quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Segredos bêbados de uma ilusão.



Desviei o olhar levemente descontraído e fixei o com prazer nela. Não me cabe descrições exatas, apenas uma visão simples, masculina e simplória. Estava absurdamente linda e gostosa como sempre. Na minha cabeça só existia a ideia de jogá-la ali mesmo, na minha cama, e possuí-la por horas e horas até que o sol nascesse no dia seguinte e a vida continuasse. Obrigado fui a me conter e contemplar ela olhando nos meus olhos e proferindo aquelas mesmas palavras de anos atrás. Alguma coisa mudou, eu pude perceber, dessa vez apesar de ter parecido sério, algo mudou, eu senti. Ela vai pensar sobre isso, ela vai ler sobre isso, vai se responsabilizar pelos erros, pelo seu dom de me fazer perder a linha, eu sei que vai. Exatamente por isso eu cheguei silenciosamente por trás dela e abracei o seu corpo sedutor, apalpei com malicia a sua bunda e sem vergonha alguma ri como se soubesse a tamanha intimidade que tinha pra fazer aquilo e escapar sem segundas intenções. Ela olhou nos meus olhos e pela primeira vez foi sincera. Em anos não via a sinceridade nos olhos de quem me ensinou a ser dissimulado e relaxado com a vida; viver como se não houvesse amanhã. Foi divertido, o leve teor de álcool bagunçava a minha fortaleza impenetrável e meu escudo foi por agua a baixo, e então eu disse, enfim, tudo que doía na minha alma, meu Deus, como pude me permitir ser tão transparente, nunca pude fazer isso, era quase um lema, uma religião, então contei quantas vezes aquele rebolado sexy e aqueles lábios sedutores me tiraram do sério, quantas vezes eu tive vontade de sequestrá-la dali e leva-la além da onde meus pensamentos podiam imaginar, mas ela sorriu levemente como quem compreende a minha intenção e disse aquela velha e insistente expressão de sempre, onde tudo se resume ao medo de se jogar fora uma grande amizade. Eu então, cansado e levemente emputecido fiz questão de terminar de destruir a situação e resolvi então jogar tudo para o alto. E agora? Se minha amizade você não tem mais, me diga agora qual o seu medo? Ou desculpa. Sejamos sinceros, você não me engana mais, eu estou aqui e você ai se escondendo entre suas indecisões de 15 anos. “agora não é a hora” não fui eu quem disse que não temos mais 15 anos. A vida é agora, o amor não tem hora, então foda-se tudo. Se eu nunca consegui te olhar com olhos de amizade então essa amizade nunca existiu, lide com isso, viva com isso, diga que é mentira. E agora o que você tem a perder? Vou estar aqui, mas como sempre, eu sei, falta coragem, falta caráter pra entender que suas escolhas são sempre as erradas, e se você não sabe escolher eu não vou estar ai pra te segurar, por que pra mim a validade acabou, e se seu amor não é suficiente eu sou obrigado a te deixar ai, acreditando que em algum lugar existiu uma amizade. Vou continuar por aqui, você sabe onde me achar, e espero que você entenda e realmente comesse a viver de verdade a sua vida, por que eu desejo isso a você, por mais que sinta raiva por todas as vezes que pisamos na bola um com outro. Mas é tempo de mudanças, e eu digo adeus pra algo que nunca existiu, amor não é amizade. Desculpa, desculpa, desculpa. Quanto vale nossa história pra você? Guarde esse sentimento ao ler esse texto, é ele que guiara sua resposta sobre a nossa história, e se ela for nunca mais me ver, eu sentirei saudades, por que você sabe, que ao final de tudo, ninguém sentira a sua falta tanto, mas tanto, quanto eu sentirei. Soa até falso um eu te amo, mas fazer o que, suas curvas me tiram do sério. Um grande beijo nessa boca gostosa e boa sorte, seja lá pra onde você siga, my love. 

