quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Tampouco Naufragado

      

    Em uma única semana eu realizei a proeza de ser indagado pela mesma pergunta quatro vezes, por quatro pessoas totalmente diferentes e não interligadas. Elas certamente anteciparam meu natal em família com a pergunta chave dos tios e tias em eventos desse tipo. Já sabe a pergunta? Não, não é a do pavê. Aliás, eu adoro a do pavê, vou ficar pra tiozão chato mesmo... A pergunta foi a seguinte: “Por que você não namora?” E eu me surpreendi ao perceber a pouco que eu respondi quatro vezes de maneiras completamente distintas, mas todas com sinceridade. Maldito esse meu coração que prefere ser uma metamorfose ambulante a ter aquela velha opinião formada sobre tudo.
        Na real mesmo, eu acho bom essa inconstância dos nossos egos, mas hoje eu queria falar de amor. Parece que a cada dia que passa o amor morre nessa nossa geração, é cada vez mais difícil encontrar quem preze pelo clássico, pelo clichê. O amor virou démodé para a sociedade moderna. Eu não namoro por que eu estou bem sozinho, por que eu não encontrei quem valha a pena dividir minhas particularidades, aliás, eu não encontrei alguém que eu sinta vontade de dividir qualquer coisa. Eu não estou caçando aquela pessoa que vai me transbordar, até por que eu já procurei demais e achei várias pessoas erradas que me deixaram infinitas cicatrizes pelo caminho, mas eu quero encontrá-la sim, por que eu ainda acredito. Não sou mais idiota, nem me apaixono por qualquer sorriso bonito, isso não é ser descrente, uma boa dose de experiência faz bem a essa altura.
        Li uma frase da Simone de Beauvoir maravilhosa sobre o tema que diz “Renunciar ao amor parecia-me tão insensato como desinteressarmo-nos da saúde porque acreditamos na eternidade.” E de fato eu jamais renunciarei àquilo que me move.
        Há tempos não sei o que é sentir amor de verdade, criei tantas barreiras que temo de repente ter ficado imune ao sentimento quando for a hora de encontra-lo de fato. Mas tem essa uma garota (sempre tem uma), que me faz o olhar parar por aqueles segundos a mais, sabe como é? Eu nem a conheço direito. Ela é uma desconhecida praticamente, mas algo nela me seduz de tal forma que todas as minhas defesas caem, ela definitivamente desativa meu firewall por completo, e eu juro que não achei uma metáfora melhor, desculpa. Enfim, ela tem aqueles olhos profundos, cheios de mistério, cheios de “sim, vamos nos aventurar”, ousaria até citar a referência do meu livro predileto, os “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”. Ela também tem um sorriso perfeitamente simétrico, os lábios cheios de uma sensualidade que me parece irreal, ela sorri e as maças da bochecha ficam marcadas tão perfeitamente que a única palavra que me vem a mente é ‘fofo’ e eu morderia aquelas bochechas, com certeza. Além do mais ela tem aqueles longos cabelos morenos, que descem perfeitamente até a cintura como se ela tivesse um esboço antes de ser feita que foi apagado e refeito um milhão de vezes até que cada fio fique perfeitamente alinhado a sensualidade que esbanja aquela mulher. Faltou algo? Ah sim, o corpo, uma palavra, maravilhoso. Ela tem aquelas cinco tatuagens estratégicas que impulsionam o meu desejo a níveis tão anormais que eu fico na expectativa de que a cada uma que eu passo a conhecer passe a ser um passo em direção a um sonho. Se eu fosse descrever esteticamente a mulher perfeita, ela sairia basicamente como essa garota, só que ruiva. Mas se você me perguntar o que menos importa numa mulher certamente eu vou lhe dizer que é a cor da tinta que ela compra na farmácia pra passar no cabelo.
        Ela é tão magnifica que eu colocaria uma foto dela aqui só pra vocês todos concordarem comigo. Mas ela tem aquele ar de mulher bem resolvida, livre, que não quer saber de nada sério, que curte uma boa festa, que ama dançar até o sol nascer. E eu admiro pessoas assim. Inclusive sempre me pego pensando, quantos não devem idolatrá-la por ai, e por que eu seria diferente? A minha barba nem é tão bonita assim. A questão é que eu sempre quis ser diferente, enquanto todos chamam de linda da boca pra fora eu posso aqui imortaliza-la num texto sincero. Mas então eu penso: dizer pra uma pessoa dessas que ela é especial dessa forma em tempos como esse é como dizer “fuja de medo daqui por que eu quero te amar, casar e ter filhos”. Exageros a parte, mas bem. Então eu nunca disse, eu nunca digo. E já se passaram tantos meses, e de verdade foi uma das únicas mulheres que despertaram um interesse real em mim, não estou dizendo que me apaixonei, mas se tivesse certamente seria por ela, pois ninguém mais consegue dentro da minha cabeça ser tão magnifica assim. Por isso eu não namoro...
        Talvez ela leia, talvez ela goste, muito certamente ela desapareça, mas eu decidi escrever. Primeiro por que eu me senti obrigado a explicitar o porquê raios um cara tão “fofo e lindo que escreve poesia com o cotidiano” não namora. E segundo por que já fazem tantos meses que eu sinto que já perdi as minhas chances, então ao menos eu quero ser cordial, cavalheiro e como sempre honrar as minhas promessas como escritor e homem, escrevendo em linhas de sinceridade.
         
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