O homem em roupas pretas estava
sentado estático na cadeira do quarto com os cotovelos sobre a mesa. Ele
debruçava o queixo sob as mãos e observava fixamente a maleta bem no centro da
mesa de madeira. Era um indivíduo alto e corpulento, não parecia ser das
redondezas. O celular tocou, ele atendeu e balbuciou algumas palavras em um
sotaque estrangeiro e desligou. Ele passou os olhos lentamente pelo quarto de
motel, estava vazio e sujo, era uma espelunca que parecia o fim do mundo. A
madrugada já se adentrava naquele motel de beira de estrada e só o barulho do
ventilador de teto podia ser ouvido, até que um clique rompeu o silêncio por
uma breve fração de segundo. O homem levantou assustado, colocou a mão atrás
das costas e sacou uma arma. Ele destravou e engatilhou a arma enquanto olhava
pela fresta do vidro a imensidão deserta do estacionamento.
Uma gota escorreu
da sua testa e ele continuo estático ali, de guarda, próximo a porta, um olho
para a maleta e outro para o exterior do quarto. Depois de uns vinte e tantos
ciclos desse, ele demorou cinco segundos a mais olhando para a mala, e então um
tiro rompeu o silêncio quebrando a janela do quarto. O homem foi ao chão e se
protegeu atrás da cômoda de mogno do quarto. A porta foi arrombada, e em
seguida um homem adentrou o recinto. O homem desconhecido tinha uma pistola em
punhos e ao entrar cruzou o olhar com os olhos do outro caído ao chão sobre o
vidro estilhaçado atrás do móvel. O homem que estava no chão tentou abrir fogo
contra o invasor, mas não conseguia erguer o braço, percebeu então que o sangue
escorria pela sua camisa e tingia o carpete do quarto de vermelho. O estranho
se aproximou dele com a arma apontada para sua cabeça e o desarmou.
-Esperava algo mais difícil! Veja
só, se a maleta fosse uma cobra me picaria! – E riu sarcasticamente.
-Você não entende! – Dizia o homem
ao chão com um sotaque puxado e a mão sobre o braço ensanguentado.
-Me pergunto o que deve ter aqui
dentro. Aposto que alguns milhões pelo número de pessoas interessadas – E acariciava
a mala como uma relíquia.
-Você não faz ideia! Não cometa esse
erro, você vai morrer também! – Dizia o homem ao chão com dor.
-Você diz isso por que já perdeu! –
Apontou a arma e disparou um tiro no lado esquerdo do peito do homem.
O estranho ali pegou a maleta e saiu
do quarto calmamente se dirigindo para o carro estacionado do outro lado do
estacionamento. Ligou o motor e dirigiu em direção à cidade, estava sorridente.
Dois carros da polícia passaram por ele no sentido contrário em direção ao motel.
Os policiais encontraram um quarto com sangue e vidros ao chão, uma marca de
tiro na parede e o vazio da madrugada.
O sol começava a surgir no horizonte
de Washington e há essas horas o estranho com a maleta estacionava o carro ao
lado de fora de uma fábrica antiga. O local era enorme e parecia abandonado.
Estava completamente deserto e as janelas estavam destruídas, possivelmente uma
área industrial desativada na década de 70 e impregnada no meio da cidade.
O
homem pegou a maleta e se dirigiu para uma das portas no canto leste da
fábrica. Ao entrar passou por um pequeno hall escuro e se projetou por um
corredor longínquo e mofado, até que, enfim, atingiu um enorme galpão iluminado
pelo sol que entrava pelas janelas no topo das paredes metálicas daquele lugar
assombroso. Havia cinco homens ali, quatro deles estavam em pé e o último se
encontrava sentado em uma poltrona rasgada na lateral esquerda do galpão. Um
dos homens, que estava mais perto do estranho com a maleta, se adiantou, e
revistando o homem, retirou dele sua pistola e por seguir a maleta. O silêncio
até então era absoluto e a maleta foi levada até o outro lado do galpão, para o
homem na poltrona. E então o eco reverberou pelas paredes metálicas.