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Aquela sensação



Sabe aquela sensação?
Aquela sensação gostosa de ter alguém com você.
De ir ao cinema e ter aquela pessoa do lado pra abraçar.
Ver uma cena bonitinha e poder sorrir pra pessoa.
Sabe essa sensação?
De ter alguém pra você segurar forte e se sentir amado.
De ganhar um beijo carinhoso na bochecha sem pedir
De alguém te agarrar por trás com amor e você saber quem é.
Essa sensação.
De ter alguém pra você acordar com beijos de manhã.
Alguém que você possa dizer no ouvido que ama.
Aquela pessoa que você segura o rosto e sorri como quem não precisa de mais nada no mundo
Lembra dessa sensação?
De sentir-se amado por alguém em qualquer momento.
De saber que sempre terá alguém ali pra te ajudar no que precisar.
Aquela pessoa que um simples passeio se torna uma tarde memorável pra toda uma vida.
Sabe essa sensação?
De que serão momentos únicos.
De que você gostaria de fazer isso o resto da vida.
De que essas aventuras loucas poderiam se repetir por dias.
Você sabe como é? Sabe como é sentir isso?
Sentir vontade de pegar alguém no colo.
De deitar e rolar na grama com esse alguém.
De contar as estrelas e falar bobeiras.
Sabe como é?
De rolar no lençol por toda a madrugada.
De acordar com aquele sorriso e aquela voz de sono.
Você sabe do que eu estou falando? Essa sensação de amar, de ter alguém verdadeiro ao seu lado, a sensação de que não há problemas maiores, de que o amor reina, de que você tem alguém pra sempre com você.
Sabe essa sensação, então, estou com saudades de tê-la não só dentro da minha cabeça.

****gostou? CURTA o texto! compartilhe e siga o blog. Obrigado :)

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Luz Oscilante



Há uma luz oscilante lá em cima
Que não para de me seguir
Aonde quer quer que eu vá
E é tão brilhante, que me cega

Há uma luz oscilante lá em cima
E eu sinto que estou afundando
EM alguém que eu não conheço
Por que eu tento fugir de você?

Nas escadas há um pequeno brilho
De fantasmas correndo pelas paredes
O quarto tem bonecas assustadoras
Os porta-retratos não mostram nada

Há uma luz oscilante lá em cima
Que não para de me seguir
Aonde quer quer que eu vá
E é tão brilhante, que me cega

Há uma luz oscilante lá em cima
E eu sinto que estou afundando
EM alguém que eu não conheço
Por que eu tento fugir de você?

Não se esqueça que somos como peixes
Nadando em um pequeno copo com água
Não podemos ver além dos nossos desejos
Mas há um oceano imenso além da areia

domingo, 12 de janeiro de 2014

E se o amor não existisse?


E se o amor não existisse?
Então deveríamos inventá-lo.
Por que algo assim tão bom.
Não pode ser sonho.
Não pode ser coincidência.
Não pode ser imaginação.

E se o amor não existisse?
Então deveríamos procurá-lo,
Nos quatro cantos do planeta,
Até encontrá-lo.
Porque algumas coisas valem a pena,
Serem encontradas.

E se o amor não existisse?
Talvez deveríamos olhar para dentro de nós.
Perceber quem somos,
Sem preconceito.
Pré-conceitos,
Do que deveríamos, ou não, ter sido

E se o amor não existisse?
Deveríamos então criar poemas.
Cem estrofes de descrição.
Encontrar as palavras certas.
E pichar todos os muros por aí.
Ser preso, sim, mas com amor no coração.

E se o amor não existisse?
Deveríamos tirá-lo de uma bolha,
Soltá-lo pelo mundo, deixá-lo livre.
Profundo.
Fazer todo o mundo sentir, enfim,
Que ele existe sim.

Mas o amor não existe.
Ele sempre acaba no final do dia.
Às 00h00 em ponto.
E quando acordamos, temos de inventá-lo,
Todos os dias, recriá-lo, para que não morra,
Nesse turbilhão.

***Gostou? deixa um like ai ;)

De bobos.


Bem no canto dessa boca
Mora um sorriso bobo
Que descansa quase sempre
Se mostra tão pouco

Às vezes, ele surge
E toma o seu rosto
No espaço dos seus lábios
Se faz espaçoso

E por pouco se tem muito
Da bobeira de sorrir
Simples, leve, leva longe
Leva o perto, leva em si

Diz as letras sem sentido
Mas, sentido, quem precisa?
Se por meus bobos ouvidos
A bobeira faz conquista

Quando guarda o tal sorriso
Um sorriso surge em mim
Não tão bobo
Sem motivos, por sorrir.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Crônica: O Velho e o Armazém


