? - gritou ela - Eu preciso gritar tudo que tem aqui dentro, mas moramos nessa kit net tão pequena que se eu fizer isso, todos vão saber.

- E qual o problema das pessoas saberem de seus sentimentos? Às vezes nossos mais profundos segredos são partilhados pelas pessoas à nossa volta, e ficamos sofrendo à toa tentando escondê-los - estranhou ele, ainda não entendendo o que ela queria dizer.

- Pare de enrolação e ligue qualquer coisa aí que faça barulho - disse ela com cara de raiva, franzindo o lábio como só ela fazia quando estava impaciente.

Ele deu um sorriso de canto de boca.

- Você é maluca - disse ele - Não há nada aqui que faça barulho, nada que possa mexer com nossa rotina e com nossos corações. Tudo está no seu lugar.

Ela desesperou-se. 

Ligou o microondas, mas o "vruuuuuum" não era alto o bastante para que ela enchesse os pulmões e gritasse, sem que ninguém pudesse ouví-la. 

Ligou a TV no volume mais alto, mas ainda assim estava baixo demais.

O que ela tinha a dizer era especial demais, precisava de algo que fizesse um barulhão, assim poderia gritar sem que ninguém pudesse ouvir.

Gritar para ninguém ouvir. Fazemos isso com mais frequência do que deveríamos.

Ela desligou a TV, aquela receita de bolo de cenoura da Ana Maria Braga estava dando fome.

Tentou ligar o rádio de novo.

Ligou o secador de cabelos (daqueles com nano íons de prata - ou sei lá o quê que eles inventaram um nome para vender mais).

Ligou o chuveiro, porém ele não fez barulho nos decibéis que ela desejava (além disso, acabou molhando a roupa com a explosão de água).

Ele riu vendo seu desespero. O que teria ela para dizer - gritar - sem que ninguém ouvisse?

Ele aproximou-se do liquidificador e ligou-o. Ela abriu um sorriso de orelha a orelha, chegou perto dele e tascou-lhe um beijo na boca. E não era beijinho, era beijão. De língua mesmo, pode acreditar. Demoraram-se, mas quando finalmente acabaram ela gritou.

Gritou sei lá o quê, pois o liquidificador era alto demais e ele não pôde ouvir. Ela tentou gritar de novo, mas ele não conseguia entender. Na terceira tentativa, ele desligou o liquidificador, mas ela não percebeu.

Encheu os pulmões e gritou o mais alto que pôde, em alto e bom som:

- EU TE AMO!!!!!!!!!!!!

Ela ficou vermelha e ele mais vermelho ainda. De todas as kitnets ao redor as pessoas gritaram e bateram palmas. O som voou pelos ares e atingiu os prédios vizinhos, alavancando uma enxurrada de palmas e gritos de todo o bairro.

Ela ficou vermelha de raiva, e ele de felicidade.

Ela ia gritar de novo (desse vez para xingá-lo), porém ele chegou perto, agarrou-lhe os cabelos ruivos e deu-lhe um beijo na boca, ainda mais quente que o primeiro.

- EU TE AMO TAMBÉM!!!!!!!! - gritou ele, ainda mais alto.

As palmas voltaram e o bairro inteiro aplaudiu. Ela sorriu lindamente e disse:

- É, você tem razão, o amor não deve mesmo ser escondido debaixo de um turbilhão.




Eterno Retorno






            Tive que começar a escrever esse texto por que são duas horas da madrugada e eu não consigo dormir de forma alguma. Estou há meses fingindo que estou sendo sincero sobre o que eu escrevo, mas é uma mentira que eu conto para mim mesmo repetidamente todos os dias quando acordo. O peito está pesado, o passado está me puxando de volta e o futuro parece tão incerto e inconsistente que chega a me dar calafrios de medo. Eu estou tão cansado do estereótipo feliz que sou obrigado a sustentar em prol dos outros, de ter que sorrir sem vontade, de ter que se sentir privilegiado sem poder achar defeitos. Estou cansado, cansado de não poder ter meus fantasmas, meus medos e minhas inseguranças. Estou cansado de não poder ser frágil, de ter que esconder tudo dentro de mim por causa do medo das pessoas que me rodeiam de achar que eu vou entrar em colapso, que eu vou cometer suicídio, que eu vou praticar um homicídio, que eu vou cair em depressão profunda.

            A noticia para essas pessoas é que eu já estou colapsado e em depressão há meses. Tenho que ser um ótimo ator com essa minha eminencia natural de estar constantemente em estado depressivo. E é impressionante como isso machuca minha vida, minha autoestima. Incrível como meu particular pessoal-amoroso tem tanto poder sobre quem eu sou, sobre a intensidade dos sorrisos que eu dou sábado a noite. E mesmo sabendo que a felicidade jamais estará em outra pessoa além de mim mesmo, eu deito a noite olhando para o céu e me pergunto onde estará ela, olhando para o mesmo céu talvez, mas tão distante dali.