-Muito bem, meu caro! Fez um ótimo
trabalho! – Dizia o homem na poltrona com um tom misterioso e levemente
irônico.
-Então vamos abri-la para que eu
possa pegar a minha parte? – Dizia o estranho desarmado do outro lado da sala
com um tom retraído e cheio de medo.
O homem da poltrona começou a
gargalhar da pergunta feita pelo estranho, e depois de alguns segundos rindo
sozinho, sorriu, levantou da poltrona e cruzou o galpão.
-Não seja ingênuo, meu caro!
Dinheiro seria a última coisa que colocariam aqui dentro – e apontou para a
maleta em suas próprias mãos.
O estranho engoliu em seco e
perguntou o que havia ali dentro afinal.
-Existem boatos de que o governo
criou um armamento altamente nuclear que seria capaz de exterminar continentes
em poucas horas. Seria uma pena que esses projetos caíssem em mãos erradas
concorda? – E riu maliciosamente dando as costas ao estranho estático ali.
-Mas e nosso acordo? E meu dinheiro?
– Perguntou amistosamente o estranho.
-Ah sim! É verdade, havia me
esquecido desse pequeno detalhe. – E virou novamente de frente para o estranho
com a arma empunhada, e o tiro ecoou seco pelo ar, acertando a testa do
estranho que desmontou instantaneamente ali. – Me desculpe meu caro, mas as
informações têm seu valor.
O homem fez um sinal para os demais
e eles se dirigiram todos para uma porta de descarga na extremidade do galpão.
Um carro estava estacionado na porta aguardando os cinco homens. Mas enquanto
eles se dirigiam para o carro um dos capangas propositalmente retardou o passo,
e quando estava certo do cálculo que havia feito, retirou a arma da cintura e
atirou em dois dos homens em sua frente. Os demais correram, inclusive o homem
com a maleta, e se alojaram atrás das vigas metálicas que sustentavam a
cobertura do galpão. Eles trocaram tiros por cinco minutos e meio até que o
capanga que iniciou o tiroteio acertou o último capanga atrás de um dos
pilares, deixando vivo apenas o homem com a maleta.
-Seu traidor maldito! Você não sabe
com quem está lindando! – Esbravejava o homem com a maleta, que saiu correndo
em direção ao carro atirando freneticamente contra o traidor.
O homem conseguiu chegar até o carro
e entrou estupidamente rápido tirando as chaves do bolso e ligando a ignição.
De repente uma arma surge do banco detrás e encosta delicadamente na sua têmpora
direita. O homem estabiliza a euforia e fica imóvel.
-Na verdade, a gente sabe muito bem
com quem está lidando! – E o homem do banco detrás aperta o gatilho tingindo o
interior do carro de vermelho carmesim.
A maleta é recolhida das mãos do
homem morto e então o capanga chega ao carro.
-Você viu o papo desse louco de arma
nuclear? – dizia inconformado para o parceiro ali.
-Pois é! Deveras destorcidas as
informações aqui.
Os dois homens saíram da fábrica e
entraram em um carro estacionado ao lado de fora, passaram pelo carro do
estranho morto a pouco e seguiram pelas ruas frias de inverno de Washington.
-Você acha mesmo que as informações
nesses arquivos poderiam derrubar mesmo qualquer governo? Inclusive o dos Estados
Unidos? – perguntava o homem no banco do carona.
-Eu acredito que sejam quais forem as
informações contidas ai, elas valem muito! – dizia o homem ao volante com o
sorriso malicioso no rosto.
Estacionaram o carro na rua e
desceram em frente a uma cafeteria. Um mendigo sentado ao chão com um chapéu na
calçada estendia a mão pedindo dinheiro. Os homens ignoraram e passaram por
ele, mas o mendigo segurou o braço do homem com a maleta e balbuciou:
-O fim está próximo meu amigo, não
se deixe cegar!