            
                O Sr. Benson passava dias e dias vigiando aquele galpão. Acordava cedo, tomava um chá gelado com biscoitos, só o bastante para enganar seu velho estômago, colocava seu uniforme de vigia e atravessava a rua, chegando naquele imenso galpão.
            Sim, ele morava do lado do trabalho e não, ele não gostava daquilo. Apesar de ter sessenta e poucos anos, gostaria de pegar o ônibus, andar pela cidade, ver pessoas, ouvir vozes e sentir cheiros, porém tudo o que fazia era atravessar uma rua esburacada. Ia de casa para o emprego, do emprego para a casa e não saia do lugar. Não que fizesse muita diferença, pois em casa assistia televisão e no trabalho, também.
            Na realidade ele não entendia muito bem o porquê de estar vigiando aquele imenso e vazio armazém. As paredes tinham os rebocos rachados, o piso do chão já havia se soltado há muito tempo e havia teias de aranha por toda parte. E não eram aranhas comuns, eram daquelas bem grandes, tão grandes que parecia ter alguém dando de comer a elas. Além disso, Sr. Benson era o único guarda por ali.
            Aquele armazém erguia-se por de trás das pequeninas casas da vizinhança, como se fosse um imenso monstro de cimento que a qualquer hora iria engolir todos. Mas não havia nada lá, nenhuma entrega, nenhum estoque, entregador, fiscal, pacote, nada. Apenas uma porta imensa de ferro, a qual Sr. Benson nunca abria. Há pelo menos sete anos ele apenas se sentava em sua pequena guarita, bebericava café o dia inteiro e ia para casa, sentar-se em seu sofá velhinho, mas confortável e depois dormir sozinho em sua cama.                  
            Qualquer coisa além disso era uma aventura para ele. Não que ele não gostasse das aventuras, pois adorava mesmo qualquer mudança na sua rotina, porém já estava velho e a osteoporose não o deixava viver como queria. Tinha uma mente jovem em um corpo velho, queria mais do que aquele emprego mixuruca, mas infelizmente era o que tinha. Ou felizmente, porque seu salário de guarda o ajudava a comprar suas coisinhas, o que sua ínfima aposentaria não permitia.
            Há alguns anos um homem misterioso batera na porta da sua casa, convidando-o para ser o guarda daquele armazém. De início o velho rabugento deu com a porta nas fuças do safado, mas o homem insistiu e insistiu e insistiu, até que o Sr. Benson não teve outra alternativa senão aceitar o emprego. O salário era bom, bom até demais, por isso o velho perguntou ao homem o que guardava aquele lugar (o que era um mistério para o povo daquela vizinhança). Desconfiado que só ele, Sr. Benson quis ver tudo, tintim por tintim.
            O homem misterioso riu e abriu a imensa porta de ferro, revelando um galpão sem nada dentro.

- Mas não há nada aí dentro - disse Sr. Benson, irritado com aquele disparate - Está vazio.

- Há uma diferença enorme entre não haver nenhum objeto e estar vazio - disse o homem.

            O velho desconfiou, mas aceitou o emprego, pois de qualquer forma, era um ótimo salário e ele não precisava fazer nada. E foi exatamente o que aconteceu, nada. Em todos os anos em que trabalhou ali, nunca viu nenhuma mudança. Apesar da desconfiança dos seus vizinhos, que diziam que aquele era um lugar assombrado, cheio de demônios, gnomos e outras coisas, ele nunca saiu do emprego. Nunca mais viu o homem misterioso, mas o dinheiro caía religiosamente todo dia primeiro em sua conta no banco, o que o deixava mais do que satisfeito.
            Um dia porém tudo mudou. Tudo. E essa é a história que iremos contar aqui. Não há nada de dragões, perigos imensos, casas voadoras e monstros, não, apenas a vida de um velho. Mas daí você deve estar se perguntando, leitor, por que diabos vou ler isso? Ora, não seja tolo, uma boa história não tem que ter dragões, pois não são os dragões que fazem as histórias, mas sim os heróis que decidem enfrentá-los. E o Sr. Benson era um bom homem, sem dúvidas, porém ele mesmo não acreditava naquilo. Então pare de resmungar, leitor, e leia essa história, talvez você possa aprender um pouquinho. Ou talvez não, quem vai saber.
            Um certo dia, Sr. Benson não sabia muito bem qual, pois todos os dias eram os mesmos, ele ouviu um latido. Woof! Bem na hora em que ele estava voltando para casa.

- Droga - resmungou ele - Um cachorro.

            Ele definitivamente não gostava de cachorros. Desde que seu pinscher preto Toby havia morrido atropelado, quando tinha sete anos, odiava cachorros. Woof! O latido se repetiu, e ele já estava ficando irritado. Apoiou-se em sua bengala e andou atrás daquele bicho dos infernos. Ele provavelmente havia se enfiado por algum buraco e conseguira invadir aquele terreno. Woof!

- Onde está você? - disse Sr. Benson

- Woof? - respondeu o cachorro.

            O velhinho deu um pulo e colocou a mão no coração. Uma bundinha de cachorro aparecia por debaixo do imenso portão de ferro. Aquela praguinha havia encontrado um velho buraco e provavelmente estava preso ali. Era tudo o que Sr. Benson precisava, retirar um cachorro entalado num buraco. Ele iria perder o jornal daquela noite. Ele agarrou o cachorro com cuidado e o puxou daquele lugar, caindo de costas no chão.

