Desviei o
olhar levemente descontraído e fixei o com prazer nela. Não me cabe descrições
exatas, apenas uma visão simples, masculina e simplória. Estava absurdamente linda
e gostosa como sempre. Na minha cabeça só existia a ideia de jogá-la ali mesmo,
na minha cama, e possuí-la por horas e horas até que o sol nascesse no dia
seguinte e a vida continuasse. Obrigado fui a me conter e contemplar ela olhando
nos meus olhos e proferindo aquelas mesmas palavras de anos atrás. Alguma coisa
mudou, eu pude perceber, dessa vez apesar de ter parecido sério, algo mudou, eu
senti. Ela vai pensar sobre isso, ela vai ler sobre isso, vai se
responsabilizar pelos erros, pelo seu dom de me fazer perder a linha, eu sei
que vai. Exatamente por isso eu cheguei silenciosamente por trás dela e abracei
o seu corpo sedutor, apalpei com malicia a sua bunda e sem vergonha alguma ri
como se soubesse a tamanha intimidade que tinha pra fazer aquilo e escapar sem
segundas intenções. Ela olhou nos meus olhos e pela primeira vez foi sincera.
Em anos não via a sinceridade nos olhos de quem me ensinou a ser dissimulado e
relaxado com a vida; viver como se não houvesse amanhã. Foi divertido, o leve
teor de álcool bagunçava a minha fortaleza impenetrável e meu escudo foi por
agua a baixo, e então eu disse, enfim, tudo que doía na minha alma, meu Deus,
como pude me permitir ser tão transparente, nunca pude fazer isso, era quase um
lema, uma religião, então contei quantas vezes aquele rebolado sexy e aqueles
lábios sedutores me tiraram do sério, quantas vezes eu tive vontade de sequestrá-la
dali e leva-la além da onde meus pensamentos podiam imaginar, mas ela sorriu
levemente como quem compreende a minha intenção e disse aquela velha e
insistente expressão de sempre, onde tudo se resume ao medo de se jogar fora
uma grande amizade. Eu então, cansado e levemente emputecido fiz questão de
terminar de destruir a situação e resolvi então jogar tudo para o alto. E
agora? Se minha amizade você não tem mais, me diga agora qual o seu medo? Ou desculpa.
Sejamos sinceros, você não me engana mais, eu estou aqui e você ai se
escondendo entre suas indecisões de 15 anos. “agora não é a hora” não fui eu
quem disse que não temos mais 15 anos. A vida é agora, o amor não tem hora,
então foda-se tudo. Se eu nunca consegui te olhar com olhos de amizade então
essa amizade nunca existiu, lide com isso, viva com isso, diga que é mentira. E
agora o que você tem a perder? Vou estar aqui, mas como sempre, eu sei, falta
coragem, falta caráter pra entender que suas escolhas são sempre as erradas, e
se você não sabe escolher eu não vou estar ai pra te segurar, por que pra mim a
validade acabou, e se seu amor não é suficiente eu sou obrigado a te deixar ai,
acreditando que em algum lugar existiu uma amizade. Vou continuar por aqui,
você sabe onde me achar, e espero que você entenda e realmente comesse a viver
de verdade a sua vida, por que eu desejo isso a você, por mais que sinta raiva
por todas as vezes que pisamos na bola um com outro. Mas é tempo de mudanças, e
eu digo adeus pra algo que nunca existiu, amor não é amizade. Desculpa,
desculpa, desculpa. Quanto vale nossa história pra você? Guarde esse sentimento
ao ler esse texto, é ele que guiara sua resposta sobre a nossa história, e se
ela for nunca mais me ver, eu sentirei saudades, por que você sabe, que ao
final de tudo, ninguém sentira a sua falta tanto, mas tanto, quanto eu
sentirei. Soa até falso um eu te amo, mas fazer o que, suas curvas me tiram do
sério. Um grande beijo nessa boca gostosa e boa sorte, seja lá pra onde você
siga, my love.
quarta-feira, 22 de janeiro de 2014
quarta-feira, 15 de janeiro de 2014
Aquela sensação
Sabe aquela sensação?
Aquela sensação gostosa de ter alguém com você.
De ir ao cinema e ter aquela pessoa do lado pra abraçar.
Ver uma cena bonitinha e poder sorrir pra pessoa.
Sabe essa sensação?
De ter alguém pra você segurar forte e se sentir amado.
De ganhar um beijo carinhoso na bochecha sem pedir
De alguém te agarrar por trás com amor e você saber quem
é.
Essa sensação.
De ter alguém pra você acordar com beijos de manhã.
Alguém que você possa dizer no ouvido que ama.
Aquela pessoa que você segura o rosto e sorri como quem
não precisa de mais nada no mundo
Lembra dessa sensação?
De sentir-se amado por alguém em qualquer momento.