E desvinculando-se do mendigo o
homem o empurrou para o chão, fazendo com que o mau cheiro retornasse e
enchesse suas narinas. Os homens entraram na cafeteria e passando pela porta
dos fundos atingiram uma escadaria que levava a um segundo andar com um vasto
corredor cheio de quartos. Eles caminharam até a metade do corredor e pegaram o
elevador que estava ali, subiram ao último andar, onde uma imensa suíte ocupava
todo o andar com uma vista panorâmica da cidade. Todo o perímetro do
apartamento era de vidro e todos os móveis estavam absurdamente limpos e
brilhantes. Um dos homens deitou-se na cama ao centro do cômodo enquanto o
outro pegava uma garrafa de uísque e servia em dois copos de cristal.
-É isso então? Conseguimos! – dizia
o homem tomando o uísque.
-Missão cumprida! Conseguimos os
arquivos que podem virar o mundo de ponta cabeça! Pergunto-me, por exemplo, os
segredos os quais o presidente esconde do mundo. – Refletia o outro homem já
meio afetado pela terceira dose de uísque.
-Sabe de uma coisa – ia dizendo o
outro homem levantando e se aproximando da porta do quarto – Eu tenho quase certeza
que minhas chaves estavam no meu bolso, mas sumiram. Você as viu por ai?
A porta da suíte abriu lentamente em
um ranger opaco e sinistro. Antes que homem que já estava bem próximo dela
pudesse virar para ver o que era, um ruído circundou o apartamento
conjuntamente com um clarão rápido e perturbador.
-Eu sei onde estão! – Disse a nova
voz no quarto com as chaves na mão.
O corpo do homem atingiu o chão em
menos de cinco segundo e o outro homem que estava embriagado mal teve tempo de
se levantar, o intruso ali se aproximou dele e apontou a arma para sua cabeça.
O individuo então olhou para o intruso e se assustou, era o mendigo que estava
na rua há pouco. O homem deitado tentou dizer alguma coisa, mas não parecia
conseguir assimilar as ideias.
-É claro que é um disfarce, seu
incompetente! – dizia o mendigo como se estivesse lendo a mente do outro ali.
-Você vai me matar? – perguntou o
homem.
-Claro que eu vou! – dizia o mendigo
– alias se você soubesse o raio de destruição dessa bomba dentro da maleta você
certamente imploraria para que eu atirasse agora em você.
-Bomba? Do que você está falando
cara! Não caberia uma bomba ai dentro! – dizia exaltado o homem deitado.
-Sim, é uma bomba, eu tenho certeza.
É uma nova tecnologia alienígena que o governo está testando, pode destruir
metade do país! – Dizia o mendigo com a barba suja cuspindo ao falar.
O homem ao chão demorou um instante
para processar a informação.
-Você é maluco! Alienígenas? Você
tem certeza que isso é um disfarce mesmo? – e riu tirando sarro do mendigo.
O mendigo pegou a maleta e a pôs
debaixo do braço, pegou a arma do homem morto próximo a porta e guardou a sua
no coldre debaixo da camisa suja, se aproximou novamente do homem ao chão e deu
dois tiros no seu peito com o revolver com silenciador. Os tiros saíram lisos e
sonolentos, o vermelho desceu encantadoramente pelo buraco no peito do homem e
tingiu o assoalho abstratamente com um toque lustroso da limpeza do quarto.
O mendigo tomou o resto de uísque no
copo de um dos capangas ali e se dirigiu a porta do quarto. Antes que atingisse
a porta ouviu o barulho de vidros quebrando, e quando se voltou para trás viu
meia dúzia de homens vestidos totalmente de preto com coletes e pistolas
entrarem pela janela panorâmica do quarto. Ele levantou a mão, mas os homens
abriram fogo quase que sincronizadamente, fazendo exatos seis furos no peito do
mendigo com a maleta.