“creck”

- Ai minhas costas - gritou o velhinho.

            E ficou ali no chão, com preguiça de se levantar e sentindo suas costas arderem. O cachorrinho subiu em cima dele e se aconchegou no meio de seu uniforme de guarda.

- Ei, saia daí, vá pra casa - disse o velho.

            Mas o cachorrinho não estava nem aí. Ele era preto e era da raça pinscher e... Espera um pouco, ele era igualzinho a Toby. Mas igual, igualzinho mesmo, tinha até aquelas duas pintinhas brancas no topo da cabeça, igual ao cachorro que Sr. Benson tivera aos sete anos. Ele levantou-se e pegou o cachorrinho com as mãos, recebendo pequenas lambidinhas do animal.

- Não pode ser, meu Deus - disse ele.

            E finalmente ele achou que estava gagá. Aquilo era impossível, mas aquele cãozinho era o Toby, em todos os detalhes, não simplesmente um cachorro bem parecido, mas realmente o Toby.

- Toby! - gritou Sr. Benson.

            E prontamente o cachorro correu a seu encontro. Ai meu Deus, ele estava senil mesmo. Colocou o bicho no chão e agachou-se como pôde para alisar seus pelos. Sentia muita falta daquele animal, mas nunca se deu conta daquilo, simplesmente passou a odiar cachorros depois que Toby morreu. Mas se Toby morreu, o que era aquilo, um espírito? Um fantasma de cachorro? Ele nunca tinha ouvido falar daquilo.
            Ele tentou pegar novamente Toby, mas o cachorrinho correu por aquele buraco na parece e entrou dentro do armazém, sumindo na escuridão do lugar. Sr. Benson chamou, chamou e chamou, mas ele não voltou. O velhinho correu e foi buscar a chave, enfiou-a na fechadura do portão, mas paralisou. Aquela seria a primeira vez que entraria sozinho naquele lugar, o que estaria o esperando lá dentro? O que significava a presença de Toby ali?
            Ele fechou os olhos e abriu aquele portão com dificuldade, afinal de contas tinha sessenta e poucos e estava com as costas ardendo. Um ar quente passou pelo seu corpo e ele ouviu todo tipo de som, sentiu todo tipo de cheiro e arrepiou-se com sensações estranhas. Abriu os olhos enrugados e deparou-se com coisas indescritíveis. Aquele armazém estava cheio até o teto!
            Mas não era possível, ele estava lá, todo o tempo, nunca vira nenhuma entrega em sete anos! Mesmo assim, havia de tudo no armazém, sofás, mesas, brinquedos, Toby, retratos, um carro antigo e...

- Ei! Aquele é meu Ford 76! - disse Sr. Benson, se aproximando do carro - Meu Deus e é a mesma placa e tem o mesmo adesivo de uma águia e tem também aquela marca. Oh meu Deus... Essa marca...

            Ele pousou sua mão sobre o vidro e, quando a retirou, estava do outro lado uma marca de uma mãozinha de criança.

- Ele tinha comido iogurte nesse dia e sujou as mãos - disse Sr. Benson - Colocou a mãozinha no vidro, querendo me chamar pra ficar junto dele, mas acabou manchando.

            O velhinho abaixou a cabeça e uma lágrima caiu de seu rosto. Aquilo havia sido há quase uma vida atrás. Ele caminhou lentamente para longe daquele carro. Não entendia como tudo aquilo era possível, no chão estava Toby correndo e latindo. No meio daquele amontoado de coisas estava também seu carro, sua bola de capotão (de quando fazia escolinha de futebol), um retrato de seus pais na praia, e até mesmo o guarda chuva onde ele e sua primeira namorada deram o primeiro beijo, se protegendo da chuva.

- É a minha vida, eu... - assustou-se Sr. Benson - Eu estava esse tempo todo sendo o guarda da minha própria vida!

            Sr. Benson caminhava por corredores e mais corredores de coisas amontoadas, formando um imenso labirinto de sua própria vida. Todo tipo de objetos passava por seus olhos e ele lembrava de passagens de sua vida, partes que nunca conseguira esquecer. Seus olhos enchiam-se de lágrimas à cada nova lembrança, mas ele sempre as enxugava o mais rápido possível, pois para ele homem, não podia chorar.
            Puxou com força um par de tênis velhos, escondidos do lado de um peru de natal (quente e ainda cheirando muito bem, por sinal). Era o mesmo par que ele usou quando ganhou sua primeira corrida nas olimpíadas escolares. Não eram peças com muito valor, nem eram de marca famosa, mas ele os amava naquela época e se achava invencível usando eles.

