segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Um quase amor azul oceano...

Já fazem alguns meses que eu não escrevo sobre você. Outubro passou, novembro também e eu confesso que estava tranquila com o fato dos meus pensamentos alcançarem novos horizontes, longe dos seus olhos azuis oceânicos. Chegou o Natal, as luzes acompanhando todas as ruas, aquela cachaça empurrada na boca da minha família nada conservadora e o meu sono após a ceia, sono esse que trouxe seus olhos azuis em sonho, e eu pude sentir você presente em uma ausência infinita junto com a maldita hora em que reparei ainda te amar.

A vida tem umas correrias entre seus passos cansativos e eu confesso que entre pedras que se tropeçam e mãos que se conversam, eu andei até a sua porta, senti seu cheiro de perfume Johnson que meu primo de seis meses utiliza e que você, como criança até nisso, sempre gostou. O que doeu naquele dia não foi o perfume relembrado, nem as estrelas que não brilhavam da mesma maneira desde a noite em que nos despedimos. O que doeu foi ouvir o seu sorriso do lado de fora e te escutar amando outra pessoa, o que doeu foram seus olhos azuis virando as costas para o nosso amor -Se é que é/era mesmo amor- pela segunda vez quando eu enfim tive a coragem de apertar a campainha.

Passei uns dois meses evitando pensar em você, passei muitas horas tentando não escrever, não falar, não olhar as fotos e não sonhar com os olhos oceânicos. Sabe o que são dois meses tentando se livrar até dos sonhos? Eu tentei o máximo que pude, olhei todos os dias para minha melhor amiga e não a contei que os olhos dela eram iguais aos seus, abracei todas as pessoas que eu sempre abraço e em nenhuma delas encontrei o perfume de bebê, olhei para cada árvore e guardei quietinha as lembranças de você subindo no tronco em frente a igrejinha de esquina, vesti o casaco listrado que cabiam umas duas de mim e deixei proibida a lavagem dele, apenas com a intensão de te evitar o máximo mas não te deixar morrer completamente.

Pois é meu bem, o amor é isso mesmo, parece que vai ser um conto de fada no começo, mas depois a gente percebe que não existem príncipes encantados em cavalos brancos, existem Shrek's montados em éguas, e ou a gente aprende a ser fiona, ou se desprende de vez de todas as colocações que o verbo amar traz consigo. Ou preparamos nosso coração e nossa mente para a possibilidade de um amor destruído, ou não colocamos a nossa expectativa em cima de perceptíveis ilusões, e talvez o maior erro da minha existência tenha sido te reconhecer como ilusão desde o princípio e preferir acreditar, descartando a única possibilidade de dar tudo errado no fim das contas.

O que vale é que dois meses depois de não pronunciar seu nome nem em sonho, eu lembrei dos seus olhos azuis em algum cochilo no intervalo de tempo em que estudava e tomava o meu café, então resolvi ir em busca do amor encantado que acabou virando desencanto pela segunda vez. Depois de dois meses sem falar com você e um mês inteiro sem te ver, eu caminhei todos os meus labirintos interiores como a Alice que se perdeu no país das maravilhas, peguei o pozinho mágico da sininho e transformei-o em coragem dentro do meu peito, coragem para sair de casa com um casaco maior do que tudo o que cabe em mim, e ir em busca de um provável amor. Eu descartei mais uma vez a possibilidade de dar tudo errado (Como era evidente que daria), e corri para a sua porta transparente onde fiquei estatalada por alguns instantes, sentindo o seu perfume que estava atravessando todas as portas e paredes e penetrando na minha alma, e de repente te ouvi gritar do lado de dentro que amava alguém.

Talvez você tenha sido a maior desilusão que eu poderia ter experimentado em algum segundo da minha curta existência nessa terra, talvez eu tenha lembrado do quanto todas as suas palavras ainda estavam comigo e talvez ali, naquela porta, segundos antes de apertar a campainha, o casaco tenha se tornado pequeno para o tamanho de tudo o que eu estava sentindo. Acontece que mesmo prevendo tudo o que aconteceria, eu apertei a campainha, e você abriu com seus olhos de oceano, me abraçando forte e me chamando de amiga, e junto com o abraço, veio o seu novo amor se apresentar a mim, e foi ali que eu percebi o quanto estou vulnerável aos ataques da vida, foi quando você fechou a porta piscando os olhos que eu toquei meus dedos na flor de frente a sua casa e voltei ate a minha morada, foi ali que eu pude enxergar a falta de reciprocidade nos amores do destino, e foi naquele instante, graças a você, que eu percebi que ainda te amava mesmo você não se encaixando nos padrões de beleza que possivelmente me atraíam, e ali eu voltei para dentro dos meus humildes labirintos e me perdi mais uma vez com gotículas de expectativas de encontrar algo que pudesse suprir a sua ausência que estava machucando mais do que a queimadura que eu havia levado naquela semana, porém confesso: Nenhuma perdição pode preencher a falta de um quase amor, nem outro quase amor pode substituir um romance anterior,  porque mesmo não sendo inteiro, você foi a metade mais completa que eu pude experimentar.

    (Marina Galvão)

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