Os homens fizeram um reconhecimento
do perímetro no apartamento e só depois de quase cinco minutos um deles tirou a
mascara e se aproximou da maleta ali no chão enquanto os demais vigiavam todas
as entradas. O homem com uma insígnia no peito sorriu, em seguida pegou a
maleta e fez um sinal com as mãos fazendo com que todos os homens o seguissem.
Eles se projetaram pelo telhado do apartamento onde dois helicópteros do FBI
esperavam já com as hélices em rotação. Os homens se dividiram e três deles
seguiram dentro do primeiro helicóptero, com a maleta e altamente armados.
Em cerca de dez minutos de voo o
piloto notou a falta de combustível e os oficiais ali dentro perceberam que o
tanque estava comprometido. O helicóptero passava por cima de uma enorme praça
pública e teria de fazer um pouso de emergência. Os homens treinados sabiam que
era uma emboscada e desceram preparados para um combate em campo aberto. Ao
atingir o chão os homens se mantiveram dentro do helicóptero a espera do pouso
da segunda nave que vinha logo atrás, mas um borrão cruzou o crepúsculo do céu
da cidade, fazendo com que todos os civis que estavam na proximidade corressem
eufóricos de medo. O helicóptero explodiu no ar e caiu em pedaços bem ao centro
da praça. Os homens desceram do helicóptero armados e não avistaram o inimigo,
que de muito distante dali dispararam três tiros perfeitamente calculados ao vento,
atingindo os três oficiais em menos de um minuto. Um homem que estava na praça
vestido totalmente ao casual, e aparentemente desarmado, pegou a maleta do
helicóptero e sumiu sozinho por entre as árvores antes que qualquer novo
cenário pudesse se estabelecer na praça.
Algumas horas se passaram e o caos
gerado era noticiado em todos os canais, onde ao fundo o helicóptero do FBI
ainda queimava no centro da praça. Na casa branca o presidente desligou a TV e
se dirigiu ao saguão principal, onde um homem em um terno preto de gravata
vermelha esperava em pé sozinho com uma maleta nas mãos.
-Parabéns soldado! – dizia o
presidente – mas o que aconteceu com a parte da discrição?
O homem pediu desculpas e entregou a
maleta nas mãos do presidente.
-Só confiaria ao serviço secreto
essa missão, é sempre um pesar enorme abrir fogo contra nossos próprios homens
– dizia o presidente com pesar e um severo tom de seriedade na voz – Agora, por
favor, pegue todos os homens dessa operação e se afastem até segundas ordens
daqui.
-De Washington Sr. Presidente?
-Não! Dos Estados Unidos!
O homem assentiu com a cabeça e se
retirou.
Algumas horas mais tarde quando a
noite começava a virar madrugada um homem adentrou os portões da casa branca
com uma pistola em punho. Sem diminuir o passo sacou a arma e atirou em dois
seguranças que desabaram no chão na hora, fazendo com que um alerta se
espalhasse e mais de duas dúzias de oficias corressem para a entrada principal.
Em alguns segundos os homens chegaram
à entrada e o intruso estava ajoelhado ao chão, sozinho, com as mãos na cabeça
e a arma jogada a três metros de distancia do seu corpo. Prenderam-no. Foi
levado para dentro das instalações sob forte vigilância. O homem era alto e
corpulento, meio esquisito e ficava balbuciando baixinho palavras em uma língua
estrangeira. Depois de alguns minutos encarcerado numa ampla sala, o assassino
foi levado as vistas do presidente, que dentro do salão oval esperava junto a
cerca de dez homens. O indivíduo algemado foi colocado sentado ao sofá da sala
e o presidente ordenou que todos ali saíssem da sala. O último homem saiu
fechando a porta. O presidente levantou dando a volta por sua mesa, encostou-se
à mesma como apoio e cruzando os braços disse:
-Sabia que você faria alguma
besteira cedo ou tarde, só não imaginei que seria tão estupida! Aparecer aqui
desse modo, desesperado. Temos vigiado você há tempos com essa maleta, e mesmo
que não estivesse em sua posse sabíamos que sua ficha batia com a de um
mercenário treinado. Apostei que estivesse morto depois daquele motel.
