Ele acordou num salto repentino da cama e se
dirigiu ao banheiro. Estava atrasado e com toda a pressa mal se olhou no
espelho, pegou as coisas e saiu de casa. As pessoas na rua já estavam agitadas
e correndo para seus respectivos trabalhos. Algumas passavam por ele e nem se
quer o notavam, um rapaz de terno e cabelo penteado para trás até esbarrou
nele, mas nem olhou para trás para ajudar o rapaz que agora estava recolhendo sua
pasta do chão.
Ele chegou ao trabalho e entrou no elevador e
outras sete pessoas se apertaram naqueles quatro metros quadrados. Algumas se
entreolharam e se cumprimentaram, algumas conversas paralelas se iniciaram e
ele ficou ali no fundo, apenas ouvindo. Sentou na sua mesa de trabalho e
começou a mexer na papelada, as pessoas passavam por ali correndo a todo
instante e todas as quinze mesas que haviam naquela sala estavam cheias. No
intervalo ele via as pessoas conversando sobre o final de semana, sobre o
futebol na TV, ou sobre a festa na piscina, mas ele sentava naquela mesa enorme
e almoça sozinho.
Durante a noite ele passava o cartão de
identificação no leitor e passava pela catraca da universidade, se sentava ao
fundo daquela sala enorme com quase oitenta pessoas, e ficava ali, observando
todos e ouvindo o professor lecionar por entre sussurros e planos de faculdade.
Ninguém que passava pela porta de madeira desgastada se quer lhe cumprimentava,
e ele até que por certo lado ficava agradecido.
A balada do final de semana era a melhor da
cidade, quase faltava ar pra se respirar em meio a tantas pessoas, e ele ali
sentia as pernas doerem depois de algum tempo, se pegava olhando para aquelas
pessoas e tentando traduzir seus comportamentos, bêbados, alegres, tristes,
dançantes, uma mistura louca de vidas que jamais cruzariam a dele. Ele dançou
sozinho até o sono bater e voltar para casa.
As coisas não andavam bem, ele se sentia
sozinho, onde estavam todos afinal? Ele podia ver uma centena de pessoas, mas
era como se ele não estivesse ali. “Talvez a culpa seja minha”, e talvez
realmente ele quisesse ficar só, mas em algum lugar dentro daquela pobre alma
alguma necessidade primitiva o empurrava a compartilhar seus pensamentos com
outras pessoas, e ele escrevia, mesmo que ninguém lesse, era seu refúgio. E
depois de tanto tempo vivendo em trevas ele teve seus cinco minutos de paz,
quando parou aquela noite na frente do espelho e pode ver que não estava ali,
não existia, era apenas uma projeção da mente complexa de um louco suicida.
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