De saber que sempre terá alguém ali pra te ajudar no que
precisar.
Aquela pessoa que um simples passeio se torna uma tarde
memorável pra toda uma vida.
Sabe essa sensação?
De que serão momentos únicos.
De que você gostaria de fazer isso o resto da vida.
De que essas aventuras loucas poderiam se repetir por
dias.
Você sabe como é? Sabe como é sentir isso?
Sentir vontade de pegar alguém no colo.
De deitar e rolar na grama com esse alguém.
De contar as estrelas e falar bobeiras.
Sabe como é?
De rolar no lençol por toda a madrugada.
De acordar com aquele sorriso e aquela voz de sono.
Você sabe do que eu estou falando? Essa sensação de amar,
de ter alguém verdadeiro ao seu lado, a sensação de que não há problemas
maiores, de que o amor reina, de que você tem alguém pra sempre com você.
Sabe essa sensação, então, estou com saudades de tê-la
não só dentro da minha cabeça.
****gostou? CURTA o texto! compartilhe e siga o blog. Obrigado :)
****gostou? CURTA o texto! compartilhe e siga o blog. Obrigado :)
segunda-feira, 13 de janeiro de 2014
Luz Oscilante
Há uma luz
oscilante lá em cima
Que não para
de me seguir
Aonde quer
quer que eu vá
E é tão
brilhante, que me cega
Há uma luz
oscilante lá em cima
E eu sinto que
estou afundando
EM alguém que
eu não conheço
Por que eu
tento fugir de você?
Nas escadas há
um pequeno brilho
De fantasmas
correndo pelas paredes
O quarto tem
bonecas assustadoras
Os porta-retratos
não mostram nada
Há uma luz
oscilante lá em cima
Que não para
de me seguir
Aonde quer
quer que eu vá
E é tão
brilhante, que me cega
Há uma luz
oscilante lá em cima
E eu sinto que
estou afundando
EM alguém que
eu não conheço
Por que eu
tento fugir de você?
Não se esqueça que somos como peixes
Nadando em um
pequeno copo com água
Não podemos
ver além dos nossos desejos
Mas há um
oceano imenso além da areia
domingo, 12 de janeiro de 2014
E se o amor não existisse?
E se o amor não existisse?
Então deveríamos inventá-lo.
Por que algo assim tão bom.
Não pode ser sonho.
Não pode ser coincidência.
Não pode ser imaginação.
E se o amor não existisse?
Então deveríamos procurá-lo,
Nos quatro cantos do planeta,
Até encontrá-lo.
Porque algumas coisas valem a pena,
Serem encontradas.
E se o amor não existisse?
Talvez deveríamos olhar para dentro de nós.
Perceber quem somos,
Sem preconceito.
Pré-conceitos,
Do que deveríamos, ou não, ter sido
E se o amor não existisse?
Deveríamos então criar poemas.
Cem estrofes de descrição.
Encontrar as palavras certas.
E pichar todos os muros por aí.
Ser preso, sim, mas com amor no coração.
E se o amor não existisse?
Deveríamos tirá-lo de uma bolha,
Soltá-lo pelo mundo, deixá-lo livre.
Profundo.
Fazer todo o mundo sentir, enfim,
Que ele existe sim.
Mas o amor não existe.
Ele sempre acaba no final do dia.
Às 00h00 em ponto.
E quando acordamos, temos de inventá-lo,
Todos os dias, recriá-lo, para que não morra,
Nesse turbilhão.
***Gostou? deixa um like ai ;)
***Gostou? deixa um like ai ;)
De bobos.
Bem no canto dessa boca
Mora um sorriso bobo
Que descansa quase sempre
Se mostra tão pouco
Às vezes, ele surge
E toma o seu rosto
No espaço dos seus lábios
Se faz espaçoso
E por pouco se tem muito
Da bobeira de sorrir
Simples, leve, leva longe
Leva o perto, leva em si
Diz as letras sem sentido
Mas, sentido, quem precisa?
Se por meus bobos ouvidos
A bobeira faz conquista
Quando guarda o tal sorriso
Um sorriso surge em mim
Não tão bobo
Sem motivos, por sorrir.
quinta-feira, 9 de janeiro de 2014
Crônica: O Velho e o Armazém
O Sr.
Benson passava dias e dias vigiando aquele galpão. Acordava cedo, tomava um chá
gelado com biscoitos, só o bastante para enganar seu velho estômago, colocava
seu uniforme de vigia e atravessava a rua, chegando naquele imenso galpão.
Sim, ele
morava do lado do trabalho e não, ele não gostava daquilo. Apesar de ter
sessenta e poucos anos, gostaria de pegar o ônibus, andar pela cidade, ver
pessoas, ouvir vozes e sentir cheiros, porém tudo o que fazia era atravessar
uma rua esburacada. Ia de casa para o emprego, do emprego para a casa e não
saia do lugar. Não que fizesse muita diferença, pois em casa assistia televisão
e no trabalho, também.