            Me lembro que há seis meses atrás escrevi um texto dizendo que jamais voltaria a escrever sobre você, pois bem, eu menti. Me surpreendi depois de todo esse tempo em perceber que nada mais que sai de mim é totalmente sincero, tive essa revelação hoje lembrando de você, em como a gente brincou com o destino e se machucou feio. Preciso ser sincero de novo, falar sobre você, sobre como você me fez desacreditar no amor desde que você partiu daqui. Tem sido difícil, cada dia, as noites se arrastam, mas nada parece me alegrar de verdade. Eu saí com tantas pessoas, beijei algumas pessoas maravilhosas, pessoas inteligentes. Passei domingos vendo filmes de casalzinho com mulheres carinhosas, passei sábados malucos em festas regadas a drogas e álcool curtindo a vida como um maluco suicida, beijei paixões platônicas de anos atrás em shows das minhas bandas favoritas ao som das minhas musicas prediletas. Mas mesmo assim nada preenche aquele vazio que você deixou quando foi embora.

            Tenho a sensação que nunca vou encontrar alguém como você, que transborde a minha existência com um simples olhar. Eu já tive infinitos casos e acasos da vida, já cai e levantei de sete relacionamentos sérios totalmente distintos, já entrei em depressão por amor (não na forma poética, na forma psicológica mesmo, e física, até mental) e mesmo com toda a bagagem eu digo que nada foi igual a você. A gente teve um nada, uma paixão rápida e destruidora, você nem chegou a entrar na minha vida, mas o estragado foi nuclear. Me lembro de ter atravessado a cidade em busca de presentes que poderiam caber na sua cesta de pascoa, e um deles foi aquele cachorro de pelúcia fofinho que eu apelidei com o seu sobrenome, pois ele seria seu filho a partir de então. Lembro de ter escrito uma carta onde na verdade o escritor era o cachorro, Billy Ribeiro,  que dizia que queria adotá-la como dona e tudo mais. Lembro de ter saído correndo de Guaratinguetá a São José dos Campos para te entregar essa cesta na pascoa antes de você viajar para Minas, e com a pressa esqueci os chocolates em Guará e fiz uma via sacra em São José montando a cesta inteira de novo. Lembro que cheguei em casa desesperado “Mãe, me empresta o carro agora! É urgente!” e sair alucinado para ter aqueles infinitos dez minutos com você. Lembro do seu rosto feliz, de ver sua cara de quem não sabia mais qual era a sensação de ser tão amada assim. Mas lembro principalmente de você se negando a ficar com o Billy, pois você não podia entrar em casa com uma pelúcia, sua mãe poderia ver, seu namorado poderia descobrir. Nosso sonho era o impossível que eu faria de tudo para se tornar real. Você deixou comigo o Billy, e nunca mais veio buscá-lo, e mesmo depois de sumir da minha vida eu fiquei encarando ele em cima do meu guarda roupa pegando poeira, e era triste, muito triste. Por sorte minha melhor amiga também tinha o sobrenome Ribeiro, e eu dei o Billy de aniversário para ela, está em boas mãos agora.

            Ter perdido você me matou lentamente durante todos esses meses. Saber que eu usei tudo de mim por você. Fiz as loucuras que te deixavam desacreditada de que podiam ser reais. Fiz todo amor que você conhecia parecer uma velha lembrança de afeto. Eu usei toda minha experiência, todo meu aprendizado, todo meu cavalheirismo e amor para te fazer acreditar que era comigo que você deveria estar passando todos os dias da sua vida até a eternidade. Mas mesmo assim eu perdi, e eu sei que eu era melhor que ele, eu sei que minhas serenatas te acalmavam a alma, eu sei que só eu ficaria do teu lado nos conflitos que você tinha com a sua mãe e eu sei até que o sexo era melhor do que todos seus três anos de namoro. E eu sei não por que eu sou soberbo e me acho pra caralho, mas por que você me falou. Lembra? Ainda ecoa na minha cabeça quando você dizia que eu era o cara mais perfeito que podia existir. Que ninguém era capaz de fazer as coisas que eu fazia por você, que era um sonho, que eu era a única coisa que te fazia sorrir quando a sua vida parecia um pesadelo. Mas mesmo assim você foi embora, você ficou com ele, no final o amor apontou para outro lado, e mesmo que não faça sentido algum, eu entendo, eu entendo por que eu sei que o amor não mede o próprio amor, ele é adimensional, improvável e indecifrável, e mesmo que ele seja um babaca você possivelmente passara a vida ao lado dele.

            Espero que você seja feliz, mesmo tendo me destruído, me humilhado, me deixado para trás da maneira mais covarde possível, de ter me enganado, me usado, me torturado e pisado no meu coração. Eu espero que você possa sorrir todos os dias. São seis meses e eu ainda tenho lampejos sobre você, não sei por onde você anda, não temos amigos em comum, fomos bloqueados de todas as formas de comunicações possíveis, eu realmente vivi sem você todo esse tempo, mas nada mais parece ser sincero, e eu precisava me abrir, por que eu ainda sinto que você vai aparecer na porta da minha casa daqui cinco anos dizendo que fez a maior cagada da sua vida. E eu já me estapeio sabendo que eu não vou ser capaz de mandar você a merda e nunca mais voltar até mim, por que você foi única, e eu espero que eu esteja errado, por que eu não quero viver a vida sabendo que nunca mais vou encontrar alguém que me dê o que você me deu, sabendo que o amor que mais me cativou foi o que mais me destruiu.