O homem soltou um riso discreto e
começou a falar.
-Não brinque comigo Sr. Presidente –
dizia com um sotaque bem acentuado – O Sr. bem sabe que se eu estou aqui é por
que quero. E mesmo que você quisesse duvido muito que saberia quem eu sou. –
dizia em tom desafiador o homem ali.
-Eu sei que você está preso, afinal
não me interessa da onde você veio. É um
assassino, será julgado assim que possível, mas antes temo que tenha
informações demais sobre a maleta – dizia o presidente dos estados unidos
apontando para a maleta bem em cima da sua mesa de gabinete.
-Aposto que até mesmo o Sr. anda
curioso para saber o que realmente existe ai dentro, afinal os rumores são
diversos e infindáveis – dizia o homem empolgado – Mas aposto que o Sr. seja
mais inteligente que a maioria.
-Sei exatamente o que há aqui dentro
– falou o presidente retornando a sua cadeira e se sentando em frente à maleta.
-Pois ora! Conte-me Sr. Presidente.
– dizia o estrangeiro com tom desafiador.
-A iniciativa privada tem feito
grandes avanços tecnológicos recentemente. Isso tem aberto espaço para uma
infinidade de novas possibilidades na área da genética, da biologia, de energia
e da saúde. Um conglomerado de empresas privatizou o conhecimento de novas
curas para doenças como a AIDS, para o uso de células tronco, clonagem,
regeneração celular, fontes autossustentáveis de energia. Informações que
mudariam todo o mundo e representariam um passo enorme de avanço para a
humanidade.
-E deixe-me adivinhar. O Sr. não pretende
revelar essas pesquisas – dizia o homem com quase total certeza.
-É claro que não! Imagina um mundo
assim, tudo mudaria, nossos recursos, a população mundial. As pessoas não estão
prontas para isso! Cabe a mim regular o processo de interação com essas novas mudanças.
-Como sempre o Sr. e seu país com
esse complexo de Deus, acreditando que detém do poder supremo de decidir o que
mundo precisa e quando precisa – dizia o homem com sangue nos olhos.
-Até por que foi Deus quem fez essas
descobertas! – Dizia sarcasticamente o presidente.
-O Sr. é engraçado. – dizia o homem
sorrindo – mas vou ter que desapontá-lo. Essa informação que você detém é tão
falsa quanto meu sotaque americano.
O presidente esboçou certa
preocupação, pensativo e cauteloso ia dizendo:
-Pois então me diga o que o traz
aqui, já que diz ter vindo aqui de propósito. Espero que tenha um bom plano de
fuga, meu caro. E enfim, o que há então na maleta?
O homem desviou o olhar dos olhos do
presidente e com a mente bem longe daquela sala disse:
-Fique tranquilo Sr. presidente, eu
não vou a lugar algum! – fez uma breve pausa – Acho engraçado o fato de que só
o Sr. realmente saiba a combinação para abrir a maleta.
O presidente suspirou. Ele realmente
tinha essa informação, mas alguma coisa ali não parecia certa.
-Vai dizer que minha informação
também está errada? A senha então é outra? Deixe-me adivinhar, só você sabe? –
sondava o presidente.
-Na verdade eu não sei, mas posso
apostar que sua informação está correta – dizia o homem em um tom divertido.
-Me cansei desse seu joguinho.
O presidente rodou os números no
canto superior da maleta colocando os valores que ele acreditava ser o único a
saber. Enquanto selecionava os números ficava pensando em quão conveniente àquela
informação era e como havia chegado a seu poder tão misteriosamente. Mas não
importava, precisava saber o que havia afinal ali dentro.