Na
realidade ele não entendia muito bem o porquê de estar vigiando aquele imenso e
vazio armazém. As paredes tinham os rebocos rachados, o piso do chão já havia
se soltado há muito tempo e havia teias de aranha por toda parte. E não eram
aranhas comuns, eram daquelas bem grandes, tão grandes que parecia ter alguém
dando de comer a elas. Além disso, Sr. Benson era o único guarda por ali.
Aquele
armazém erguia-se por de trás das pequeninas casas da vizinhança, como se fosse
um imenso monstro de cimento que a qualquer hora iria engolir todos. Mas não
havia nada lá, nenhuma entrega, nenhum estoque, entregador, fiscal, pacote,
nada. Apenas uma porta imensa de ferro, a qual Sr. Benson nunca abria. Há pelo
menos sete anos ele apenas se sentava em sua pequena guarita, bebericava café o
dia inteiro e ia para casa, sentar-se em seu sofá velhinho, mas confortável e
depois dormir sozinho em sua cama.
Qualquer
coisa além disso era uma aventura para ele. Não que ele não gostasse das
aventuras, pois adorava mesmo qualquer mudança na sua rotina, porém já estava
velho e a osteoporose não o deixava viver como queria. Tinha uma mente jovem em
um corpo velho, queria mais do que aquele emprego mixuruca, mas infelizmente
era o que tinha. Ou felizmente, porque seu salário de guarda o ajudava a
comprar suas coisinhas, o que sua ínfima aposentaria não permitia.
Há alguns
anos um homem misterioso batera na porta da sua casa, convidando-o para ser o
guarda daquele armazém. De início o velho rabugento deu com a porta nas fuças do
safado, mas o homem insistiu e insistiu e insistiu, até que o Sr. Benson não
teve outra alternativa senão aceitar o emprego. O salário era bom, bom até
demais, por isso o velho perguntou ao homem o que guardava aquele lugar (o que
era um mistério para o povo daquela vizinhança). Desconfiado que só ele, Sr.
Benson quis ver tudo, tintim por tintim.
O homem
misterioso riu e abriu a imensa porta de ferro, revelando um galpão sem nada
dentro.
- Mas não há nada aí dentro - disse Sr. Benson, irritado com
aquele disparate - Está vazio.
- Há uma diferença enorme entre não haver nenhum objeto e
estar vazio - disse o homem.
O velho
desconfiou, mas aceitou o emprego, pois de qualquer forma, era um ótimo salário
e ele não precisava fazer nada. E foi exatamente o que aconteceu, nada. Em
todos os anos em que trabalhou ali, nunca viu nenhuma mudança. Apesar da
desconfiança dos seus vizinhos, que diziam que aquele era um lugar assombrado,
cheio de demônios, gnomos e outras coisas, ele nunca saiu do emprego. Nunca
mais viu o homem misterioso, mas o dinheiro caía religiosamente todo dia
primeiro em sua conta no banco, o que o deixava mais do que satisfeito.
Um dia
porém tudo mudou. Tudo. E essa é a história que iremos contar aqui. Não há nada
de dragões, perigos imensos, casas voadoras e monstros, não, apenas a vida de
um velho. Mas daí você deve estar se perguntando, leitor, por que diabos vou
ler isso? Ora, não seja tolo, uma boa história não tem que ter dragões, pois
não são os dragões que fazem as histórias, mas sim os heróis que decidem
enfrentá-los. E o Sr. Benson era um bom homem, sem dúvidas, porém ele mesmo não
acreditava naquilo. Então pare de resmungar, leitor, e leia essa história,
talvez você possa aprender um pouquinho. Ou talvez não, quem vai saber.
Um certo
dia, Sr. Benson não sabia muito bem qual, pois todos os dias eram os mesmos,
ele ouviu um latido. Woof! Bem na hora em que ele estava voltando para casa.
- Droga - resmungou ele - Um cachorro.
Ele
definitivamente não gostava de cachorros. Desde que seu pinscher preto Toby
havia morrido atropelado, quando tinha sete anos, odiava cachorros. Woof! O
latido se repetiu, e ele já estava ficando irritado. Apoiou-se em sua bengala e
andou atrás daquele bicho dos infernos. Ele provavelmente havia se enfiado por
algum buraco e conseguira invadir aquele terreno. Woof!
- Onde está você? - disse Sr. Benson
- Woof? - respondeu o cachorro.
O velhinho
deu um pulo e colocou a mão no coração. Uma bundinha de cachorro aparecia por
debaixo do imenso portão de ferro. Aquela praguinha havia encontrado um velho
buraco e provavelmente estava preso ali. Era tudo o que Sr. Benson precisava,
retirar um cachorro entalado num buraco. Ele iria perder o jornal daquela
noite. Ele agarrou o cachorro com cuidado e o puxou daquele lugar, caindo de
costas no chão.
