Era repleto de arrependimentos
aquele coração, e nada mais era reversível a essa altura, ele até podia sorrir,
mas aquele suspiro carregava o peso da vida mal vivida, tinha as marcas no
rosto do tempo perdido, e pela última vez assistia aos flashes dos anos já
envelhecidos na sua memória. Uma lágrima escorria do seu rosto e ele tinha
certeza de que nada mais poderia fazer, o céu era lindo lá fora por trás da veneziana
branca.
Ele tinha os movimentos lentos e
aplaudia aquela canção de aniversário feliz, vendo seus poucos amigos e família
ali. Tantas velas e recordações, ele pôde sentar um pouco e relembrar todos
aqueles anos que passaram despercebidos, algumas risadas, alguns arrependimentos
e até alguns poucos projetos. A vida era difícil, se tinha tempo, mas a energia
era uma dádiva.
Cheio de vida preparava o jantar
daquela noite, a casa era bela, recém-construída e com um toque original que
tirava um sorriso dele todas as noites agradecendo o que construirá. Ele estava
cansado e logo tirou os sapatos pra dormir, o tempo era curto, tinha muito
trabalho pra amanhã, mas era boa a sensação de se viver uma vida cheia de luxos
e poder.
Ele mal ouvia a própria voz com
aquela música alta, algumas garotas passaram pelas suas mãos naquela noite,
enquanto a outra equilibrava o copo de cerveja, e seus amigos riam das coisas
bobas da vida, talvez fosse fria aquela noite, mas o calor no corpo trazia um
pequeno arrependimento dos estudos do dia posterior, e o dinheiro era como
aquela dose na sua mão, acabou antes que ele pudesse imaginar, assim como
aquela noite longa de inverno.
Abriu o embrulho que estava
embaixo da árvore e sorriu, mal pode abraçar sua mãe e foi logo mostrar aos
amigos, tinha que dormir cedo, mas não tinha muito com o que se preocupar,
assistiu mais um desenho na TV e pode dormir bem à noite. Acordou e foi à
escola, teve um bom almoço e voltou pra casa, sempre sorrindo e buscando
aventuras, olhando pras pessoas sérias de terno na rua e imaginando quando
poderia ser respeitado como alguma delas.
Abriu seus olhos e viu uma luz
forte, talvez fosse à coisa mais luminosa que veria, mas ainda teria que
conhecer o sol, que todas as manhãs estaria ali vivendo aquela vida, as
lágrimas caiam dos seus olhos e estranhos ali o olhavam sorrindo, ele foi
envolvido pela vida e seria levado daquele lugar para muitos outros, onde
encontraria todas as suas vontades e desejos. Mas ele tinha tempo, muito tempo,
o suficiente pra não se arrepender de nada, além do mais a vida acabava de
começar.