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sexta-feira, 28 de novembro de 2014

O (a)mar

                                 

Eu preciso ir embora. Não posso continuar.
O meu barco estava ancorado e agora as tuas palavras me obrigam a partir deste lugar tão familiar e assustador ao mesmo tempo.
Hoje eu pulei do barco e aquelas nossas canções me engoliram como ondas destemidas
Eu prometi a mim mesma que não permitiria mais me afogar nessa tempestade de conflitos que há dentro dos teus olhos profundos.
Profundos como o amar ainda presente nas minhas terras desertas; nas minhas terras interditadas.
Eu desaprendi a nadar, acredite!
E as gotas das tuas águas não se envergonham ou empalidecem ao invadir e deixar os meus olhos marejados.
Eu, que antes era o teu próprio cais, hoje sou apenas uma simples folha que nada sozinha procurando por abrigo e fugindo desse caos.
Esse mar não cabe dentro de mim e transborda destruindo toda essa cidade de papel.
Ele é tão intenso que eu já nem sei mais se uso as metáforas ou sou usada por elas ao ousar em nadar dentro dessas águas tão turvas, tão tuas.
Acredito que nesse momento as metáforas me  escrevem
e esse mar se constitui apenas como o meu eu poluído
que ainda teima em habitar um ser vivo,
Você!

Amanda Cavalcanti

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Por que não eu?


Trilha: Adele - Someone Like you
https://www.youtube.com/watch?v=hLQl3WQQoQ0


            As chaves estavam em cima do criado-mudo, e as janelas abertas deixavam soar a sinfonia da brisa que cruzava o apartamento vazio. A Tv ligada bem baixinho cochichava um coro ao fundo, junto com o som das lágrimas pesadas que caíam ao chão do meu quarto. Cada gota parecia que iria derrubar o prédio, ou ao menos furaria o chão em um buraco grande o suficiente para eu me enterrar e não sair mais dali. Você me olhava estática, sem saber o que fazer, mas no fundo estava mais certa do que nunca.

            E eu lembro que só eu conseguia tirar seu sorriso com as minhas piadas bobas no happy hour de sexta à noite. Só eu te acordava 6:59, antes do despertador tocar com uma mensagem de bom dia. Só eu olhava para você quando saia de casa e elogiava a sua blusinha combinando com seu brinco novo. Só eu me divertia um sábado inteiro fazendo compras no shopping com você, só eu era feliz em ser seu estilista particular. Eu me recordo que só eu tinha o dom de levantar sua cabeça quando cabisbaixa e te beijar do nada sabendo que você precisava de uma força. Só eu entendia seus problemas com sua mãe e te apoiava em cada decisão louca que você tomava, mesmo quando viesse a se arrepender completamente.

            Eu chorava cada lágrima ali, sentado na beira da minha cama, olhando para você por que eu estava certo de que só eu sabia temperar a sua salada do jeito que você gostava, só eu conseguia cantar para você a noite, enquanto você deitada no peito tentava dormir depois de um dia difícil, só eu sabia fazer aquele cafuné que te dava calafrios e te fazia encolher toda debaixo do edredom. Só eu sabia escolher um bom filme e fazer uma excelente pipoca com manteiga de micro-ondas para curtimos um sábado a noite chuvoso. Era triste pensar que apenas eu era capaz de apertar você forte num abraço, estralando suas costas e te rodando no ar todo dia quando te encontrava. Só eu repetia dez vezes numa mesma noite quão linda você estava, segurando seu rosto e beijando a sua testa. Só eu podia te proteger e te fazer sentir segura quando você tinha medo e achava que o mundo inteiro estava desabando ao seu redor.

            Eu balançava a cabeça em negação, sem poder acreditar, por que eu sabia que só em mim você podia confiar para ligar as três da madrugada dizendo que queria largar seu emprego. Só eu dizia a você que tudo ia ficar bem quando você perdeu de fato o emprego. Só eu passaria dias em claro te ajudando a estudar para passar em um bom vestibular, só eu passaria horas com enorme paciência te ensinando a tocar violão. Apenas eu saberia pelo seu humor em qual fast food você gostaria de comer na infindável praça de alimentação do shopping. Me desesperava em perceber que só eu te abraçaria quando você tivesse pesadelos a noite. Só eu colocaria meu pé no seu pé gelado debaixo do edredom para te esquentar nas madrugadas frias.

            Eu tentava me desvincular de tudo isso, mas as memórias não paravam de subir a tona e me lembrar de que só eu fui capaz de te comprar rosas no dia das mulheres, de te dar vários chocolates quando você dizia que precisava parar de comer besteiras, e eu dizia que você sempre seria perfeita. Só eu diria com sinceridade o quão gostosa você era mesmo que você se achasse magrela e estivesse complexada com seu peso, só eu seria feliz com você mesmo com todos os seus defeitos e qualidades, pois era exatamente assim que eu sempre te amaria. Só eu passearia o dedo pelas suas tatuagens como se estivesse redesenhando elas, só eu te faria cosquinhas quando você estivesse brava comigo dizendo que iria me matar. Só eu bagunçaria seu cabelo e diria que agora sim você está muito mais linda e sensual. Só eu toparia as sacanagens mais loucas que nós temos em comum. Só eu, e apenas eu, escreveria esses textos enormes dizendo para o mundo inteiro o quão você era importante no meu mundo.


            E você abaixou a cabeça desviando o olhar, por que você não esperava que eu tivesse uma resposta tão boa, ainda mais uma que fosse tão verdadeira. E então suas lágrimas também tocaram o chão do meu quarto, e mesmo assim você me deu aquele olhar frio, e eu já sabia como seria, por que só eu te conhecia tão bem e melhor do que você mesma. E mesmo que você jamais tenha dito eu sabia que existia um outro alguém, e você antes de sair disse “me desculpe”, e pegou as chaves em cima do criado mudo. Antes de sair, como de costume, fechou as janelas e desligou a Tv. Eu nunca mais te veria, o silencio gritava no vazio do meu apartamento, me recusei a acreditar e liguei a Tv, abri as janelas e joguei minhas chaves no criado mudo. Deitei mais uma vez na cama e fechei os olhos, e depois de muito pensar descobri enfim algo que eu não era capaz de saber sobre você...