- Hehe, minha mãe jogou eles fora quando ficaram com tanto chulé, que ninguém em casa aguentava - disse Sr. Benson - E eu fiquei maluco com ela, fiquei uma semana sem falar com ninguém. Nossa... Por que eu fiz aquilo, que bobagem.

            Enquanto Toby mordiscava o peru de natal e algumas outras guloseimas espalhadas no chão, Sr. Benson reparou no teto, e viu que lá em cima estavam pintados os mesmos desenhos que ele fazia quando tinha quatro anos. Ele não se lembrava daquilo, é claro, mas ele supôs que eram seus, pois eles retratavam seus pais e irmãos e traziam uma assinatura escrita com um garrancho horrível: Ben.

- Por que eu nunca entrei aqui antes? - perguntava-se, mas não conseguia pensar numa resposta plausível.

            Como algumas pessoas faziam, ele estava sendo guarda de sua própria vida, sem ao menos olhar para poder perceber tudo de bom o que havia vivido. No caso do Sr. Benson, ele literalmente foi guarda daquilo tudo, de fato. Algumas pessoas, porém, fazem isso sem perceber, ao longo de sua vida. Algumas pessoas se escondem de seus sentimentos e não param para descobrir quem são de verdade. Algumas pessoas vivem, outras sobrevivem.
            O velhinho cansou das andanças e sentou-se no velho sofá de seu pai, que também estava ali, no meio de outros móveis da sua família. Ele até mesmo sentiu o cheiro daquele desinfetante fedido que sua mãe passava pelo chão da casa. Não era um cheiro agradável, verdade seja dita, mas ele sentiu saudades de sua mãe, mesmo sendo ela a mais linha dura da história. Sentia falta também do seu pai, que era sempre comandado pela sua mãe.

            Ele riu.

- Tantas lembranças e tanta coisa que a gente passa nessa vida - disse ele - E terminamos sozinhos.

            Mas talvez a vida seja isso, vivemos um monte de coisas, experiências belas, assustadoras, nos apaixonamos, encontramos a pessoa certa (ou não), sofremos, choramos, rimos e no final terminamos sozinhos, para que possamos refletir sobre o que passou. Boas ou ruins, nossas experiências vão nos seguir até o final da vida, onde iremos sofrer ou aproveitar o que fizemos. Talvez não exista certo ou errado, bom ou mal, decente ou indecente, perfeição, apenas pessoas que vivem suas vidas, passam por dificuldades e se transformam todos os dias. Talvez não haja um tribunal quando a gente morre, no final das contas, ninguém irá nos inquirir sobre o que decidimos ou fizemos, apenas nós mesmos.
            Ele levantou-se cuidadosamente, andou por aquele pandemônio de coisas jogadas até encontrar um canto vazio. Não havia nada ali, apenas um vazio rodeando uma pequena porta de ferro. Era uma velha porta, pintada de uma tinta azul que já estava quase desgrudando do metal. Havia também pontos de corrosão por todo o canto.
            O Sr. Benson ficou ali parado, encarando aquilo. Ele sabia, bem no fundo de seu coração, o que estava o esperando lá dentro, pois até aquele momento tinha apenas visto as coisas boas de sua vida. Mas como todo mundo, a vida do Sr. Benson tinha coisas ruins também. Algumas muito piores do que a maioria suportaria.

- O que é esse lugar? - perguntou-se o velhinho - O que é isso? Como minhas coisas foram parar aqui? Qual é o significado de tudo isso?

            Mas a resposta foi o silêncio. A pior resposta de todas. Ele ficou ali parado encarando aquela porta corroída, com medo do que encontraria ali. Há muito tempo havia enterrado tudo aquilo, mas agora, de repente, sua vida toda passava diante de seus olhos, inclusive as partes que queria esquecer. Estava tudo ali, atrás daquela porta.

- Não... Por que agora? Depois de tanto tempo... - disse ele - Encostando seu rosto enrugado no metal e sentindo o frio.

            Ele sabia que a vida era feita de bons e maus momentos, mas o que se escondia ali era péssimo. Por anos tirou seu sono e o deixou da maneira como estava agora, sozinho e sem ninguém. Ele encostou a mão na maçaneta e abriu de uma vez, fechando os olhos de medo. Sentiu uma brisa fria sair dali e de repente estava na sala de sua casa. Sentiu uma forte pontada no coração e perdeu o ar, sentou-se num sofá e ficou ali, chorando.
            Atrás da porta estava uma réplica perfeita da sala onde convivia com sua família. Não seus pais, mas seu filhinho e sua esposa. Ele pôs a mão no peito e afastou-se o máximo que pôde do telefone, pois ele sabia o que iria acontecer em seguida. Sentou-se no chão, num canto escondido e afastado, mergulhado em lembranças.

