A chuva
descia rala e silenciosa naquela manhã cinza, o vento soprava a única melodia
na atmosfera. Perdido pelo vasto campo gramado nascia uma rosa azul, bebendo
gradativamente a água vinda dos céus. Aos poucos a rosa cresceu e não só ficou
linda, mas ganhou a companhia de centenas de milhares de outras rosas e flores.
Era um jardim natural espantoso em suas dimensões e beleza.
As pessoas
passavam por ali, e ninguém deixaria de notar a maravilha que aquelas cores
formavam no horizonte. O sol refletia em cada pétala e o vento tornava vivo
aquele mar de perfume. O jardim era um ponto turístico, e em meio às vozes, a rosa
azul sempre ouvia:
“É um belo
jardim!”
Realmente
era de se encher os olhos, e a cada dia as cores tornavam aquele lugar mais
sagrado e cômodo aos sentidos. O que ninguém podia ver era apenas o que a rosa
azul via, era o lado escuro do jardim. A noite fria arrastava o vento pelas
violetas, a chuva vinha forte levando as margaridas para longe, e o tempo ia
despedaçando cada pétala das centenas de flores que habitavam o jardim. Novas
vidas iam nascendo e tudo continuava lindo, os anos passavam e lá estava nossa
rosa azul, cintilante e bela como sempre, forte e sobrevivente ao diluvio,
dotada de toda a experiência e mérito de quem passou pelas piores armadilhas da
vida, todos tinham respeito por ela naquele jardim, todos que ali moravam.
As pessoas
voltavam a caminhar pelo jardim nos dias ensolarados, e a reação era sempre a
mesma, cada um vivendo ali seu momento de felicidade e realização. A rosa azul
tinha seu propósito naquela vida, e ela sabia disso, por mais banal que ele
viesse a ser, ela sabia que o aguardava em algum momento. As mãos vieram
delicadamente e retiraram a rosa da sua casa, com tamanha simplicidade que
ninguém diria o que ela já havia passado. “Pode ser essa daqui papai?” ressoava
as vozes, e em seus últimos suspiros a rosa azul entendeu o seu propósito, ela
estava feliz e podia ouvir ao fundo “Claro filha, todas elas são exatamente
iguais!”.
Mais um dia
se pôs ao horizonte do jardim, e aquelas novas flores foram dormir sem uma de
suas mais vividas amigas, se fora como uma qualquer, como uma flor frágil e
sensível, mas ninguém se importava, por que lá do outro lado, o vento sussurrava
pelos corredores coloridos a voz que dizia todos os dias:
“É um belo jardim!”
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