“creck”
- Ai minhas costas - gritou o velhinho.
E ficou ali
no chão, com preguiça de se levantar e sentindo suas costas arderem. O
cachorrinho subiu em cima dele e se aconchegou no meio de seu uniforme de
guarda.
- Ei, saia daí, vá pra casa - disse o velho.
Mas o
cachorrinho não estava nem aí. Ele era preto e era da raça pinscher e... Espera
um pouco, ele era igualzinho a Toby. Mas igual, igualzinho mesmo, tinha até
aquelas duas pintinhas brancas no topo da cabeça, igual ao cachorro que Sr.
Benson tivera aos sete anos. Ele levantou-se e pegou o cachorrinho com as mãos,
recebendo pequenas lambidinhas do animal.
- Não pode ser, meu Deus - disse ele.
E
finalmente ele achou que estava gagá. Aquilo era impossível, mas aquele
cãozinho era o Toby, em todos os detalhes, não simplesmente um cachorro bem
parecido, mas realmente o Toby.
- Toby! - gritou Sr. Benson.
E
prontamente o cachorro correu a seu encontro. Ai meu Deus, ele estava senil
mesmo. Colocou o bicho no chão e agachou-se como pôde para alisar seus pelos.
Sentia muita falta daquele animal, mas nunca se deu conta daquilo, simplesmente
passou a odiar cachorros depois que Toby morreu. Mas se Toby morreu, o que era
aquilo, um espírito? Um fantasma de cachorro? Ele nunca tinha ouvido falar
daquilo.
Ele tentou
pegar novamente Toby, mas o cachorrinho correu por aquele buraco na parece e
entrou dentro do armazém, sumindo na escuridão do lugar. Sr. Benson chamou,
chamou e chamou, mas ele não voltou. O velhinho correu e foi buscar a chave,
enfiou-a na fechadura do portão, mas paralisou. Aquela seria a primeira vez que
entraria sozinho naquele lugar, o que estaria o esperando lá dentro? O que
significava a presença de Toby ali?
Ele fechou
os olhos e abriu aquele portão com dificuldade, afinal de contas tinha sessenta
e poucos e estava com as costas ardendo. Um ar quente passou pelo seu corpo e
ele ouviu todo tipo de som, sentiu todo tipo de cheiro e arrepiou-se com
sensações estranhas. Abriu os olhos enrugados e deparou-se com coisas
indescritíveis. Aquele armazém estava cheio até o teto!
Mas não era
possível, ele estava lá, todo o tempo, nunca vira nenhuma entrega em sete anos!
Mesmo assim, havia de tudo no armazém, sofás, mesas, brinquedos, Toby,
retratos, um carro antigo e...
- Ei! Aquele é meu Ford 76! - disse Sr. Benson, se aproximando
do carro - Meu Deus e é a mesma placa e tem o mesmo adesivo de uma águia e tem
também aquela marca. Oh meu Deus... Essa marca...
Ele pousou
sua mão sobre o vidro e, quando a retirou, estava do outro lado uma marca de
uma mãozinha de criança.
- Ele tinha comido iogurte nesse dia e sujou as mãos - disse
Sr. Benson - Colocou a mãozinha no vidro, querendo me chamar pra ficar junto
dele, mas acabou manchando.
O velhinho
abaixou a cabeça e uma lágrima caiu de seu rosto. Aquilo havia sido há quase
uma vida atrás. Ele caminhou lentamente para longe daquele carro. Não entendia
como tudo aquilo era possível, no chão estava Toby correndo e latindo. No meio
daquele amontoado de coisas estava também seu carro, sua bola de capotão (de
quando fazia escolinha de futebol), um retrato de seus pais na praia, e até
mesmo o guarda chuva onde ele e sua primeira namorada deram o primeiro beijo,
se protegendo da chuva.
- É a minha vida, eu... - assustou-se Sr. Benson - Eu estava
esse tempo todo sendo o guarda da minha própria vida!
Sr. Benson
caminhava por corredores e mais corredores de coisas amontoadas, formando um
imenso labirinto de sua própria vida. Todo tipo de objetos passava por seus
olhos e ele lembrava de passagens de sua vida, partes que nunca conseguira
esquecer. Seus olhos enchiam-se de lágrimas à cada nova lembrança, mas ele
sempre as enxugava o mais rápido possível, pois para ele homem, não podia
chorar.
Puxou com
força um par de tênis velhos, escondidos do lado de um peru de natal (quente e
ainda cheirando muito bem, por sinal). Era o mesmo par que ele usou quando
ganhou sua primeira corrida nas olimpíadas escolares. Não eram peças com muito
valor, nem eram de marca famosa, mas ele os amava naquela época e se achava
invencível usando eles.
