terça-feira, 13 de agosto de 2013

Antes das oito.






Ele acordou num salto repentino da cama e se dirigiu ao banheiro. Estava atrasado e com toda a pressa mal se olhou no espelho, pegou as coisas e saiu de casa. As pessoas na rua já estavam agitadas e correndo para seus respectivos trabalhos. Algumas passavam por ele e nem se quer o notavam, um rapaz de terno e cabelo penteado para trás até esbarrou nele, mas nem olhou para trás para ajudar o rapaz que agora estava recolhendo sua pasta do chão.
Ele chegou ao trabalho e entrou no elevador e outras sete pessoas se apertaram naqueles quatro metros quadrados. Algumas se entreolharam e se cumprimentaram, algumas conversas paralelas se iniciaram e ele ficou ali no fundo, apenas ouvindo. Sentou na sua mesa de trabalho e começou a mexer na papelada, as pessoas passavam por ali correndo a todo instante e todas as quinze mesas que haviam naquela sala estavam cheias. No intervalo ele via as pessoas conversando sobre o final de semana, sobre o futebol na TV, ou sobre a festa na piscina, mas ele sentava naquela mesa enorme e almoça sozinho.
Durante a noite ele passava o cartão de identificação no leitor e passava pela catraca da universidade, se sentava ao fundo daquela sala enorme com quase oitenta pessoas, e ficava ali, observando todos e ouvindo o professor lecionar por entre sussurros e planos de faculdade. Ninguém que passava pela porta de madeira desgastada se quer lhe cumprimentava, e ele até que por certo lado ficava agradecido.
A balada do final de semana era a melhor da cidade, quase faltava ar pra se respirar em meio a tantas pessoas, e ele ali sentia as pernas doerem depois de algum tempo, se pegava olhando para aquelas pessoas e tentando traduzir seus comportamentos, bêbados, alegres, tristes, dançantes, uma mistura louca de vidas que jamais cruzariam a dele. Ele dançou sozinho até o sono bater e voltar para casa.
As coisas não andavam bem, ele se sentia sozinho, onde estavam todos afinal? Ele podia ver uma centena de pessoas, mas era como se ele não estivesse ali. “Talvez a culpa seja minha”, e talvez realmente ele quisesse ficar só, mas em algum lugar dentro daquela pobre alma alguma necessidade primitiva o empurrava a compartilhar seus pensamentos com outras pessoas, e ele escrevia, mesmo que ninguém lesse, era seu refúgio. E depois de tanto tempo vivendo em trevas ele teve seus cinco minutos de paz, quando parou aquela noite na frente do espelho e pode ver que não estava ali, não existia, era apenas uma projeção da mente complexa de um louco suicida.


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