A maleta fez um clique, então o
presidente retirou a trava e a abriu lentamente. Uma fumaça branca saiu de
dentro da maleta e tampou a visão do presidente por um instante, logo ela se
dispersou pelo ar e desapareceu de vista, dando lugar então para uma visão
plena do conteúdo da maleta.
-Você deve está de brincadeira
comigo! – disse com raiva o presidente.
-Olhe com atenção, garanta que o Sr.
não esteja perdendo nada – dizia o homem imparcial.
-Está vazia! – exclamava furioso o
presidente.
-Ora! Não seja tão pessimista Sr.
presidente, até um copo meio cheio de água está sempre cheio, metade água,
metade ar – dizia filosoficamente o estranho algemado ali – ai dentro existe
algo muito mais poderoso do que qualquer uma das coisas que você imaginou
existir.
O Presidente ficou em silêncio sem
entender o que o homem queria dizer. Ele continuou falando:
-Dentro da maleta existe uma ideia.
E uma ideia, Sr. presidente, é quase impossível de se erradicar. Sua versão
mais simples pode crescer na cabeça das pessoas e dominar sua mente. É uma arte
sutil.
O presidente continuava confuso, mas
dessa vez estava tremulo, suas mãos começavam a tremer compulsivamente.
-Veja bem! Sé possível roubar uma
ideia da cabeça de alguém, por que não também seria possível inseri-la? Há
rumores circulando pelo mundo hoje, Sr. presidente, de que essa tecnologia nova
destrutiva é nossa, além de que o presidente dos EUA está morto – dizia o homem
com um sorriso no rosto – Claro que nenhuma ideia é simples quando se quer implantá-la
na cabeça de alguém, mas temos o nosso charme, Sr. presidente, essa detenção de
potencia mundial não merece mais a exclusividade dos seus cuidados. É por isso
que a partir de hoje ela será nossa!
O presidente fraquejou na cadeira e
tentou se levantar. Ficou tonto e sua cabeça começou a arder, os olhos a
lacrimejar e seu nariz começou a sangrar.
-O que tinha naquela fumaça, seu
miserável, que cheiro é esse? – dizia o presidente arquejado com as mãos sobre
o rosto.
-Esse, Sr. presidente, é o cheiro da
ambição!
Assim que o presidente caiu no chão
o homem se levantou calmamente do sofá e foi até a mesa do presidente. Retirou
vários papeis de dentro da mesa do gabinete e mesmo com as mãos algemadas
conseguiu uma digital para os documentos com a assinatura e o carimbo do
presidente. Colocou tudo dentro da maleta, a fechou e deixou em cima da mesa
voltando para o sofá.
-As palavras são poderosas! – dizia o homem para o presidente já sem respirar no chão do
próprio gabinete – às vezes elas são tão fortes quanto impérios inteiros. As
palavras e ideias, Sr. presidente, ambas são a prova de balas!
O homem continuou sentado no sofá e
olhava o relógio compulsivamente. Até que um helicóptero do exército russo
começou a pousar no jardim da casa branca. Um tiroteio foi aberto ali e era
possível ouvir o som de centenas de vidros sendo quebrados. Em meio ao caos da
madrugada a janela da sala foi quebrada, por ela um soldado entrou e pegou a
maleta. Antes de partir disse.
-Excelente trabalho companheiro! –
dizia ao homem corpulento no sofá – Seu feito será memorável. Você prefere
esperar a sentença de morte?
-Não,
por favor, faça as honras! – disse o homem no sofá sorrindo.
-Mne
ochen' zhal' – lamentou o soldado
-Feliz
novo mundo soldado! – retrucou o homem corpulento.
E o
soldado atirou no homem, que caiu deitado no sofá sorrindo, tendo a certeza de
que todo o sangue que havia escorrido ali hoje valeria a pena. Em prol de uma
causa, a favor de um novo amanhecer do outro lado do globo, onde mais uma vez
um governo se reergueria pela derrubada de outro.
O soldado entrou no helicóptero com a
maleta. A viagem era longa.
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