- Hehe, minha mãe jogou eles fora quando ficaram com tanto
chulé, que ninguém em casa aguentava - disse Sr. Benson - E eu fiquei maluco
com ela, fiquei uma semana sem falar com ninguém. Nossa... Por que eu fiz
aquilo, que bobagem.
Enquanto
Toby mordiscava o peru de natal e algumas outras guloseimas espalhadas no chão,
Sr. Benson reparou no teto, e viu que lá em cima estavam pintados os mesmos
desenhos que ele fazia quando tinha quatro anos. Ele não se lembrava daquilo, é
claro, mas ele supôs que eram seus, pois eles retratavam seus pais e irmãos e
traziam uma assinatura escrita com um garrancho horrível: Ben.
- Por que eu nunca entrei aqui antes? - perguntava-se, mas
não conseguia pensar numa resposta plausível.
Como
algumas pessoas faziam, ele estava sendo guarda de sua própria vida, sem ao
menos olhar para poder perceber tudo de bom o que havia vivido. No caso do Sr.
Benson, ele literalmente foi guarda daquilo tudo, de fato. Algumas pessoas,
porém, fazem isso sem perceber, ao longo de sua vida. Algumas pessoas se
escondem de seus sentimentos e não param para descobrir quem são de verdade.
Algumas pessoas vivem, outras sobrevivem.
O velhinho
cansou das andanças e sentou-se no velho sofá de seu pai, que também estava
ali, no meio de outros móveis da sua família. Ele até mesmo sentiu o cheiro
daquele desinfetante fedido que sua mãe passava pelo chão da casa. Não era um
cheiro agradável, verdade seja dita, mas ele sentiu saudades de sua mãe, mesmo
sendo ela a mais linha dura da história. Sentia falta também do seu pai, que
era sempre comandado pela sua mãe.
Ele riu.
- Tantas lembranças e tanta coisa que a gente passa nessa
vida - disse ele - E terminamos sozinhos.
Mas talvez
a vida seja isso, vivemos um monte de coisas, experiências belas, assustadoras,
nos apaixonamos, encontramos a pessoa certa (ou não), sofremos, choramos, rimos
e no final terminamos sozinhos, para que possamos refletir sobre o que passou.
Boas ou ruins, nossas experiências vão nos seguir até o final da vida, onde
iremos sofrer ou aproveitar o que fizemos. Talvez não exista certo ou errado,
bom ou mal, decente ou indecente, perfeição, apenas pessoas que vivem suas
vidas, passam por dificuldades e se transformam todos os dias. Talvez não haja
um tribunal quando a gente morre, no final das contas, ninguém irá nos inquirir
sobre o que decidimos ou fizemos, apenas nós mesmos.
Ele
levantou-se cuidadosamente, andou por aquele pandemônio de coisas jogadas até
encontrar um canto vazio. Não havia nada ali, apenas um vazio rodeando uma
pequena porta de ferro. Era uma velha porta, pintada de uma tinta azul que já
estava quase desgrudando do metal. Havia também pontos de corrosão por todo o
canto.
O Sr.
Benson ficou ali parado, encarando aquilo. Ele sabia, bem no fundo de seu
coração, o que estava o esperando lá dentro, pois até aquele momento tinha
apenas visto as coisas boas de sua vida. Mas como todo mundo, a vida do Sr.
Benson tinha coisas ruins também. Algumas muito piores do que a maioria
suportaria.
- O que é esse lugar? - perguntou-se o velhinho - O que é
isso? Como minhas coisas foram parar aqui? Qual é o significado de tudo isso?
Mas a
resposta foi o silêncio. A pior resposta de todas. Ele ficou ali parado
encarando aquela porta corroída, com medo do que encontraria ali. Há muito
tempo havia enterrado tudo aquilo, mas agora, de repente, sua vida toda passava
diante de seus olhos, inclusive as partes que queria esquecer. Estava tudo ali,
atrás daquela porta.
- Não... Por que agora? Depois de tanto tempo... - disse ele
- Encostando seu rosto enrugado no metal e sentindo o frio.
Ele sabia
que a vida era feita de bons e maus momentos, mas o que se escondia ali era
péssimo. Por anos tirou seu sono e o deixou da maneira como estava agora,
sozinho e sem ninguém. Ele encostou a mão na maçaneta e abriu de uma vez,
fechando os olhos de medo. Sentiu uma brisa fria sair dali e de repente estava
na sala de sua casa. Sentiu uma forte pontada no coração e perdeu o ar,
sentou-se num sofá e ficou ali, chorando.
Atrás da
porta estava uma réplica perfeita da sala onde convivia com sua família. Não
seus pais, mas seu filhinho e sua esposa. Ele pôs a mão no peito e afastou-se o
máximo que pôde do telefone, pois ele sabia o que iria acontecer em seguida.