              Entender o porquê você jogou tudo fora quando tudo o que eu mais queria era paz... Talvez um cachorro, uns dois filhos e uma família ao seu lado.


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quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Bruna



Antônio nasceu no sertão de Piritiba aonde a água não chegava
Vivia e se afogava no sol e na comida que faltava
Pelo trabalho com a enxada, forçado foi a trocar tudo o que sonhava.
De Jenipapo a macaxeira, cajá, e três pés de guataíba desfrutava.
Tinha um fiel amigo, Tomás, que por nada não o abandonava.
Antônio não folgava sua angústia de natureza escrava,
E da vida não esperava, cabisbaixo apenas caminhava.
Pai e mãe eram um eterno fardo que o abalava
E quando criou coragem, percebeu que na estrada já estava.
Abandou tudo que tinha por aquilo que acreditava
Julgou que nada que tinha até então amava
Foi até a cidade grande, um sonho ele buscava.

Chegou cansado, mas impressionado e com um sorriso pueril.
Não demorou muito para desvendar um ambiente inteiramente hostil
Logo não havia mais significado palavras como bondade.
E na selva de pedra traçou seu futuro com muita dificuldade.
Em centelhas de prosperidade chegou àquela carta de má caligrafia.
Sua mãe há alguns anos esquecida, falecia e se despedia.
Antônio era orgulhoso e se recusou a olhar para trás
Havia tomado à decisão e nem sua família lhe interessava mais.
Lutou com aquilo por um ou dois anos até seu pai partir
Algo dentro dele se perdia, mas ele não iria se permitir.
Tomás assistia ao amigo e sempre dizia “pobre rapaz esse Antônio”
E não demorou muito até resgatar na memória toda sua adolescência
Em poucos dias entrou em completa e irreversível abstinência

O que merece alguém que não está presente no enterro dos próprios pais?
Culpava-se e sentia que poderia ter sido alguém melhor e feito muito mais
Trancou-se dentro de si mesmo e perdeu a saúde e o brilho e muito mais além
Tinha pesadelos a noite do dia em que morreria e em seu funeral não haveria ninguém.
Parecia que a vida não fazia mais sentido, nem se tivesse uma imensa fortuna.
E foi então, que depois de muitas lágrimas de desespero conheceu Bruna.

A prepotência dentro dele foi paulatinamente apagada
E de repente o amor em Antônio fez morada.
A moça de sorriso jovial desfilava como sua namorada
E até quem o via na rua sabia que havia encontrado ela
Era um amor de abrir sorrisos, horizontes, portas e janelas.
Falando em portas, ela vestia um lindo vestido de casamento.
Lagrimas apareceram nos olhos de Tomás naquele momento.
E falando em janelas, alugaram um apartamento com uma bela vista.
Eram pobres, mas eram felizes, não havia mais desejos em sua lista.
E falando em horizonte, alguns anos passaram como de casual.
E entrava a moça pela porta com a notícia de um câncer terminal.

Falando em sorrisos, eles foram perdendo nos rostos comprimento.
E do impossível Antônio faria por mais algum ínfimo tempo.
E de verdade, nada descreve a dor da partida e todo esse sofrimento.
Quando Bruna se foi o lamento, o último depoimento e o seguimento.
O seguimento de algo que parecia não haver fundamento.
Tomás dizia “pobre rapaz esse Antônio, perdeu tudo que tinha.”
É assim que a vida se perdeu de novo, e assim que ela caminha.
Algo se fechou naquele coração e mesmo assim continuou a jornada.
Antônio faleceu muitos anos depois na sua humilde e precária casa.
Era madrugada, os galos cantavam e uma vida não existia mais ali.
Tomás dizia “pobre rapaz esse Antônio, viveu dores incalculáveis por aqui.”
Mas estava errado, o sorriso desfilava no rosto de Antônio em seu funeral.
Morrera sorrindo e incrivelmente feliz por saber que havia vivenciado
Testemunhado e acreditado em uma história pura de amor.
Foi predestinado, e fazia dele um indivíduo melhor, um alguém.
Um alguém que mesmo com seus erros não era uma má pessoa ou um vagabundo.
E a prova disso se levantava ao fundo do salão e o cruzava naquele segundo.
O jovem debruçou-se no caixão e com um sorriso em lágrimas disse.