- Não... Aquele telefone não... Por favor, eu quero ir embora... - disse ele.

            Mas o telefone tocou. Sr. Benson ficou olhando para aquele aparelho, que era exatamente igual ao do seu passado. O velhinho não se moveu e não foi atender o telefone, na esperança de que aquilo pudesse parar de tocar. Na esperança de que aquelas lembranças se apagassem para sempre. Mas o telefone continuava a tocar.

- Por favor pare... Pare... - disse o Sr. Benson.

            Ele levantou-se e correu (o mais rápido que seus sessenta e poucos permitiam) e atendeu o telefone, colocando-o no ouvido. Ele encheu-se de coragem para ouvir o que falaria a voz do outro lado. Sabia de cor a frase que fora dita naquele dia por um policial “Sr. Benson, aconteceu um acidente, sua mulher e seu filho...”. Esperou ouvir aquelas palavras pela voz do policial, porém apenas o silêncio estava ali.

- Diga! - gritou o Sr. Benson - Diga a frase! Não era o que você queria? Eu estou aqui agora, pode dizer.

- James - disse uma voz de mulher do outro lado - James, meu querido, você atendeu...

            E novamente ele sentiu um aperto em seu peito. Aquela era a voz de Julia, sua esposa.

- Não pode ser... Você... Você morreu - disse ele.

- Esperamos anos para que você entrasse nesse armazém - disse ela - Ainda bem que você teve a coragem, meu querido. Eu te amo tanto.

- Não! Você não pode me amar - gritou o homem - Fui eu... Vocês morreram... Foi minha culp... Foi tudo minha culpa... Você não deveria me dizer isso...

- Oh meu amor, não foi sua culpa - disse ela - Por isso que estamos te esperando. Por anos você esqueceu de você, viveu isolado, chorando na cama, se sentindo culpado. Não aguentamos mais ver você passar por isso. James, é hora de sair dessa tristeza. Não foi sua culpa, nunca foi sua culpa.

- Sim, foi - disse ele - Se eu não tivesse chegado bêbado naquele dia, você jamais teria pegado o carro e ido embora. Você e o Daniel morreram naquele dia e eu também.

- Não - disse Julia, no telefone.

            De repente sentiu uma mão no seu ombro e virou-se assustado. Ali estava Julia, com seus cabelos ruivos jogados sobre os ombros, usando aquela camisa branca que ele havia lhe dado de aniversário e exibindo um sorriso terno. O velhinho abraçou-a com força, repousando sua cabeça em seus ombros, chorando. Ele não disse nada, apenas chorou.

- Oh querido, você passou por tanta coisa - disse ela - Eu te amo tanto e sinto tanto sua falta. Mas eu vim aqui pra te libertar dessa sua culpa. Há anos você vive se culpando, chega.

- Meu Deus, é você, até seu perfume! - disse ele, em lágrimas - Eu já havia até me esquecido de como era a sua pele, o cheiro dos seus cabelos e esses seus olhos profundos. Onde está Daniel?

- Daniel está bem, assim como eu - disse ela - Ele seguiu seu caminho e não pôde estar aqui. Eu fiquei te esperando, mas ele seguiu o caminho, porque eu pedi isso pra ele. Mas ele está muito bem, não se preocupe.

- Não Julia, eu... - disse ele.

            Ela repousou um dedo em seus lábios, fazendo-o se calar. Passou as mãos por sua face lentamente e abraçou-o.

- Você não mudou nada - riu ela - Ainda tem essas ruginhas no canto da boca. Ainda é meu James e eu sou sua Julia. Escolhi te esperar, não segui meu caminho, mas você mudou. É um homem triste, que viveu em depressão por causa de um acontecimento irrelevante. Você bebeu sim, eu sei, e eu também fiquei nervosa naquele dia. Mas aquilo tinha que acontecer, você tem que entender, todo mundo um dia tem que ir.

- Eu perdi você - disse ele.

- Eu estou aqui, não estou? - disse ela - Você não me perdeu. Você se perdeu e eu vim aqui para lhe trazer de volta.

- Eu estou velho, Julia, logo vou morrer - disse ele - Por que agora?

- Era pra ter sido há pelo menos sete anos, quando você foi contratado pra ser guarda desse lugar - disse ela - Mas você teve de ter seu tempo para encarar tudo isso. As pessoas precisam se preparar para mudar, assim podem se tornar cada vez mais felizes.

- O que significa isso? Esse armazém? O homem que me contratou? Você? - disse ele.