Sentou-se no chão, num canto escondido e afastado, mergulhado em lembranças.
- Não... Aquele telefone não... Por favor, eu quero ir
embora... - disse ele.
Mas o
telefone tocou. Sr. Benson ficou olhando para aquele aparelho, que era
exatamente igual ao do seu passado. O velhinho não se moveu e não foi atender o
telefone, na esperança de que aquilo pudesse parar de tocar. Na esperança de
que aquelas lembranças se apagassem para sempre. Mas o telefone continuava a
tocar.
- Por favor pare... Pare... - disse o Sr. Benson.
Ele
levantou-se e correu (o mais rápido que seus sessenta e poucos permitiam) e
atendeu o telefone, colocando-o no ouvido. Ele encheu-se de coragem para ouvir
o que falaria a voz do outro lado. Sabia de cor a frase que fora dita naquele
dia por um policial “Sr. Benson, aconteceu um acidente, sua mulher e seu
filho...”. Esperou ouvir aquelas palavras pela voz do policial, porém apenas o
silêncio estava ali.
- Diga! - gritou o Sr. Benson - Diga a frase! Não era o que
você queria? Eu estou aqui agora, pode dizer.
- James - disse uma voz de mulher do outro lado - James, meu
querido, você atendeu...
E novamente
ele sentiu um aperto em seu peito. Aquela era a voz de Julia, sua esposa.
- Não pode ser... Você... Você morreu - disse ele.
- Esperamos anos para que você entrasse nesse armazém -
disse ela - Ainda bem que você teve a coragem, meu querido. Eu te amo tanto.
- Não! Você não pode me amar - gritou o homem - Fui eu...
Vocês morreram... Foi minha culp... Foi tudo minha culpa... Você não deveria me
dizer isso...
- Oh meu amor, não foi sua culpa - disse ela - Por isso que
estamos te esperando. Por anos você esqueceu de você, viveu isolado, chorando
na cama, se sentindo culpado. Não aguentamos mais ver você passar por isso.
James, é hora de sair dessa tristeza. Não foi sua culpa, nunca foi sua culpa.
- Sim, foi - disse ele - Se eu não tivesse chegado bêbado
naquele dia, você jamais teria pegado o carro e ido embora. Você e o Daniel
morreram naquele dia e eu também.
- Não - disse Julia, no telefone.
De repente
sentiu uma mão no seu ombro e virou-se assustado. Ali estava Julia, com seus
cabelos ruivos jogados sobre os ombros, usando aquela camisa branca que ele
havia lhe dado de aniversário e exibindo um sorriso terno. O velhinho abraçou-a
com força, repousando sua cabeça em seus ombros, chorando. Ele não disse nada,
apenas chorou.
- Oh querido, você passou por tanta coisa - disse ela - Eu
te amo tanto e sinto tanto sua falta. Mas eu vim aqui pra te libertar dessa sua
culpa. Há anos você vive se culpando, chega.
- Meu Deus, é você, até seu perfume! - disse ele, em lágrimas
- Eu já havia até me esquecido de como era a sua pele, o cheiro dos seus
cabelos e esses seus olhos profundos. Onde está Daniel?
- Daniel está bem, assim como eu - disse ela - Ele seguiu
seu caminho e não pôde estar aqui. Eu fiquei te esperando, mas ele seguiu o
caminho, porque eu pedi isso pra ele. Mas ele está muito bem, não se preocupe.
- Não Julia, eu... - disse ele.
Ela
repousou um dedo em seus lábios, fazendo-o se calar. Passou as mãos por sua
face lentamente e abraçou-o.
- Você não mudou nada - riu ela - Ainda tem essas ruginhas
no canto da boca. Ainda é meu James e eu sou sua Julia. Escolhi te esperar, não
segui meu caminho, mas você mudou. É um homem triste, que viveu em depressão
por causa de um acontecimento irrelevante. Você bebeu sim, eu sei, e eu também
fiquei nervosa naquele dia. Mas aquilo tinha que acontecer, você tem que
entender, todo mundo um dia tem que ir.
- Eu perdi você - disse ele.
- Eu estou aqui, não estou? - disse ela - Você não me
perdeu. Você se perdeu e eu vim aqui para lhe trazer de volta.
- Eu estou velho, Julia, logo vou morrer - disse ele - Por
que agora?
- Era pra ter sido há pelo menos sete anos, quando você foi
contratado pra ser guarda desse lugar - disse ela - Mas você teve de ter seu
tempo para encarar tudo isso. As pessoas precisam se preparar para mudar, assim
podem se tornar cada vez mais felizes.
- O que significa isso? Esse armazém? O homem que me
contratou? Você? - disse ele.