“Foi o melhor pai do mundo”

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

A Ruiva



"Soulstripper - A Ruiva"

( http://www.youtube.com/watch?v=MUifGCXuLNY )


            Camiseta polo vermelha, calça jeans rasgada, um Adidas branco no pé e uma barba por fazer. Entrou pela porta do bar naquela sexta feira a noite como uma rotina banal que esperava seguir religiosamente até o último dia da sua vida. Pediu uma Heineken bem gelada e ficou ali apreciando o ambiente. O Mcgee’s era um bem pacato e minúsculo PUB no centro da cidade, estava parcialmente cheio, meia luz, Led Zeppelin IV ao fundo e cheiro de Philly Cheesesteak no ar. Nessa varredura visual corriqueira ele esbarrou o olhar em uma garota que se sentava sozinha em uma das mesas do bar. “De novo você?” pensou suspirando.
            Na mesa uma linda mulher, com os olhos verdes cheios de mistério, cabelos longos cor de fogo, intensificados pela iluminação do bar, e um vestido básico, preto, cheio de sensualidade encaixado perfeitamente no corpo daquela desconhecida. Ela era realmente bonita e ele já a havia visto uma dezena de vezes naquele mesmo lugar. Era sempre igual, a beleza intimida as pessoas, mas hoje seria diferente, era uma confiança misteriosa agindo dentro do rapaz, ou simplesmente a conformidade de que não tinha mais nada a perder na sua vida social fracassada. Levantou o copo como quem faz um brinde. A moça viu o gesto, ficou observando, e só quando ele abriu um sorriso amigável ela sorriu e levantou também seu copo, fazendo com que ele se aproximasse, enfim.
            A conversa foi rolando de uma naturalidade não muito comum ao que ele estava acostumado, assim a noite caiu em instantes e ele se despediu da ruiva. Por um momento encarou seu decote tão involuntariamente que quase foi embora correndo com medo dela ter notado, o que ele não sabia é que ela havia realmente notado e havia dado risada da situação, achou uma graça a timidez do rapaz. E aquelas conversas se repetiram algumas vezes, quando nessa última semana do mês de setembro ele se despediu mais uma vez da linda mulher e notou no caminho de volta que havia perdido as chaves de casa. Voltou para o bar.
            Quando entrou pela porta a ruiva ainda estava lá, só que não mais sozinha. Um homem sentava onde antes ele havia se acomodado, e ambos riam de forma muito intima, ou ao menos era o que ele enxergava da situação. Sem alardes achou sua chave e foi embora sem se incomodar com a circunstância. Dormiu pensativo, estava prestes a perder não só a garota, mas a oportunidade de provar para si mesmo que toda aquela timidez era deveras um fardo a ser deixado para trás. Acordou determinado.
            Sentado ali ele ria de tudo e contava histórias que entretinham muito a moça dos cabelos vermelhos, ele sabia que naquela noite deveria tomar uma atitude, um convite, um beijo, uma proposta qualquer, uma aventura. Estava irredutível a esses pensamentos até que, por um instante, desviou o olhar do sorriso magnifico que tinha aquela mulher (era hipnotizante de uma forma assustadora) e viu na mesa detrás um cara tomando um café. Ele travou instantaneamente, era o cara do dia anterior, estava tão perto da sua mesa que era capaz de estar ouvindo cada palavra da conversa, ficou sem saber como agir, de repente toda a timidez voltou. Não conseguiu se concentrar e foi embora mais uma vez, só que dessa vez ficou observando do lado de fora do bar e registrou o momento em que o homem então se levantou e foi se sentar com a ruiva. Sentiu-se traído, se sentiu um tolo por um instante. Uma raiva momentânea se apossou dele e passou logo em seguida. “Quantas vezes será que aquilo já havia se repetido?” refletia ele aflito. Foi para casa mais uma vez, precisava pensar.
            Não demorou muito para o simples fato da ameaça de perder a garota para outro cara começasse a paulatinamente esmurrar fatos e verdades na cara do rapaz. Estava disposto, mais uma vez, a ganhar aquele jogo perigoso de sedução. Arrumou-se impecavelmente aquele sábado à noite, passou quase uma hora em frente ao espelho ajeitando seu cabelo, sabia que ela estaria lá, ela sempre estava, ele implorava que ela estivesse lá por essa última vez.
            Entrou no bar, e pra surpresa dele ela estava lá, linda como sempre, sentada na mesma mesa, com o mesmo copo de cerveja na mão, o sorriso intacto reluzia um brilho único e encantador que infelizmente lhe dava náuseas naquela noite em específico, pois o cara do seu pesadelo também estava lá, só que agora já sentado à mesa com a ruiva. Ele ficou ali imóvel, encostado no balcão, aguardando algum sinal, buscando uma saída praquele pesadelo. O cara olhou da mesa e deu um sorriso sarcástico, o bastardo sabia que estava sendo um completo filho da puta, e continuou ali conversando com a ruiva, até que se levantou, pegou a garota pela mão e a levou embora. O rapaz continuou encostado no balcão sem reação, não podia fazer nada, sabia que a culpa era dele, havia estragado tudo de novo, pediu outra cerveja.
            Eu particularmente senti um pouco de dó sim, mas não sei bem dizer, talvez seja esse negócio meu de ser seduzido por desafios, quando é mais difícil parece tão mais gostoso, ou talvez eu só seja mais um filho da puta no mundo. De qualquer forma essa ruiva é até mais maravilhosa agora deitada na minha cama, sem roupa, envolvida no meu lençol, perdida em algum sonho longe da minha realidade. Ah como o tempo voa.
            “O que você tá fazendo ai no computador?”
            “Um novo texto sobre a vida, nada de mais.”
Ela sorriu encantadoramente e o cheiro de café já está tomando conta da casa.
Bom, me desculpe, mas tenho que voltar para cama, é domingo.

Com licença.

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quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Não era amor.



