segunda-feira, 30 de julho de 2012

Assim seja.




Não sei em que esquina nos perdemos.
Muito menos onde estamos
Mas que seja claro até o final
Eu não sei o que me manteve em pé
E espero que tudo possa seguir
Seja como for e quando tiver que ser
Um dia a gente se encontra por ai.
E amanhã o sol pode nascer
Ou mais uma nuvem pode chover
Mas a dor de hoje à noite
É a resposta para o futuro.
Sabendo que nos teus olhos
Ainda pode existir o nosso amor.
                        E que assim seja sua vontade.
Quem sabe daqui até a eternidade.

domingo, 29 de julho de 2012

Proposta Indecente.



Mas há de certo algo bem errado.
Será mesmo que faz algum sentido?
São dessas coisas que às vezes eu fujo
Você compartilharia essa loucura comigo?
Esse presente torto mal desenhado
Perdido num passado de incertezas
Belo por linhas sinuosas e vagas
Morre aqui mais um conto de fadas?
O amor de verdades camufladas
Terno e sereno em seus defeitos
Doce e amago em suas diferenças
Todo o amor em seus trejeitos. 
O que se deve fazer agora?
O caminho pode parecer certo
Mas onde está minha garantia?
Tudo me parece de muito incerto.
O fim chegou por telegrama
Abortei o final premeditado
Mas entenda os meus motivos
Foi tudo bem planejado
A esperança de olhar novamente
Teus olhos ainda são de matar.
Mas eu sei que por enquanto
Nada em nós vai funcionar
Mas ainda quero um ultimo lance
Pra fechar o nosso instante
E guardar o último pedaço
Que nos resta dessa dança.
Então lhe faço essa proposta indecente.
Ainda acho que não deva aceitar
Por que algo no verde do teu olhar
Diz que ainda posso me aprisionar.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

As lágrimas do Adeus.




Eu aqui com meus botões e percebi que nunca parei pra falar do ‘adeus’. É algo tão banal, algo que a gente tenta passar por cima, apagar das nossas vidas, fingir que não está lá, numa busca incansável de tentar passar pelas suas dificuldades o mais rápido possível. Por isso eu nunca falei sobre isso, como muitos, meu orgulho é muito grande pra admitir que algo esteja fora do normal, mas não há como negar o processo, ele deixa cicatrizes e dá abertura pra novas possibilidades, mexendo, alterando e às vezes até mudando completamente a vida da pessoa.
Há uma infinidade de tipos de ‘adeus’, não quero entrar no assunto, mas todos eles trazem como consequência o desapego, seja pelo que for. Quando a gente cultiva algo em nossas vidas ela passa a fazer parte nem que indiretamente do nosso dia a dia, e quando temos que corta-la é como se uma parte da gente fosse arrastada junto, o processo de superação é demorado e a gente busca algo que possa servir de apoio para substituir o valor que aquilo tinha na nossa vida, nem sempre dá certo.
Às vezes trocamos gato por lebre ou nos jogamos de cabeça em algo precipitadamente por fragilidade, mas também não quero aprofundar isso. O essencial de tudo isso mesmo é aceitar que a vida é um caminho de mudanças, ela é repleta de direções e vire e meche temos que mudar, aliás, a mudança é sim sinônimo de crescimento e de experiência, seja ela boa ou ruim, mas mudar é sempre experimentar algo novo, e mesmo que o arrependimento bata o que a gente não pode jogar fora é a lição aprendida, seja ela qual for.
Eu já tomei muita cacetada da vida pra poder dizer que não derrubei nenhuma lágrima em momentos que minha vontade era de desaparecer do mundo, mas isso não muda o que a gente sente por dentro, e vai ser sempre assim, a dor não muda pra quem continua buscando. E eu espero sempre poder concertar os meus erros e superar os meus limites, tem dado muito certo, e espero também que as pessoas que tive que magoar durante esse processo possam me perdoar, assim como eu as perdoo por tudo, por que a vida é assim mesmo, a gente acorda um dia e muda tudo, por mais que seja a decisão correta a dor vai bater na sua porta hora ou outra. Amarguras de lado e vamos sorrir para o amanhã. E o que cabe bem aqui no final é o que uma pessoa me disse uma vez, não só por dizer, mas com convicção e um sorriso no rosto “O importante mesmo é ser feliz”.

domingo, 15 de julho de 2012

Tempos Traiçoeiros.





Abotoei minha camisa xadrez e meus sonhos, olhei pela janela naquela noite, e senti caindo por entre o vidro embaçado de umidade a escuridão e a ansiedade. Aprecei meu passo, era quase hora. Contei 27 segundos olhando para o relógio e a chuva começou a bater no telhado, esbocei um pequeno sorriso e me projetei pela porta da frente.
            Era um dia especial, e o frio esmurrava meu rosto na tentativa de me cegar. Colhi algumas imagens da rua deserta, e fiquei fantasiando mais um filme de horror. Eu não tinha mesmo pressa, a vida era longa e castanha pelos olhos do cachorro molhado na rua.
            Adiantei-me pelo beco escuro, cortando caminho por ansiedade. A água escorria pelo asfalto e eu não a sentia no meu rosto. Era uma mistura de desejos e dor que parecia romper a realidade, fiquei observando...
            O fogo queimava embaixo dos meus olhos, refletia a brasa cortada pelas rajadas de chuva, e eu imaginei o tamanho do pecado que trazia aquela fumaça, desafiando as leis da física. Ainda pude olhar para os lados, buscando alguém naquela noite fria, mas o fogo se apagou e continuei a caminhar.
            Eu não queria chegar, mas já estava molhado, ninguém me assistia nas ruas, e eu não tinha como transcender o meu mau comportamento, olhei compulsivamente o relógio e não achei os números que queria. Dei-me por vencido e segui cabisbaixo, além do mais era quase hora, e eu não podia me atrasar, a vida era longa e eu tinha que atravessar o horizonte, para encontrar a mim mesmo, além da chuva e da brasa gelada daquela noite, olhei uma última vez o relógio e estiquei mais um sorriso, era quase hora.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

A Rosa Azul.


