sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Quando O Natal Chegar.

Por Kauê de Paula


Quando o natal chegar eu vou estar preparado para a festa. Vou estar esperando ansioso aquele momento único do ano onde há um sentimento mútuo entre as pessoas de compaixão e amor, onde todos juntos compartilham desse sentimento belo e humilde, que como uma epidemia cobre o planeta na noite de natal.

Olhando agora para o céu a neve já começa a descer como pequenos paraquedas que caem calmamente sem destino na superfície do asfalto, eu paro pensativo e alguns flocos pousam no meu rosto quente. Meu pensamento se volta aos meus pais, que Deus os tenha, e todos aqueles natais em família que sempre marcaram os melhores momentos do meu ano e da minha vida.

Desde que meus velhos se foram as coisas mudaram bastante, e só restou na minha vida a minha doce amada das bochechas rosadas, meu amor eterno de toda uma vida. Nos conhecemos há umas duas décadas atrás e desde então já dividimos histórias e momentos que caberiam em cinquenta e tantos livros e prosas de amor.

E quando o natal chegar eu vou estar olhando para ela, para minha doce amada. Com suas bochechas rosadas ela vai estar sorrindo, eu sei que vai, por que é natal, e ela adora o natal. Ela tem um aumento de contraste e brilho nos olhos nessa data, eu sempre vejo e me emociono profundamente.

Quando o natal chegar ela vai estar linda, mas não linda como normalmente ela é. Ela vai estar deslumbrante com seu vestido vermelho, que combina com seus longos cabelos vermelhos e que combina também com aquelas gigantes bolas vermelhas que ela usa para decorar o pinheiro de natal na sua sala de estar.

Quando o natal chegar eu certamente irei estar olhando para ela, contemplando aquele sorriso bonito, olhando de todos os ângulos possíveis, mas olhando pela janela, do lado de fora da sua casa, na noite fria, coberto de neve, olhando pelo vidro gelado e embaçado, vendo ela ao lado da lareira comendo as delícias da ceia de natal. Ela vai estar com aquele brilho, aquele vestido e aquele velho sentimento que me emociona.

Eu olho pelo vidro como um espião da Interpol e a vejo afagando os cabelos do seu filho, que em uma linda roupa de inverno desfila pela sala ansioso para abrir os presentes. Ele vacila e uma mão o segura pelo braço “cuidado meu filho” diz a voz masculina que sorri para o garoto e o abraça, logo em seguida o pega no colo e se aproximando da minha amada a beija na testa com ternura. De fato uma família linda.

A garrafa de Whisky escorrega pela minha luva rasgada e eu a deixo cair na neve junto com as lágrimas que congelam antes de tocar o chão. Eu continuo ali, as horas passam e os fogos tingem o céu da meia noite. Ela abre um sorriso e a emoção gera lágrimas em seus lindos olhos verdes. Eles abrem presentes e esbanjam o estereótipo de família realizada. E eu sei que ela está feliz, além do mais, eu a conheço melhor do que ninguém.

Em algum momento depois da champanhe ela desvia o olhar para o vazio, e talvez esteja pensando em mim, mas logo seu marido a abraça e ela volta do transe, e eu em tal posição não posso brincar de prever devaneios, logo ignoro a vaga e improvável possibilidade e abro um sorriso.

Um sorriso bem largo, por que a felicidade dela me contagia, me emociona e me aquece naquela noite demasiada fria. E eu sei que o natal será mágico, por que ela estará lá, brilhando como a minha eterna rainha em uma noite singular de inverno. Quando o natal chegar eu vou estar sorrindo, independente dos fantasmas da minha vida, por que algo dentro de mim, além do álcool é claro, vai estar me aquecendo como em todos aqueles outros natais olhando nos olhos dela, eu sei que vai, e ali na janela eu me completo como homem e ser humano.

Mas só quando o natal chegar.


***Curte ai por favor! 
E um feliz Natal pra todos vocês!