Descia pelo corpo suavemente com aumentos graduais de temperatura.
Assimilava-se a paixão, mas não tinha cores em tons alegres.
Vinha sorrateira sem pedir licença, mas desaparecia em compassos contados de tempo.
Disparava o coração, mas negava a se aceitar dentro do jogo.
Era uma bate e volta sem fim de um preludio pra uma narrativa que jamais aconteceria.
Tinha o ciúme de um por do sol infinito carregado da unanimidade exclusiva de uma manhã fria sem ventos.
Era quase como o engolir seco do medo em um monologo importante com validade significativa.
Tinha asas, mas não voava, vinha de longe e fingia que ficava, mas na manhã seguinte partia.
Era conclusão e hora era dúvida de novo.
Era um desapego constante de estar aprisionado ali.
Tinha cheiro de porto seguro, mas seduzia como um adeus.
Brincava de sedução e traia os olhos logo então.
Se me tinha eu não sabia.
Se for palavra eu deixei de dizer.
Quando é sol, traz paz, quando frio conforto.
Repudia bons momentos com toques especiais de inocência, e quando incendeia leva pra longe o que eu busco toda noite no meu travesseiro, deixar de sonhar aquele mesmo sonho todas as noites, numa angustia sem fim de acordar amanhã sem ter com o que me preocupar. Escrevendo linhas vazias, por falta de amor, por falta de você.

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Obrigado e volte sempre :)

domingo, 24 de agosto de 2014

A Melhor Grife do Mundo



V   ersace
I     ódice
S    amsung
T    oyota
A   didas
-
S    ony
E    rmenegildo Zegna

D   olce & Gabbana
E    llus

A   bercrombie & Fitch
M   cDonalds
O   akley
R   olls Royce

A   pple

M  arlboro
E   SPN
L   amborghini
H   ering
O   sklen Rio de Janeiro
R   olex

G   ucci
R   eebok
I    BM
F   errari
E   ricsson

Q   atar Airlines
U   nilever
E   mbraer

E   verlast
X   Box One
I    nfiniti
S   mirnoff
T   ommy Hilfiger
E   bay


terça-feira, 19 de agosto de 2014

Efêmera Existência.





                O que torna um momento tão mágico e singular?
            É a brevidade da sua natureza, o simples fato de ser um curto intervalo limitado de tempo em um todo, onde tudo pode acontecer. Por que não é planejado, não está escrito, não foi premeditado. Cheio de surpresa invade nosso corpo desbravando nossos sentimentos mais profundos em uma escala tão atemporal que eu poderia facilmente escrever um livro de quinhentas páginas com cinco segundos da minha vida.
            Eu sempre gostei de quem tem uma boa história pra contar, e boa não significa com finais felizes, mas sim um sorriso no rosto de quem divaga experiências por ai sem embaraços, sempre com o tom da experiência em cada palavra, são boas conversas pra sexta à noite com os amigos no bar, sem dúvida. E isso me lembra duma porção de velhas histórias que já aconteceram comigo. Crônicas da minha vida sobre algumas das almas que cruzarem com a minha deixando uma porção de pontas soltas e laços mal feitos.
            Isso me lembra, particularmente, Erica.

