terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Efeito Colateral



Você me puxa pela cintura, me beija até perder o folego, e aqui estamos mais uma vez. Me entrego de corpo e alma, e você só de corpo. Você me abraça forte, puxa meu cabelo e me faz perder a cabeça. Eu não consigo parar, eu nunca nego uma dose de você. Então você me aberta com tanto tesão que eu quase confundo com amor, e me puxa cada vez mais forte para perto de você, bem perto. Os seus olhares me perseguem, quase não consigo raciocinar direito. É humanamente impossível usar a razão e não me entregar. Eu sou completamente fascinada pelo seu olhar de desejo, você me deseja muito e isso está escrito na sua cara, no seu olhar, no seu corpo, no seu toque, no seu beijo, no seu sorriso, está escrito claramente em todos os seus, meus, nos nossos detalhes. Você me faz mulher e sustenta o meu vício, mais uma dose de nós, do nosso quase amor. Você diz coisas que eu não gostaria de ouvir da boca de mais ninguém, você me chama de linda e é tão carinhoso e malicioso ao mesmo tempo. Então me carrega como se eu fosse sua, e continua me deixando sem ar e me calando com os seus beijos. Você repara até nas minhas pintas espalhadas pelo corpo, e sempre comenta do gosto de perfume misturado com óleo de amêndoas que eu tenho. Você faz do meu corpo o seu livro, deixando marcas por onde toca, por onde passa. Você elogia as minhas lingeries e unhas, você adora quando eu combino renda branca com francesinhas. Você beija todas as minhas tatuagens e me deixa completamente vermelha com a sua barba mal feita. Enfim, você deita ao meu lado exausto, e por alguns minutos eu fico te olhando completamente satisfeito, em relaxamento profundo. Fico te olhando lindo e suado, você sorri e me puxa para perto, eu deito no seu peito e ficamos em silêncio. Eu gostaria de ler o seu pensamento naquele exato momento, gostaria de entender o seu silêncio...Será que só de pensar no meu nome as suas ideias saem todas do lugar também? Te convido para tomar banho e peço para não molhar o meu cabelo, você adora me contrariar, me carrega, me molha inteira e bagunça cada fio de cabelo meu, assim como meus sentimentos. Você lava as minhas costas e a minha alma ao mesmo tempo, você sempre termina o banho primeiro. Deitamos na cama novamente, eu te peço uma massagem nos pés e você nunca nega. Você sempre comenta que meu pé é muito pequeno e que eu consigo comprar sapatos com numeração infantil. Você reclama quando eu uso esmalte escuro nos pés e diz que “bonito mesmo é clarinho com a ponta branquinha” e eu sempre falo que vou fazer francesinha pela milésima vez, só para te agradar. Então você começa a olhar o celular e diz que já está ficando tarde e que precisa ir. Eu nunca me dei bem nas aulas de teatro, você percebe a minha cara e a minha sobrancelha levanta involuntariamente. Eu digo "Ok, tchau", mas você sabe que no fundo sou uma menina mimada que só queria que você ficasse. Mas ficasse de verdade, ficasse depois de brigas, depois de sexo, depois da balada, depois do almoço, depois do jantar, depois do museu, depois do shopping, depois do bar, depois da livraria, depois de mais uma das minhas crises existenciais, depois das minhas chatices durante a TPM, depois dos meus estudos intensos para as provas, depois de alguma briga minha com o meu pai, depois dos meus dias felizes de compras, depois da academia, depois da aula, depois do trabalho... Eu só queria tomar a minha dose de você todos os dias, só queria que você ficasse, por inteiro, de corpo e alma. Você segura a minha mão e me faz sentir tão pequena. Gostaria que soubesse que eu te acho um grande homem, não estou falando sobre você ser bem maior do que eu, mas sim um grande homem na vida, no mundo. Finalmente você pede para eu abrir a porta, eu fico na ponta dos pés para te dar o último beijo, a última gota da minha dose. Você me abraça e beija a minha testa. Sem "tchau, volto em breve", simplesmente me solta e some. Some do meu celular, da minha cama, do meu banheiro, da minha rotina. A única coisa que resta é o cheiro do seu suor no meu lençol, e os efeitos colaterais que a sua dose me causou. E eu fico aqui, sozinha, deitada nessa cama imensa, sentindo o seu cheiro e imaginando o seu toque. Não entendo porque eu ainda insisto em te ter por algumas horas sabendo que os efeitos colaterais vão durar dias, semanas e talvez meses. Você nunca me liga para saber como estou, ou como foi o meu dia, você só me procurar quando diz que está com saudades e precisa me ver. Como dizia Renato Russo, “Você me tem fácil demais, mas não parece capaz de cuidar do que possui...”. Aposto que você nem se da conta do efeito que me causa. Você não sabe, mas é uma droga, um veneno e um remédio ao mesmo tempo para mim. E os efeitos colaterais começam a me consumir, eu sinto a sua falta como se faltasse um pedaço aqui dentro. Eu sinto vontade de te ligar só para reclamar de alguma amiga, só para te contar das notas das minhas provas, só para perguntar que cor devo pintar minhas unhas, só para te contar do livro que estou lendo ou da promoção da melhor loja de sapatos da cidade... Eu queria saber como andam os seus projetos, o que você anda ouvindo no ipod, se você voltou a malhar e se comprou a camisa branca que tanto queria. Eu odeio ficar aqui sozinha, pensando em você e nos seus detalhes que me encantam tanto. Eu odeio ouvir músicas que só falam de nós. Eu odeio te enxergar em todos os lugares por onde eu passo. Eu te vejo em todos os sorrisos bonitos, em todos os olhares maliciosos, em todos os cantos, por toda parte! E eu não aguento mais os efeitos colaterais misturados com essa abstinência de você. Abstinência de uma história que eu gostaria de escrever ao seu lado. Abstinência de uma certeza entre nós, de um quase amor e uma amizade colorida. E aí você some durante algumas semanas, e de repente em plena quarta-feira chuvosa o meu iphone toca, e eu tento não atender, mas já desisto no terceiro toque. Você diz o de sempre, diz que esta com saudades e que quer me ver, eu aceito sem hesitar. E aí você vem, invade o meu apartamento, o meu quarto, a minha cama, o meu corpo e a minha alma. E eu tomo mais uma dose de você, sabendo que tudo isso já se tornou um vicio, e que mais tarde eu vou ter que lidar com os efeitos colaterais e abstinência que você me causa. E parece que a cada dose tudo fica mais gostoso. E eu acabo não me importando com os efeitos colaterais, pela milésima vez me entrego de corpo e alma, e te aceito com todos os seus defeitos e falhas. É como se eu aprendesse a lidar com o vazio que fica quando você sai por aquela porta e bagunça o meu mundo mais uma vez. E o pior de tudo é me render ao vício sem me importar com as consequências. Enfim, você me puxa com força e tira meu folego de novo, e tudo começa outra vez...

Nicoly de Paula Costa

2 comentários:

  1. Muito lindo, aqui é transcrito os sentimentos que não conseguimos expressar... E gostei desse "epigrafo" em particular... Sou orgulhosa o bastante para ficar quieta quando na verdade eu queria gritar....

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