"Soulstripper - A Ruiva"
( http://www.youtube.com/watch?v=MUifGCXuLNY )
Camiseta polo vermelha, calça jeans
rasgada, um Adidas branco no pé e uma barba por fazer. Entrou pela porta do bar
naquela sexta feira a noite como uma rotina banal que esperava seguir
religiosamente até o último dia da sua vida. Pediu uma Heineken bem gelada e
ficou ali apreciando o ambiente. O Mcgee’s era um bem pacato e minúsculo PUB no
centro da cidade, estava parcialmente cheio, meia luz, Led Zeppelin IV ao fundo
e cheiro de Philly Cheesesteak no ar. Nessa varredura visual corriqueira ele
esbarrou o olhar em uma garota que se sentava sozinha em uma das mesas do bar. “De
novo você?” pensou suspirando.
Na mesa uma linda mulher, com os
olhos verdes cheios de mistério, cabelos longos cor de fogo, intensificados
pela iluminação do bar, e um vestido básico, preto, cheio de sensualidade
encaixado perfeitamente no corpo daquela desconhecida. Ela era realmente bonita
e ele já a havia visto uma dezena de vezes naquele mesmo lugar. Era sempre
igual, a beleza intimida as pessoas, mas hoje seria diferente, era uma
confiança misteriosa agindo dentro do rapaz, ou simplesmente a conformidade de
que não tinha mais nada a perder na sua vida social fracassada. Levantou o copo
como quem faz um brinde. A moça viu o gesto, ficou observando, e só quando ele
abriu um sorriso amigável ela sorriu e levantou também seu copo, fazendo com
que ele se aproximasse, enfim.
A conversa foi rolando de uma
naturalidade não muito comum ao que ele estava acostumado, assim a noite caiu
em instantes e ele se despediu da ruiva. Por um momento encarou seu decote tão
involuntariamente que quase foi embora correndo com medo dela ter notado, o que
ele não sabia é que ela havia realmente notado e havia dado risada da situação,
achou uma graça a timidez do rapaz. E aquelas conversas se repetiram algumas
vezes, quando nessa última semana do mês de setembro ele se despediu mais uma
vez da linda mulher e notou no caminho de volta que havia perdido as chaves de
casa. Voltou para o bar.
Quando entrou pela porta a ruiva ainda
estava lá, só que não mais sozinha. Um homem sentava onde antes ele havia se
acomodado, e ambos riam de forma muito intima, ou ao menos era o que ele
enxergava da situação. Sem alardes achou sua chave e foi embora sem se
incomodar com a circunstância. Dormiu pensativo, estava prestes a perder não só
a garota, mas a oportunidade de provar para si mesmo que toda aquela timidez
era deveras um fardo a ser deixado para trás. Acordou determinado.
Sentado ali ele ria de tudo e
contava histórias que entretinham muito a moça dos cabelos vermelhos, ele sabia
que naquela noite deveria tomar uma atitude, um convite, um beijo, uma proposta
qualquer, uma aventura. Estava irredutível a esses pensamentos até que, por um
instante, desviou o olhar do sorriso magnifico que tinha aquela mulher (era
hipnotizante de uma forma assustadora) e viu na mesa detrás um cara tomando um
café. Ele travou instantaneamente, era o cara do dia anterior, estava tão perto
da sua mesa que era capaz de estar ouvindo cada palavra da conversa, ficou sem
saber como agir, de repente toda a timidez voltou. Não conseguiu se concentrar e
foi embora mais uma vez, só que dessa vez ficou observando do lado de fora do
bar e registrou o momento em que o homem então se levantou e foi se sentar com
a ruiva. Sentiu-se traído, se sentiu um tolo por um instante. Uma raiva
momentânea se apossou dele e passou logo em seguida. “Quantas vezes será que
aquilo já havia se repetido?” refletia ele aflito. Foi para casa mais uma vez,
precisava pensar.
Não demorou muito para o simples
fato da ameaça de perder a garota para outro cara começasse a paulatinamente esmurrar
fatos e verdades na cara do rapaz. Estava disposto, mais uma vez, a ganhar
aquele jogo perigoso de sedução. Arrumou-se impecavelmente aquele sábado à
noite, passou quase uma hora em frente ao espelho ajeitando seu cabelo, sabia
que ela estaria lá, ela sempre estava, ele implorava que ela estivesse lá por essa
última vez.
Entrou no bar, e pra surpresa dele
ela estava lá, linda como sempre, sentada na mesma mesa, com o mesmo copo de
cerveja na mão, o sorriso intacto reluzia um brilho único e encantador que
infelizmente lhe dava náuseas naquela noite em específico, pois o cara do seu
pesadelo também estava lá, só que agora já sentado à mesa com a ruiva. Ele
ficou ali imóvel, encostado no balcão, aguardando algum sinal, buscando uma
saída praquele pesadelo. O cara olhou da mesa e deu um sorriso sarcástico, o
bastardo sabia que estava sendo um completo filho da puta, e continuou ali
conversando com a ruiva, até que se levantou, pegou a garota pela mão e a levou
embora. O rapaz continuou encostado no balcão sem reação, não podia fazer nada,
sabia que a culpa era dele, havia estragado tudo de novo, pediu outra cerveja.
Eu particularmente senti um pouco de
dó sim, mas não sei bem dizer, talvez seja esse negócio meu de ser seduzido por
desafios, quando é mais difícil parece tão mais gostoso, ou talvez eu só seja mais
um filho da puta no mundo. De qualquer forma essa ruiva é até mais maravilhosa
agora deitada na minha cama, sem roupa, envolvida no meu lençol, perdida em
algum sonho longe da minha realidade. Ah como o tempo voa.
“O que você tá fazendo ai no
computador?”
“Um novo texto sobre a vida, nada de
mais.”
Ela sorriu
encantadoramente e o cheiro de café já está tomando conta da casa.
Bom, me desculpe,
mas tenho que voltar para cama, é domingo.
Com licença.
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