            Cheguei tão cedo sábado na boate da cidade, acreditando que aquela noite seria tão fatal que não haveria mais espaço na pista... Estava vazio, ou realmente era cedo. Sozinho eu encostei-me ao muro e mandei uma mensagem para os amigos que chegariam mais tarde lá. Antes do celular descer das minhas mãos ao bolso do meu jeans rasgado meus olhos cruzaram o dela. Na verdade não, meus olhos cruzaram primeiro com aquela tatuagem super sexy na sua coxa esquerda, que o frio não parecia intimidar, era uma bela coxa com uma tatuagem, mas muito além, era uma linda moça com um sorriso encantador. Fiquei olhando, encarando, de longe apenas com aquela falsa sensação de que o olhar era retribuído, enfim entrei na festa.
            Lamentável ser o primeiro a pisar na pista de dança, sozinho e perdido até então. Já me era tão comum que eu nem lembraria daquela moça se ela não tivesse me abordado cinco minutos depois “oi, você é familiar, a gente se conhece será?” Em vinte e dois anos e alguns quebrados eu achei que isso só acontecesse em filmes. “nossa você é muito familiar também” mentia eu deslavadamente. “deve ter sido daquela festa lá..” definitivamente foi, pensei eu, ironicamente.
            Trocamos algumas palavras próximos ao bar da boate, meus amigos chegaram e visualizando a cena sumiram instantaneamente. Ela que estava com algumas amigas também havia deixado elas na pista, e eu estranhamente gostava daquela química misteriosa que surgia de uma maneira até então inédita. Dançamos, bebemos, sorrisos. Por alguns minutos mais adentro da madrugada eu me peguei silencioso apenas parado ao lado daquela desconhecida, ela ficava ali, parada também, meio olhar em mim, meio olhar para o vazio, aquilo que chamamos de ‘silencio constrangedor’ se a música não estivesse literalmente arrancando meus tímpanos pra fora. Como sempre muito devagar eu conclui: “ela deve querer algo, ninguém fica parado feito idiota do lado de um desconhecido” ainda mais esse último sendo eu “vamos pra outro lugar, tá muito barulhento aqui” disse eu, recebendo o aceno mundial com a cabeça para ‘sim’.
            Meu carro fedia a banana podre, na verdade era da minha vó, mas eu respirava aliviado acreditando que o carro super caro e maneiro compensaria o mau cheiro. A gente até tenta não acreditar nessa de impactos a primeira vista e status sociais, mas bem, fica pra outra hora. O mirante estava lindo, parecia uma passarela para dentro da madrugada estrelada, tendo a lua como protagonista no meu teatro casual.
            Eu por sorte tinha um violão no porta malas, e não adianta pensar que era golpe baixo, realmente estava lá por acidente. E então how deep is your love? eu disse com aquele sorriso libertino. Demos boas risadas ali, paramos de repente e o silencio acariciava nosso momento, dessa vez não constrangedor, mas sim em tom de ternura, que soprava com o vento levemente na minha orelha dizendo “beije logo essa mulé homi de deus”, e rindo do meu próprio eu-lírico dentro de mim me aproximei lentamente colocando a mão na nuca dela. Os enormes cabelos vermelhos ficaram ali pendurados no ar e nossas bocas quase se tocaram.
            “Algum problema?” eu disse, recuando dez centímetros dos centros de gravidade dos nossos lábios, sim eu meço esse tipo de coisa. “Não...” e quando uma mulher diz não, é sim, quando diz sim pode ser não, ou sim também, ou nada, ou até tudo. “Eu juro que poderia não te beijar hoje e passar o resto da madrugada olhando esse brilho bonito nos seus olhos, mas de verdade eu gostaria muito de te beijar e gostaria também que você me poupasse de tentar adivinhar o que você está tentando não dizer pra mim” Ela sorriu com as palavras, e sim, eu falo coisas bonitas, eu sempre fui uma espécie de poeta ou trovador, meus amigos acham que eu sou gay.
            “A gente nem sabe o nome um do outro... A questão é que eu tava pensando em como esses primeiros momentos são sempre tão mágicos e singulares, tudo devido à brevidade da sua natureza, ao limitado período de tempo em um todo onde tudo pode acontecer de modo tão atemporal que a gente poderia escrever segundos em quinhentas páginas...” Ela filosofava como a mãe dos meus filhos, eu poderia pedi-la em casamento ali mesmo, sem antes mesmo beija-la uma vez. Mas ela continuava falando e eu voltei a prestar atenção “...isso me incomoda, sabe, ter que depois jogar tudo isso fora, sabendo que o tempo vai passar e a realidade vai jogar essas coisas bonitas em uma história cheia de defeitos e imperfeições”
            Ela tinha toda a razão, a magia acabava, durava breve o suficiente para selar o momento e depois se perdia pelo ar com o fim do mistério, do novo, do desconhecido... “vamos fazer assim, tornar essa noite única, amanhã não nos veremos, sem telefones, nomes e nunca mais se encontraremos de novo, só assim daqui cinquenta anos, quando bem velhos a gente vai lembrar disso e de como foi perfeito em cada detalhe, sem que haja a menor chance de se tornar uma lembrança ruim” e terrivelmente aquilo fazia todo o sentido do mundo, eu desviei os olhos pro céu por um instante e pensei “diabos, por que não” e a beijei.
            Escorregava a mão pelo seu rosto e ela me apertava contra seu corpo, a gente quase deitou ali mesmo, mas o sereno havia molhado as madeiras do deck e o frio começava a arrepiar a nossa pele, eu fui dizer “quer ir pra...” e ela completou “MINHA casa.” Meu Deus por que eu não podia casar com aquela desconhecida. A gente chegou lá e meu cérebro de engenheiro até calculou um momento fletor de uma viga que começava a fletir na sala podendo vir a ruir num futuro próximo, mas logo ela estava semi nua e por deus se eu conseguia pensar em mais alguma coisa, abre parênteses para um texto inteiro sobre como ela era maravilhosa, fecha parênteses foi uma noite inesquecível das melhores possíveis.
            Ainda ali na cama dela eu identificava uma falha “como vamos tornar isso imortal se amanhã eu decidir aparecer na porta da sua casa com flores?” Ela sorriu, disse que eu era um fofo e então falou: “Eu me chamo Érica”. Eu fiquei particularmente confuso, e quando percebi, ela me chacoalhava perguntando meu nome. Fiquei tão embebido com aquilo tudo que na manhã seguinte fomos ao shopping almoçar e ao final ela disse “tenho que ir”, e eu em tom casual “ainda não tenho seu número” e ela franziu o rosto mudando de expressão e eu pensei ‘droga, ela realmente não mudou de opinião’. Ainda tentei um “mas se você for embora agora eu vou ver você se afastando e saindo por aquela porta, não é uma boa lembrança” Ela se aproximou carinhosamente, me deu um abraço, “feche os olhos” eu obedeci, ela me beijou ternamente em um momento particular infinito e concluiu “conte até cinco, engenheiro!” e assim feito, abri os olhos, ela não estava mais lá. Olhei todas aquelas pessoas na praça de alimentação, sentei, pedi um sorvete.
            Você deve pensar a uma altura dessas “claro que você foi atrás dela né?” e eu te digo, fui sim, inclusive no dia seguinte, e lá estava a casa dela, com uma placa de aluga-se estampada na janela, vazia.
            Quando consegui respirar de novo fui até lá e não consegui informação alguma sobre ela com o responsável. Passei dias feito espião da Interpol buscando um terrorista perigoso, e nada, só um nome, um primeiro nome “Ana” que estava relacionado a casa antes de ser alugada. Ou seja, ainda por cima seu nome se quer era o que eu achava que fosse. Eu olhava para aquela grafia linda quando ela escreveu “Erica” no meu braço naquela noite e quase apagado depois de alguns banhos eu ainda enamorava aquele ‘E’ bonito e grandioso que parecia relutar a se apagar dentre as outras letras. Foi ai que na dúvida comecei a chamá-la de Efêmera. Fazia todo o sentido.

