sábado, 7 de julho de 2012

Processos da vida.


Kaue de Paula 07/07/2012



Janaina ajeitou os cabelos ruivos e os colocou esparramados nas costas, a cascata vermelha fez barulho e espirrou o cheiro de shampoo vagarosamente pelos quatro cantos do cômodo.  Ela olhou para os lados, buscou algum pensamento olhando para o teto, e logo disfarçou novamente as suas ideias confusas de sexta à noite.

Ricardo tirou o boné pra coçar a cabeça três vezes, e ainda assim, se sentia totalmente deslocado daquela realidade, ele também buscava inspiração nas paredes brancas, mas aparentemente só via a realidade que não deveria, mas tinha que aceitar.

Foram anos que o processo se fez falho para ambos os lados, era um circulo vicioso, com uma perna manca, ninguém ousava a tocar nas feridas, muito menos trazê-las de volta em forma de argumentos, para mais uma nada inédita possibilidade.

Janaina talvez não tenha dormido aquela noite, entorpecida de meia culpa e meio prazer. Ela não sabia o que dizer, muito menos o que fazer, a única certeza era de que alguma coisa estava errada, e o trabalho que daria para consertar parecia aborrecê-la. Talvez ela esperasse algum tipo de atitude que desencadeasse um processo de confiabilidade, do qual há anos vinha a falhar e dar lugar para o ódio e a distância relativa ao fim do ciclo já citado, ou quem sabe os traumas fossem grandes o suficiente para prendê-la naquela situação, e descartar o novo por algo como o medo por exemplo. Ou simplesmente ela não sabia...

Enquanto os lábios se tocavam Ricardo só tinha uma certeza, aquilo continuaria a se repetir infinitamente e periodicamente até que alguma posição fosse tomada, e em um futuro houvesse a chance de testar o sonho que ficou enterrado há alguns anos atrás. Ricardo tinha mais medo do velho, o novo era fácil de lidar, ele buscava enxergar aonde ele deveria tropeçar para que dessa vez todas as peças do tabuleiro caíssem junto com ele, talvez precipitado, mas o desejo o empurra em direção as respostas, por que ele já não queria deixar o ciclo vivo dentro da ordem já estabelecida.

Meio segundo de um sorriso canto de boca, e uns dobrados de dúzias de minutos olhares paralelos, e assim aos poucos o desejo ia afundando a razão novamente naquele jogo. Espera-se que eles possam entender melhor a situação, e independente de qualquer fagulha que possa causar um incêndio, possam compreender que isso precisa de leis e decretos para que se haja a paz, por que a dor é determinante nesse ciclo.

Assim como a dor, a simplicidade e nostalgia de afeto que transborda naquele beijo é um bom motivo e quem sabe suficiente pra que eles possam subir esse degrau que ficou perdido na história de cada um, além do mais, a combinação entre eles pode ser única, ou simplesmente não.

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