A chuva descia rala e silenciosa naquela manhã cinza, o vento soprava a única melodia na atmosfera. Perdido pelo vasto campo gramado nascia uma rosa azul, bebendo gradativamente a água vinda dos céus. Aos poucos a rosa cresceu e não só ficou linda, mas ganhou a companhia de centenas de milhares de outras rosas e flores. Era um jardim natural espantoso em suas dimensões e beleza.
As pessoas passavam por ali, e ninguém deixaria de notar a maravilha que aquelas cores formavam no horizonte. O sol refletia em cada pétala e o vento tornava vivo aquele mar de perfume. O jardim era um ponto turístico, e em meio às vozes, a rosa azul sempre ouvia:
“É um belo jardim!”

Realmente era de se encher os olhos, e a cada dia as cores tornavam aquele lugar mais sagrado e cômodo aos sentidos. O que ninguém podia ver era apenas o que a rosa azul via, era o lado escuro do jardim. A noite fria arrastava o vento pelas violetas, a chuva vinha forte levando as margaridas para longe, e o tempo ia despedaçando cada pétala das centenas de flores que habitavam o jardim. Novas vidas iam nascendo e tudo continuava lindo, os anos passavam e lá estava nossa rosa azul, cintilante e bela como sempre, forte e sobrevivente ao diluvio, dotada de toda a experiência e mérito de quem passou pelas piores armadilhas da vida, todos tinham respeito por ela naquele jardim, todos que ali moravam.
As pessoas voltavam a caminhar pelo jardim nos dias ensolarados, e a reação era sempre a mesma, cada um vivendo ali seu momento de felicidade e realização. A rosa azul tinha seu propósito naquela vida, e ela sabia disso, por mais banal que ele viesse a ser, ela sabia que o aguardava em algum momento. As mãos vieram delicadamente e retiraram a rosa da sua casa, com tamanha simplicidade que ninguém diria o que ela já havia passado. “Pode ser essa daqui papai?” ressoava as vozes, e em seus últimos suspiros a rosa azul entendeu o seu propósito, ela estava feliz e podia ouvir ao fundo “Claro filha, todas elas são exatamente iguais!”.

Mais um dia se pôs ao horizonte do jardim, e aquelas novas flores foram dormir sem uma de suas mais vividas amigas, se fora como uma qualquer, como uma flor frágil e sensível, mas ninguém se importava, por que lá do outro lado, o vento sussurrava pelos corredores coloridos a voz que dizia todos os dias:
“É um belo jardim!”






sábado, 7 de julho de 2012

Processos da vida.


Kaue de Paula 07/07/2012



Janaina ajeitou os cabelos ruivos e os colocou esparramados nas costas, a cascata vermelha fez barulho e espirrou o cheiro de shampoo vagarosamente pelos quatro cantos do cômodo.  Ela olhou para os lados, buscou algum pensamento olhando para o teto, e logo disfarçou novamente as suas ideias confusas de sexta à noite.

Ricardo tirou o boné pra coçar a cabeça três vezes, e ainda assim, se sentia totalmente deslocado daquela realidade, ele também buscava inspiração nas paredes brancas, mas aparentemente só via a realidade que não deveria, mas tinha que aceitar.

Foram anos que o processo se fez falho para ambos os lados, era um circulo vicioso, com uma perna manca, ninguém ousava a tocar nas feridas, muito menos trazê-las de volta em forma de argumentos, para mais uma nada inédita possibilidade.

Janaina talvez não tenha dormido aquela noite, entorpecida de meia culpa e meio prazer. Ela não sabia o que dizer, muito menos o que fazer, a única certeza era de que alguma coisa estava errada, e o trabalho que daria para consertar parecia aborrecê-la. Talvez ela esperasse algum tipo de atitude que desencadeasse um processo de confiabilidade, do qual há anos vinha a falhar e dar lugar para o ódio e a distância relativa ao fim do ciclo já citado, ou quem sabe os traumas fossem grandes o suficiente para prendê-la naquela situação, e descartar o novo por algo como o medo por exemplo. Ou simplesmente ela não sabia...

Enquanto os lábios se tocavam Ricardo só tinha uma certeza, aquilo continuaria a se repetir infinitamente e periodicamente até que alguma posição fosse tomada, e em um futuro houvesse a chance de testar o sonho que ficou enterrado há alguns anos atrás. Ricardo tinha mais medo do velho, o novo era fácil de lidar, ele buscava enxergar aonde ele deveria tropeçar para que dessa vez todas as peças do tabuleiro caíssem junto com ele, talvez precipitado, mas o desejo o empurra em direção as respostas, por que ele já não queria deixar o ciclo vivo dentro da ordem já estabelecida.

Meio segundo de um sorriso canto de boca, e uns dobrados de dúzias de minutos olhares paralelos, e assim aos poucos o desejo ia afundando a razão novamente naquele jogo. Espera-se que eles possam entender melhor a situação, e independente de qualquer fagulha que possa causar um incêndio, possam compreender que isso precisa de leis e decretos para que se haja a paz, por que a dor é determinante nesse ciclo.

Assim como a dor, a simplicidade e nostalgia de afeto que transborda naquele beijo é um bom motivo e quem sabe suficiente pra que eles possam subir esse degrau que ficou perdido na história de cada um, além do mais, a combinação entre eles pode ser única, ou simplesmente não.