domingo, 15 de julho de 2012

Tempos Traiçoeiros.





Abotoei minha camisa xadrez e meus sonhos, olhei pela janela naquela noite, e senti caindo por entre o vidro embaçado de umidade a escuridão e a ansiedade. Aprecei meu passo, era quase hora. Contei 27 segundos olhando para o relógio e a chuva começou a bater no telhado, esbocei um pequeno sorriso e me projetei pela porta da frente.
            Era um dia especial, e o frio esmurrava meu rosto na tentativa de me cegar. Colhi algumas imagens da rua deserta, e fiquei fantasiando mais um filme de horror. Eu não tinha mesmo pressa, a vida era longa e castanha pelos olhos do cachorro molhado na rua.
            Adiantei-me pelo beco escuro, cortando caminho por ansiedade. A água escorria pelo asfalto e eu não a sentia no meu rosto. Era uma mistura de desejos e dor que parecia romper a realidade, fiquei observando...
            O fogo queimava embaixo dos meus olhos, refletia a brasa cortada pelas rajadas de chuva, e eu imaginei o tamanho do pecado que trazia aquela fumaça, desafiando as leis da física. Ainda pude olhar para os lados, buscando alguém naquela noite fria, mas o fogo se apagou e continuei a caminhar.
            Eu não queria chegar, mas já estava molhado, ninguém me assistia nas ruas, e eu não tinha como transcender o meu mau comportamento, olhei compulsivamente o relógio e não achei os números que queria. Dei-me por vencido e segui cabisbaixo, além do mais era quase hora, e eu não podia me atrasar, a vida era longa e eu tinha que atravessar o horizonte, para encontrar a mim mesmo, além da chuva e da brasa gelada daquela noite, olhei uma última vez o relógio e estiquei mais um sorriso, era quase hora.

Nenhum comentário:

Postar um comentário