- É difícil de explicar, mas você só precisa entender que eu
voltei pra te ajudar - disse ela - Na verdade, você deve encontrar sozinho as
respostas para essas perguntas.
- Eu sei a resposta - disse ele - Eu morri. Eu vi minha vida
passar diante de meus olhos e agora você... Eu morri.
Ela sorriu
e ficou olhando para ele, silenciosa. Passou a mão em seus cabelos e o beijou
na bochecha.
- Não foi sua culpa, James, não foi - disse ela - Está na
hora de você se libertar disso e viver! Por que viver é conviver com nossos
erros, lembrar do passado, mas não podemos nos prender a ele. Vá ser feliz, meu
bem, vá viajar, fazer tudo o que sempre sonhou. Você não está velho, sempre vai
ser meu James. Iremos nos encontrar de novo, mas agora tenho que ir. Eu te amo
tanto.
- Não... Não... Julia! - disse ele.
Mas ela
desapareceu no ar. E ele ficou ali, sozinho novamente, dentro de uma sala
vazia. Ele lentamente saiu daquele lugar e se viu naquele galpão. Todas as suas
coisas haviam desaparecido e restava apenas a poeira. O velhinho limpou suas
lágrimas e esboçou um sorriso tímido. Ele não entendia o que havia acontecido
ali, mas estava disposto a tomar uma atitude.
Saiu do
galpão, trancou as portas e demorou-se olhando para elas com ternura. Limpou a
poeira do seu uniforme e foi até a sua guarita. Sentou-se em sua mesa e puxou
um papel, escrevendo ali ma mensagem.
“Me demito”
E deixou o
papel em cima da mesa, junto com a chave do portão de ferro. Saiu daquele
terreno e dirigiu-se até o ponto de ônibus mais próximo. Pegou o transporte até
o centro, desceu na praça principal e caminhou com dificuldade até o cemitério.
Procurou nas quadras, entre túmulos, até achar uma lápide decorada com pisos
pretos. Lá estavam as fotos de Julia e Daniel, assim como suas datas de
nascimento e morte.
O Sr.
Benson retirou uma rosa de seu bolso rasgado e deixou-a em cima do túmulo.
- Obrigado - disse ele.
terça-feira, 7 de janeiro de 2014
Um Pouco da Vida
Às vezes subitamente
paramos pra perguntar ‘o que diabos estamos fazendo da nossa vida?’, e às vezes
devemos, com toda razão realmente nos fazer essa pergunta, mas e quando a vida
está tão estável que é impossível você achar um problema? Talvez a monotonia de
acordar sempre com as mesmas idéias e a mesma rotina nos faça pensar sem nem
perceber na vida e buscar um pouco mais de “aventura”. Agora com certeza a
gente às vezes não percebe que estamos nos afundando em um buraco.
A questão é que
falar da vida e de sua renovação sempre envolve os mesmos dilemas, a gente
sempre busca novos patamares, mas nem sempre estamos preparados para isso, ou
por que falta experiência ou por que não é o caminho certo.
Por que ter medo
da vida? Bem amplo do ponto geral da questão, mas quero afunilar para um plano
mais simples e lógico. Por que não arriscar quando não temos muito a perder?
Alias, por que não arriscar quando temos tudo a perder? Não sou adepto de viver
a vida que nem um doido varrido jogando tudo pra cima como se não houvesse
amanhã, alias, adoro uma cautela para tudo, mas acho que sempre nos vale
arriscar coisas importantes em prol de uma “aventura nova”, um novo estilo de
vida. Por que se a gente não arrisca a gente não perde, legal, mas se a gente não
arrisca a gente não ganha também, o tempo passa e a gente enjoa de certas
coisas.
São tantos
exemplos, uma infinidade de possibilidades, e às vezes a gente ainda se usa do
passado para se prender em problemas que não existem mais. Talvez falte mais no
mundo pessoas deixando de lado certos costumes e amarguras do coração pra viver
um pouco mais intensamente essa vida que passa tão rápida. A gente tem muito
pra sorrir, muita coisa boa pra ver, não se prenda a coisas pequenas, se seu
coração aperta escolha sempre pelo novo, e se jogue de cabeça. Claro que você
pode se jogar do penhasco e cair de cabeça em uma pedra, mas se você não pular,
meu amigo, você nunca vai desvendar as maravilhas do mar.
Seja adepto a
novas oportunidades, ao teu redor sempre vão ir e vir pessoas que lhe oferecerão
milhares de novas e mágicas possibilidades, é só estar atento, e aproveitá-las
com toda a intensidade que seu coração permitir.
Hoje eu sou
feliz, e desafio nenhum é grande o suficiente para tirar a minha determinação
de alcançar meus sonhos. Seja bom para você mesmo, e sorria para o mundo, para
todo o mundo, e só para completar minha cota de palavrões de hoje e quebrar a
linguagem padrão: foda-se a parte filha da puta do mundo, sorria para ela
também, todos merecem saber o quanto você é feliz vivendo a sua vida.
