quinta-feira, 12 de julho de 2012

A Rosa Azul.


A chuva descia rala e silenciosa naquela manhã cinza, o vento soprava a única melodia na atmosfera. Perdido pelo vasto campo gramado nascia uma rosa azul, bebendo gradativamente a água vinda dos céus. Aos poucos a rosa cresceu e não só ficou linda, mas ganhou a companhia de centenas de milhares de outras rosas e flores. Era um jardim natural espantoso em suas dimensões e beleza.
As pessoas passavam por ali, e ninguém deixaria de notar a maravilha que aquelas cores formavam no horizonte. O sol refletia em cada pétala e o vento tornava vivo aquele mar de perfume. O jardim era um ponto turístico, e em meio às vozes, a rosa azul sempre ouvia:
“É um belo jardim!”

Realmente era de se encher os olhos, e a cada dia as cores tornavam aquele lugar mais sagrado e cômodo aos sentidos. O que ninguém podia ver era apenas o que a rosa azul via, era o lado escuro do jardim. A noite fria arrastava o vento pelas violetas, a chuva vinha forte levando as margaridas para longe, e o tempo ia despedaçando cada pétala das centenas de flores que habitavam o jardim. Novas vidas iam nascendo e tudo continuava lindo, os anos passavam e lá estava nossa rosa azul, cintilante e bela como sempre, forte e sobrevivente ao diluvio, dotada de toda a experiência e mérito de quem passou pelas piores armadilhas da vida, todos tinham respeito por ela naquele jardim, todos que ali moravam.
As pessoas voltavam a caminhar pelo jardim nos dias ensolarados, e a reação era sempre a mesma, cada um vivendo ali seu momento de felicidade e realização. A rosa azul tinha seu propósito naquela vida, e ela sabia disso, por mais banal que ele viesse a ser, ela sabia que o aguardava em algum momento. As mãos vieram delicadamente e retiraram a rosa da sua casa, com tamanha simplicidade que ninguém diria o que ela já havia passado. “Pode ser essa daqui papai?” ressoava as vozes, e em seus últimos suspiros a rosa azul entendeu o seu propósito, ela estava feliz e podia ouvir ao fundo “Claro filha, todas elas são exatamente iguais!”.

Mais um dia se pôs ao horizonte do jardim, e aquelas novas flores foram dormir sem uma de suas mais vividas amigas, se fora como uma qualquer, como uma flor frágil e sensível, mas ninguém se importava, por que lá do outro lado, o vento sussurrava pelos corredores coloridos a voz que dizia todos os dias:
“É um belo jardim!”






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