- É difícil de explicar, mas você só precisa entender que eu voltei pra te ajudar - disse ela - Na verdade, você deve encontrar sozinho as respostas para essas perguntas.

- Eu sei a resposta - disse ele - Eu morri. Eu vi minha vida passar diante de meus olhos e agora você... Eu morri.

            Ela sorriu e ficou olhando para ele, silenciosa. Passou a mão em seus cabelos e o beijou na bochecha.

- Não foi sua culpa, James, não foi - disse ela - Está na hora de você se libertar disso e viver! Por que viver é conviver com nossos erros, lembrar do passado, mas não podemos nos prender a ele. Vá ser feliz, meu bem, vá viajar, fazer tudo o que sempre sonhou. Você não está velho, sempre vai ser meu James. Iremos nos encontrar de novo, mas agora tenho que ir. Eu te amo tanto.

- Não... Não... Julia! - disse ele.

            Mas ela desapareceu no ar. E ele ficou ali, sozinho novamente, dentro de uma sala vazia. Ele lentamente saiu daquele lugar e se viu naquele galpão. Todas as suas coisas haviam desaparecido e restava apenas a poeira. O velhinho limpou suas lágrimas e esboçou um sorriso tímido. Ele não entendia o que havia acontecido ali, mas estava disposto a tomar uma atitude.
            Saiu do galpão, trancou as portas e demorou-se olhando para elas com ternura. Limpou a poeira do seu uniforme e foi até a sua guarita. Sentou-se em sua mesa e puxou um papel, escrevendo ali ma mensagem.

“Me demito”

            E deixou o papel em cima da mesa, junto com a chave do portão de ferro. Saiu daquele terreno e dirigiu-se até o ponto de ônibus mais próximo. Pegou o transporte até o centro, desceu na praça principal e caminhou com dificuldade até o cemitério. Procurou nas quadras, entre túmulos, até achar uma lápide decorada com pisos pretos. Lá estavam as fotos de Julia e Daniel, assim como suas datas de nascimento e morte.
            O Sr. Benson retirou uma rosa de seu bolso rasgado e deixou-a em cima do túmulo.

- Obrigado - disse ele.


terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Um Pouco da Vida



Às vezes subitamente paramos pra perguntar ‘o que diabos estamos fazendo da nossa vida?’, e às vezes devemos, com toda razão realmente nos fazer essa pergunta, mas e quando a vida está tão estável que é impossível você achar um problema? Talvez a monotonia de acordar sempre com as mesmas idéias e a mesma rotina nos faça pensar sem nem perceber na vida e buscar um pouco mais de “aventura”. Agora com certeza a gente às vezes não percebe que estamos nos afundando em um buraco.
A questão é que falar da vida e de sua renovação sempre envolve os mesmos dilemas, a gente sempre busca novos patamares, mas nem sempre estamos preparados para isso, ou por que falta experiência ou por que não é o caminho certo.
Por que ter medo da vida? Bem amplo do ponto geral da questão, mas quero afunilar para um plano mais simples e lógico. Por que não arriscar quando não temos muito a perder? Alias, por que não arriscar quando temos tudo a perder? Não sou adepto de viver a vida que nem um doido varrido jogando tudo pra cima como se não houvesse amanhã, alias, adoro uma cautela para tudo, mas acho que sempre nos vale arriscar coisas importantes em prol de uma “aventura nova”, um novo estilo de vida. Por que se a gente não arrisca a gente não perde, legal, mas se a gente não arrisca a gente não ganha também, o tempo passa e a gente enjoa de certas coisas.
São tantos exemplos, uma infinidade de possibilidades, e às vezes a gente ainda se usa do passado para se prender em problemas que não existem mais. Talvez falte mais no mundo pessoas deixando de lado certos costumes e amarguras do coração pra viver um pouco mais intensamente essa vida que passa tão rápida. A gente tem muito pra sorrir, muita coisa boa pra ver, não se prenda a coisas pequenas, se seu coração aperta escolha sempre pelo novo, e se jogue de cabeça. Claro que você pode se jogar do penhasco e cair de cabeça em uma pedra, mas se você não pular, meu amigo, você nunca vai desvendar as maravilhas do mar.
Seja adepto a novas oportunidades, ao teu redor sempre vão ir e vir pessoas que lhe oferecerão milhares de novas e mágicas possibilidades, é só estar atento, e aproveitá-las com toda a intensidade que seu coração permitir.

Hoje eu sou feliz, e desafio nenhum é grande o suficiente para tirar a minha determinação de alcançar meus sonhos. Seja bom para você mesmo, e sorria para o mundo, para todo o mundo, e só para completar minha cota de palavrões de hoje e quebrar a linguagem padrão: foda-se a parte filha da puta do mundo, sorria para ela também, todos merecem saber o quanto você é feliz vivendo a sua vida.