***gostou? curta o texto! Siga o blog e compartilhe! Obrigado.
***gostou? curta o texto! Siga o blog e compartilhe! Obrigado.
quarta-feira, 1 de janeiro de 2014
As cores do céu azul.
Ela desceu do ônibus dois quarteirões e meio da sua casa, e assim que colocou os pés no meio fio um trovão invadiu seus ouvidos, e automaticamente ela olhou para o céu. O cinza tingia o horizonte e escondia o sol por detrás daquelas imensas nuvens carregadas, e no mesmo instante a chuva desaguou sob sua cabeça. Ela tirou o cabelo já encharcado dos olhos e continuou andando lentamente até sua casa. Quando chegou dez minutos depois a chuva já havia diminuído e um arco-íris lindo esboçava suas cores em um lindo céu azul de verão.
Ela entrou molhada, porém confiante pela
porta da sala, atravessou a casa e de frente aos olhos castanhos do homem ali
parado tomou ar para dizer alguma coisa:
-Querido, preciso te contar uma coisa... –
ia dizendo ela antes de ser interrompida pelo sujeito.
-Eu estou indo embora Isabela, minhas
coisas já estão na casa da minha mãe, isso é um Adeus. Eu detesto despedidas –
dizia ele quase que para si mesmo – A gente se vê por ai, boa sorte e até mais.
A porta bateu, e o ar deslocado pelo
movimento esbofeteou o rosto dela, que ali ainda parada no mesmo lugar
continuou falando com as paredes. “Consegui a vaga na gerência da empresa como
sempre sonhei...” e suspirando com desdém concluía sozinha “mas não que você se
importe.” E os dias seguintes foram nublados e tristes como as lágrimas do
adeus geralmente são.
A noite era limpa de um céu carregado de
estrelas, e na sala de estar jazia a mulher realizada e triste, chorando um
misto de felicidade e desespero, de quem perde um sonho em busca de outro. Era tarde demais,
ela sabia, mas seus braços dormentes e seus olhos de ressaca encobriam a força
de uma mulher de verdade, e mesmo tendo todos os sonhos do mundo, soluçou mais
uma vez com o silêncio das estrelas.
Um “hoo” quebrou o clima mórbido daquela
noite, e ela se adiantou até a janela onde uma coruja estava estática em cima do
muro do portão com os olhos fixos, como se a estivesse encarando. Ela ficou ali
observando e a coruja “hoo” outra vez, a cena se repetiu durante uma dúzia de
vezes e ela curiosa saiu para ver mais de perto, mas a coruja havia
desaparecido.
Os dias seguiram e a melancolia e dor
passaram para segundo plano, quando de repente tudo se resumia a curiosidade de
entender o porquê aquela coruja estava ali. Psicólogos diriam que era a mente
lidando com a perda, distraindo os sentimentos, mas no fundo tinha algo mais naquilo tudo. Alguns livros, pesquisas e estudos a tornaram apaixonada pelas
tais corujas, que tinham seus instintos de caça noturnos,
diversas vértebras no pescoço e aqueles olhos apurados e misteriosos...
Mas aquela coruja que toda noite ia
visita-la lhe trazia novos ares de um mistério, que talvez só a vida fosse capaz
de lhe traduzir com o tempo. Noites ficaram para trás, e sempre a visitante
desaparecia do nada. Então ela de repente percebeu, sua vida era sim completa, mais do que
imaginava.
No dia seguinte desceu do ônibus e a chuva
arrastava suas gotas pela atmosfera, e ao chegar em casa a chuva havia parado,
no entanto, não havia um arco-íris no céu. Ela amava o tal arco-íris, mas
sentia que ele aparecia apenas quando ela estava feliz. Ela então pegou a
mangueira, ligou o registro e mirou para o céu. A água subia e descia em forma
de chafariz e aos poucos as cores do arco íris formavam ali pertinho dela o
efeito prismático nas gotas de água, e ela então sorriu, era dona da sua
própria felicidade.
A noite caiu, a TV estava ligada, a panela
no fogo, música tocava nas caixas de som e ela dançava e cantarolava sem motivo
pela casa já de pijamas depois de um banho agradável. Sua alegria tomava conta
do ambiente de tal forma que ela mal pode notar uma visita inesperada na
janela, já dentro de casa, com os pés sob o sofá olhando para ela não mais com
os olhos misteriosos, mas com o olhar curioso, de quem sente a felicidade e
deseja saber como ela pode surgir de uma maneira tão natural e sem sentido
aparente. Ela sorriu para sua já conhecida visita, e ela com o luar nos olhos
respondeu-lhe: “hoo”.
***Gostou? Curte ai, obrigado ;)
Assinar:
Postagens (Atom)