Rafaela tinha um sério problema, ela tinha a mente do
tamanho do infinito, era inquieta, barulhenta e demasiadamente confusa. Mas em
meio ao caos existia uma doce ruivinha dos olhos verdes, que era mulher, que
era inteligente, era determinada e maluca, muito maluca.
Rafa gostava de passear, andar pelas grandes praças da
cidade e observar o desenrolar do mundo. Em tudo ela via poesia, em tudo ela
achava amor. O vento nas tulipas encantavam seus olhos, as árvores entrelaçadas
eram inspiradoras, o mar de prédios era instigante, os pássaros, as pessoas,
tudo era um vibrar de cordas que atingiam o timbre perfeito do seu coração, que
é tão cheio de fantasias.
O rapaz de olhos azuis e barba bem feita passou por ela
passeando com seu cachorro e “Meu deus do céu! Que coisa mais linda!” e não era
o cachorro. Rafaela gostava de homens, e ela achava que isso era uma espécie de
maldição, além do mais que ser mais difícil de se envolver, somem quando querem,
magoam com certa frequência e não sabem expressar um pingo de sentimento,
depois dizem que as mulheres é que são complicadas. Pra Rafa era simples demais
ganhar uma mulher, bastava lhe dar comida e um cafuné... Mas ela amava os tais
homens mesmo assim, não fazia sentido, mas nem tudo na vida faz mesmo, certo?
Rafa tinha uma coleção imensa de decepções, guardava cada
uma delas em páginas diversas do seu álbum de figurinhas imaginário, onde cada
figurinha custava muito caro, mas ela sabia que ao completar a página podia
trocar por um prêmio, uma incrível bagagem cheinha de “foda-se’s” que a
empurravam para uma nova página. Era aquela coisa que a gente cansa de ver por
ai, ela tinha tudo para ser um excelente parafuso, mas o receio de falhar
acabava lhe tornando um péssimo prego. Rafaela era como uma estátua grega:
linda e divina vista de longe. Mas ao se aproximar, percebiam-se suas
rachaduras e fissuras, o quanto ela estava prestes a desmoronar.
O que acontece é que toda relação é baseada em construção,
como aquele pacote de mil peças de lego que você passa horas buscando uma única
peça para progredir no todo, demanda paciência, requer vontade. Mas ela tinha
muitos “se’s” na sua cabeça, e a dúvida já deixou muita gente doida por ai. Ela
adorava comparar o presente com o passado, acho que todo mundo tem medo de se
magoar né? Mas passado é para refletir e
não para repetir.
Dias depois ela viu o cara do parque no metrô, achou que era
muita coincidência para não ser uma espécie de sinal, tinha onze milhões de
habitantes na cidade e ela nunca havia jogado na mega, mas parecia ter ganhado
uma chance, daquelas que a vida nos dá sempre de maneira singela e a gente
acaba perdendo. Essa não ia passar não!
Ela não tinha absolutamente ideia nenhuma do que fazer. A
qualquer momento ele iria descer numa estação e ela perderia sua chance. Seus
pensamentos borbulharam, fritaram. Ela entrou em pane em meio minuto, uma gota
de suor chegou a escorrer delicadamente pelo seu pescoço. Foi quando ela
decidiu o que de costume ela fazia “foda-se!” e foi até o cara. Ela chegou como
um ninja na sua frente, e quando ele percebeu, tomando um baita susto, ela
disse rapidamente “Me beija, depois eu te explico!” Não sei o que ele pensou na
hora, mas dificilmente alguém diria não para aqueles olhos tão naturalmente
bonitos. Rafaela não sabia o quão linda e doce era, num mundo de pessoas tão
vazias.
Ela não acreditou no que estava fazendo, ouviu o apito do
metrô e saltou na estação, o rapaz mal teve tempo de abrir os olhos e as portas
se fecharam. O metrô foi embora com ele, e ela ficou ali na estação imóvel “Que
caralhos foi isso, Rafaela ?”
indagava ela sozinha para ela
mesma. Adorava falar sozinha, achava que era muito louca por isso.
Ela
nunca mais viu aquele cara, ela nem fazia questão. De repente, apenas o impulso
de ter feito o que queria, sem se prender a nada, lhe dava uma satisfação
completa. Parecia até que havia aprendido a ser feliz sozinha enfim, ria
sozinha, se divertia com seus próprios pensamentos. O que será que
as pessoas não falam dessas pessoas que riem sozinhas na rua? “São
todas loucas!” Talvez sejam mesmo, mas são felizes! Maldito julgamento
prematuro e infantil dessa gente.
Rafa continuou sozinha, ainda tinha a cabeça cheia de
fantasias e desejos, era uma completa maluca por sonhos e filmes de romance.
Mas agora ela tinha aquele jeito, sabe, aquele jeito de quem chegou ao fim do
álbum, de quem colecionou todos os amores proibidos e sabe bem o que quer afinal.
Há quem dizia a ela que as decepções não diminuem com a nossa experiência, mas
ela nem dava mais ouvidos, pois acho que ela acabou amadurecendo com o passar
dos (d)anos.
*** CURTE AI!
E clica aqui para curtir a página no face!
Meu perfil :)
*** CURTE AI!
E clica aqui para curtir a página no face!
Meu perfil :)
Mas passado é para refletir e não para repetir. sz
ResponderExcluirParabéns! É de tirar suspiros seus textos!
Nossa, adorei o texto, Kauê!
ResponderExcluirOlha que eu tenho de aprender umas coisas com a sua Rafaela, hein hm