***gostou? curta o texto! Siga o blog e compartilhe! Obrigado.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

As cores do céu azul.

Por Kauê de Paula



      Ela desceu do ônibus dois quarteirões e meio da sua casa, e assim que colocou os pés no meio fio um trovão invadiu seus ouvidos, e automaticamente ela olhou para o céu. O cinza tingia o horizonte e escondia o sol por detrás daquelas imensas nuvens carregadas, e no mesmo instante a chuva desaguou sob sua cabeça. Ela tirou o cabelo já encharcado dos olhos e continuou andando lentamente até sua casa. Quando chegou dez minutos depois a chuva já havia diminuído e um arco-íris lindo esboçava suas cores em um lindo céu azul de verão.

Ela entrou molhada, porém confiante pela porta da sala, atravessou a casa e de frente aos olhos castanhos do homem ali parado tomou ar para dizer alguma coisa:

-Querido, preciso te contar uma coisa... – ia dizendo ela antes de ser interrompida pelo sujeito.

-Eu estou indo embora Isabela, minhas coisas já estão na casa da minha mãe, isso é um Adeus. Eu detesto despedidas – dizia ele quase que para si mesmo – A gente se vê por ai, boa sorte e até mais.

A porta bateu, e o ar deslocado pelo movimento esbofeteou o rosto dela, que ali ainda parada no mesmo lugar continuou falando com as paredes. “Consegui a vaga na gerência da empresa como sempre sonhei...” e suspirando com desdém concluía sozinha “mas não que você se importe.” E os dias seguintes foram nublados e tristes como as lágrimas do adeus geralmente são.

A noite era limpa de um céu carregado de estrelas, e na sala de estar jazia a mulher realizada e triste, chorando um misto de felicidade e desespero, de quem perde um sonho em busca de outro. Era tarde demais, ela sabia, mas seus braços dormentes e seus olhos de ressaca encobriam a força de uma mulher de verdade, e mesmo tendo todos os sonhos do mundo, soluçou mais uma vez com o silêncio das estrelas.

Um “hoo” quebrou o clima mórbido daquela noite, e ela se adiantou até a janela onde uma coruja estava estática em cima do muro do portão com os olhos fixos, como se a estivesse encarando. Ela ficou ali observando e a coruja “hoo” outra vez, a cena se repetiu durante uma dúzia de vezes e ela curiosa saiu para ver mais de perto, mas a coruja havia desaparecido.

Os dias seguiram e a melancolia e dor passaram para segundo plano, quando de repente tudo se resumia a curiosidade de entender o porquê aquela coruja estava ali. Psicólogos diriam que era a mente lidando com a perda, distraindo os sentimentos, mas no fundo tinha algo mais naquilo tudo. Alguns livros, pesquisas e estudos a tornaram apaixonada pelas tais corujas, que tinham seus instintos de caça noturnos, diversas vértebras no pescoço e aqueles olhos apurados e misteriosos...

Mas aquela coruja que toda noite ia visita-la lhe trazia novos ares de um mistério, que talvez só a vida fosse capaz de lhe traduzir com o tempo. Noites ficaram para trás, e sempre a visitante desaparecia do nada. Então ela de repente percebeu, sua vida era sim completa, mais do que imaginava.

No dia seguinte desceu do ônibus e a chuva arrastava suas gotas pela atmosfera, e ao chegar em casa a chuva havia parado, no entanto, não havia um arco-íris no céu. Ela amava o tal arco-íris, mas sentia que ele aparecia apenas quando ela estava feliz. Ela então pegou a mangueira, ligou o registro e mirou para o céu. A água subia e descia em forma de chafariz e aos poucos as cores do arco íris formavam ali pertinho dela o efeito prismático nas gotas de água, e ela então sorriu, era dona da sua própria felicidade.


A noite caiu, a TV estava ligada, a panela no fogo, música tocava nas caixas de som e ela dançava e cantarolava sem motivo pela casa já de pijamas depois de um banho agradável. Sua alegria tomava conta do ambiente de tal forma que ela mal pode notar uma visita inesperada na janela, já dentro de casa, com os pés sob o sofá olhando para ela não mais com os olhos misteriosos, mas com o olhar curioso, de quem sente a felicidade e deseja saber como ela pode surgir de uma maneira tão natural e sem sentido aparente. Ela sorriu para sua já conhecida visita, e ela com o luar nos olhos respondeu-lhe: “hoo”.


***Gostou? Curte ai, obrigado ;)