quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Meu amigo secreto




Meu amigo secreto costumava reprimir a namorada por ela gostar de usar roupas curtas, dizia que ela devia “se dar o respeito”, mas não tirava os olhos das mulheres que passavam de roupa curta por ele na rua. Proibia a namorada de usar esmalte vermelho porque achava que era coisa de “vagabunda”. Pagava de machão na rua quando alguém a abordava, com a alegação de que ela “era dele”, mas  podia ir toda sexta-feira com os amigos para o happy hour no boteco sem ela.

Meu amigo secreto acha que mulher tem a obrigação de cuidar da casa e dos filhos, já que ele que “sustenta” a família. Acha que mulher que cozinha bem já está pronta para casar. Acha feio deixar a companheira pagar o jantar porque é feio ser sustentado por mulher.

Meu amigo secreto tomou um pé na bunda da namorada e depois saiu dizendo para quem quisesse ouvir que aquela “vadia” tinha ido embora por que estava “dando para o mundo inteiro”, mas enquanto isso ele podia transar com todas as mulheres que conseguia. Meu amigo secreto, como retaliação e se fazendo de vitima, divulgou todas as fotos intimas da namorada nas redes sociais, mas acha uma baita invasão de privacidade quando alguém critica suas atitudes na internet.

Meu amigo secreto acha que empregos distintos e até mesmo dirigir têm alguma relação com gênero, mas aposta “racha” na rua e dirigi depois de beber umas “brejas” no sábado à noite. Acha que mulher que “pega geral” é vagabunda, mas ele é “pegador” depois de competir com os amigos na balada. Acha um absurdo dois homens se beijando em público, mas se masturba toda noite em casa assistindo pornô lésbico. Jamais entraria em uma balada LGBT com medo de que os homossexuais o tratassem como ele trata as mulheres nas baladas que frequenta.

Meu amigo secreto proíbe a filha de trazer o namorado para casa, mas ensina o filho a “passar o rodo” nas meninas da vizinhança. Acha que romance é coisa de “viado”, mas recita Shakespeare se for preciso para ganhar uma foda. Acha o feminismo um absurdo, vitimismo exagerado, falta de “rola”, diz que não existe, mas ouve o vizinho batendo na mulher e finge que é normal.

Meu amigo secreto acha que roupa curta tem associação com desejo sexual, acha que vitimas de estupro tem alguma culpa, acha que aborto é uma barbárie, pois é a favor da vida. Compartilha fotos de fetos em protesto no Facebook, mas abandonou a namorada grávida, não criou o filho e quando vê uma criança na rua pedindo esmola desvia o olhar e passa batido, afinal acha que todo mundo tem as mesmas oportunidades na vida, basta se esforçar, certo?

Meu amigo secreto passou o ano inteiro dizendo que não era machista na internet, mas semana passada deixou as regras de etiqueta em casa quando saiu à noite para flertar e tentou beijar uma dúzia de meninas a força na balada. Meu amigo secreto manda “nudes” não solicitadas e ainda acha que as pessoas devem obrigatoriamente sentir tesão por ele.

Meu amigo secreto está incomodado com as manifestações feministas na internet alegando que “nem todo homem é assim.”, mas continua sem se manifestar com aquela foto misógina no grupo dos amigos, sem se impor em ver o irmão destratando a namorada, sem tomar uma atitude em presenciar o chefe assediando a colega de trabalho.

Meu amigo secreto é meu ex, é meu pai, é meu melhor amigo, é o desconhecido no ponto de ônibus, é meu chefe, é uma mulher, é o pastor da igreja da esquina, é o presidente da câmara dos deputados... A minha amiga secreta levanta a cabeça e vai à luta com todo o apoio do poder feminino, por que somos todos contra o abuso das mulheres na sociedade. Seja você também!

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