            Eu relutei contra esse destino por semanas inteiras, escrevi e relatei aos amigos. A lenda da efêmera se tornou popular, e eu me recusava amargamente a acreditar que aquilo poderia ter tido um fim ruim mesmo com toda aquela química entre nós.
            Meses depois, hoje especificamente, eu a encontrei na mesma boate, ela estava linda, e ao me ver desviou claramente o olhar, me evitou e passou batido por mim, torcendo para que eu não a tivesse reconhecido. E então só ai eu percebi o meu erro de não imortalizar aquela história fechando as pontas que eu insistia em deixar soltas em sonhos que jamais se tornariam reais, e assim, deixava mais uma vez a realidade acabar comigo e tudo o que aquele rosto bonito um dia havia simbolizado para mim.
            Vesti meu casaco e fui embora. Não olhei para trás.
            A noite estava linda, como a efêmera existência.

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domingo, 3 de agosto de 2014

"Diz a lenda que trocou suas certezas por alguns sonhos mágicos..."


Quando éramos bem pequenininhos nós enxergávamos tudo no tamanho inversamente proporcional ao nosso. Era tudo grande demais. Era tudo longe demais. Era tudo mágico demais. E nós éramos tão pequenininhos... Onde foi que a gente estacionou a nossa magia? Onde foi que a gente se estendeu e se deixou secar por tanto tempo? O sol já passou, a magia não mais pinga, em que varal ficou aquele aval que dizia que a nossa única regra era ser feliz? Eu me lembro bem, a vida, propriamente dita, era só nossa exceção. Sim, nós tínhamos problemas e não eram só aqueles relacionados à nossa boneca ou a nossa pipa que rasgou. Não, não era. Eu e muitos de vocês crescemos tomando partido da briga dos outros, crescemos no meio de gritos e discussões, pais se separando, família aos cacos, mas mesmo assim, eu me lembro, nós nunca perdemos a esperança e era tão fácil acreditar que tudo ia dar certo no final. Você lembra? Éramos bem pequenininhos e a padaria parecia tão distante e as pessoas tão iluminadas. Quem eram teus heróis e heroínas

Eu também me lembro da liberdade que nós tínhamos, pois mesmo que sentíssemos medo e vergonha, tínhamos um estilo próprio. Só é mexer naquele arquivo morto, naquelas fotografias que revelavam só essência. Nossas roupas chegavam no pescoço, nosso cabelo era em homenagem ao nosso animal de estimação e nossos sorrisos denunciavam aquelas lindas cáries. E agora? Só nos sobrou a vergonha e um álbum no facebook preenchido pelo nosso vazio traduzido em fotografias, que evidenciam só a nossa própria face em várias cópias com roupas distintas, às vezes nem isso...  Afinal o que é ser adulto? O que significa ter responsabilidades? A gente cresce e o "ser" só faz sentido junto ao verbo ter.

Eu me lembro tão bem da primeira vez que uma risada me machucou, eu tinha 12 anos e estava na escola, dois homens foram fazer uma palestra sobre algo que não lembro e um deles me perguntou o que eu queria ser quando crescer, eu falei que iria fazer medicina. Ele riu e com uma voz de deboche disse que eu ia ter que estudar muito... Quantas vezes a gente já não fez isso agora que somos adultos? Quantas vezes não falamos "fulaninha tirou essa nota? Não acredito" ou pior, "nunca imaginei que fulaninho fosse capaz". Nós nos colocamos em uma posição tão superior e achamos que podemos ditar o certo e o errado. Crescer é isso? Isso me torna melhor do que uma criança?

 
Nós éramos espontâneos. Mataram a nossa espontaneidade. Nós éramos livres. Criaram e criamos jaulas invisíveis. Nós éramos gentis. Hoje olhamos para um morador de rua e falamos que ele tem os braços e as pernas e que pode muito bem arrumar um trabalho. Não somos mais capazes de entender que o coração dele pode está despedaçado. Não. Vivemos para ter a maior nota, o melhor elogio, o melhor emprego, queremos a láurea e até argumentamos para sermos vencedores do prêmio que evidencia a pessoa que mais tem problemas. Até nisso queremos ser "os melhores". Mais uma vez eu pergunto, onde foi parar aquele brilho no olhar? 

E eu fico aqui me perguntando: como queremos ser lembrados quando o nosso corpo já não pisar mais nessas terras? porque sim, vamos morrer um dia. O que deixaremos de realmente útil no mundo? Qual o legado que deixaremos para os nossos filhos ou amigos? Quais os motivos que realmente te dariam orgulho ao saber que as pessoas que você ama fecham os olhos e lembram de você? Falando por mim, posso dizer que não quero que sintam orgulho das minhas notas ou títulos, juro que não faço questão disso; não quero que sintam orgulho pelas madrugadas que eu passei estudando, definitivamente quero algo que tenha vida própria. Eu quero é que lembrem do meu sorriso, dos meus dentes escancarados, da minha espontaneidade, na minha fé nas pessoas e no valor imenso que eu dou ao amar e ao amor. Isso sim é um bom legado a se deixar. Por esses motivos eu acredito que vale a pena a nossa breve passagem através dos passos da existência.

Finalizo esse texto com aquela pergunta clichê que faz todo sentido:
"A criança que você foi teria orgulho do adulto que você se tornou?"