domingo, 21 de julho de 2019

Um expresso sem açucar, por favor!



Debaixo do edredom, na noite fria, ainda via pela fresta da cortina o céu estrelado. No quarto o silêncio fúnebre, e lá fora as árvores balançavam como se quisessem fugir logo daquele lugar. Na parede do quarto as sombras do luar de inverno, que invadiam a vaga solidão de mais uma noite de insônia mal dormida. Uma última olhada por cima do ombro para ter certeza de que ninguém habitava o travesseiro ao lado, e sabotando a si mesmo mais meia dúzia de lágrimas escorriam pelo rosto sem destino certo para pousar.

No cheiro suave de grama molhada e no aroma de café moído logo pela manhã, te encontrei em cada lugar que meus sentimentos pudessem existir. Te vi nas nuvens brancas de algodão do céu azul e nas sombras escuras dos bares da cidade. Te toquei nos meus sonhos e te perdi novamente todas as vezes que abri os olhos. Me cansei de sentir a dor da tua ausência e me convenci um milhão de vezes em acreditar que o amor renasceria. Aonde está você agora, além de aqui, dentro de mim?

Tirei umas férias das paranoias da minha cabeça e me convenci de que o amor ainda habitava meu corpo. Quanto mais eu me forçava a sorrir mais eu me isolava da realidade. Me tranquei no faz de conta que minha cabeça criou. O sorriso seco e vazio de quem está morrendo por dentro, pedindo socorro, buscando renascer sem saber como. Não há pior sensação no mundo que acordar num dia lindo, com o céu azul e os pássaros cantando, mas se sentir vazio e incompleto, como se não fizesse mais parte dali. Um estranho perdido no mundo vasto, buscando um encaixe invisível, se decepcionando a cada passo, caindo e levantando como se as cicatrizes te tornassem cada vez mais forte, mas no fundo se sentir cada vez mais fraco.

A vida é um suspiro. Cada momento é efêmero e infinito como milésimos em um segundo. Queira viver intensamente e queira aproveitar cada momento... Não sei quando foi a última vez que te procurei pelos corredores de casa, mas o tempo passou e hoje estou mais forte, mais feliz quem sabe, só levo a certeza de que toda essa aventura valeu a pena. E sofrer, no fim, faz parte! Obrigado, talvez, pela experiência. E quem sabe amanhã o cheiro de café tenha um significado maior e mais prazeroso, na xícara de um outro alguém, no brilho de um novo olhar.