domingo, 21 de dezembro de 2014

Infinito, infinitesimal, Eterno




O eterno. O que é o eterno? O que seria o eterno senão a infinita soma de pequenos, infinitos, infinitesimais eternos juntos.

Conheci uma garota esses tempos atrás. Ela gostava de fumar e eu odiava aquilo, mas amava ela, então sentava ao seu lado e assistia aqueles rodopios de fumaça fugirem de sua boca. Em câmera lenta, a fumaça parecia uma entidade viva, como se um pedaço da alma dela saltasse para fora e voltasse, timidamente, para seu corpo, à cada baforada nicotinada.

Seu beijo tinha gosto de maçã (porque ela usava gloss de maçã, mas isso não vem ao caso) e seu corpo era pálido como uma nuvem, e quando eu me deitava em seus seios, podia sentir sua respiração ritmada, como se um carnaval morasse dentro dela. E realmente morava, um carnaval de sentimentos, flores e pensamentos que saíam pelos seus olhos, pela sua boca, pelo seu corpo todo.

Ela era uma obra de arte viva, tudo que via pintava. Algumas vezes em fotos, outras vezes no próprio corpo, mas frequentemente em lágrimas e sorrisos curtos. Mas o que é o eterno senão a soma de todos os eternos curtos sorrisos?

Nos conhecemos na internet (como todo mundo, né), vi sua foto pelo perfil de um amigo e me apaixonei naquele instante. Nunca tinha visto uma menina/mulher tão linda. Seus olhos eram profundos e silenciosos. Eternos.

Na primeira vez que nossas bocasse tocaram, não foi eterno, foi na verdade estranho. Não combinamos muito bem no beijo e nem na vida, pra falar a verdade. Ela gostava da cidade e eu vivia escondido, explorando florestas por aí. Ela amava o rock, e eu o shot. Ela não comia chocolate preto, só branco. Eu comia de tudo, não tinha frescura. Quando nossas bocas se tocaram, elas não se encontraram muito bem, demonstrando na carne a diferença entre nossas almas. Foi o melhor beijo da minha vida.

Namoramos por três eternos meses. Ela do meu lado, na cama, olhava com seus olhos profundos. "Eu gostaria que isso fosse eterno" dizia ela depois de um orgasmo. E eu, exausto, dormia. Dormia em seus braços quentinhos e me sentia seguro como nunca. Sentia-me livre de quaisquer amarras, de qualquer fingimento, nos seus braços eu era eu, apenas eu. Eternamente eu.

Ela morreu. Um dia um cara bêbado pegou o carro de um amigo e acertou-a enquanto atravessava a rua. E em um instante ela se foi para sempre, sem nem dizer um tchau e até logo. O eterno havia acabado para sempre e eu morri junto com ela.

Desculpe pela mudança abrupta no modo de escrever, mas foi assim que se passou em minha mente. Ela morreu, simplesmente assim.

"Você tem de esquecê-la",
Ela não gostaria de te ver triste",
"Era só uma namoradinha",
"Homem não chora",
"Quem mandou ela não prestar atenção",
"Se tivesse em casa não teria sido atropelada"
"Eu te entendo, meu filho",
"Meus pêsames",
"Infelizmente, nada é eterno"

E eu pensei comigo e parei por um momento. Eterno. O que é o eterno? O que seria o eterno senão a infinita soma de pequenos, infinitos, infinitesimais e eternos estarmos juntos. Quantos segundos há em um minuto, quantos centésimos há em um segundo, quantos milésimos há em um centésimos? Quantas infinitas divisõeszinhas existem em uma fração de tempo. Infinitas. Infinitesimais. Eternas.

O eterno é feito de eternos. Eternamente dançando entre si e formando o tempo, que passa gentilmente entre nossas existências.

Ela dizia que queria estar ali eternamente e esteve eternamente. Namoramos por três meses, que foram eternos. Cada beijo durou eternos pedaços infinitamente somados de tempo. Seja para formar um segundo, um minuto ou três meses.

Sinto sua falta. Sinto tanto. Mas sei que estivemos e estaremos juntos eternamente.



Segredos de Liquidificador - Diego William Ferreira


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