segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Rafaela era mais amor do que cabia no seu mundo




Rafaela tinha um sério problema, ela tinha a mente do tamanho do infinito, era inquieta, barulhenta e demasiadamente confusa. Mas em meio ao caos existia uma doce ruivinha dos olhos verdes, que era mulher, que era inteligente, era determinada e maluca, muito maluca.

Rafa gostava de passear, andar pelas grandes praças da cidade e observar o desenrolar do mundo. Em tudo ela via poesia, em tudo ela achava amor. O vento nas tulipas encantavam seus olhos, as árvores entrelaçadas eram inspiradoras, o mar de prédios era instigante, os pássaros, as pessoas, tudo era um vibrar de cordas que atingiam o timbre perfeito do seu coração, que é tão cheio de fantasias.

O rapaz de olhos azuis e barba bem feita passou por ela passeando com seu cachorro e “Meu deus do céu! Que coisa mais linda!” e não era o cachorro. Rafaela gostava de homens, e ela achava que isso era uma espécie de maldição, além do mais que ser mais difícil de se envolver, somem quando querem, magoam com certa frequência e não sabem expressar um pingo de sentimento, depois dizem que as mulheres é que são complicadas. Pra Rafa era simples demais ganhar uma mulher, bastava lhe dar comida e um cafuné... Mas ela amava os tais homens mesmo assim, não fazia sentido, mas nem tudo na vida faz mesmo, certo?

Rafa tinha uma coleção imensa de decepções, guardava cada uma delas em páginas diversas do seu álbum de figurinhas imaginário, onde cada figurinha custava muito caro, mas ela sabia que ao completar a página podia trocar por um prêmio, uma incrível bagagem cheinha de “foda-se’s” que a empurravam para uma nova página. Era aquela coisa que a gente cansa de ver por ai, ela tinha tudo para ser um excelente parafuso, mas o receio de falhar acabava lhe tornando um péssimo prego. Rafaela era como uma estátua grega: linda e divina vista de longe. Mas ao se aproximar, percebiam-se suas rachaduras e fissuras, o quanto ela estava prestes a desmoronar.

O que acontece é que toda relação é baseada em construção, como aquele pacote de mil peças de lego que você passa horas buscando uma única peça para progredir no todo, demanda paciência, requer vontade. Mas ela tinha muitos “se’s” na sua cabeça, e a dúvida já deixou muita gente doida por ai. Ela adorava comparar o presente com o passado, acho que todo mundo tem medo de se magoar né? Mas passado é para refletir e não para repetir.

Dias depois ela viu o cara do parque no metrô, achou que era muita coincidência para não ser uma espécie de sinal, tinha onze milhões de habitantes na cidade e ela nunca havia jogado na mega, mas parecia ter ganhado uma chance, daquelas que a vida nos dá sempre de maneira singela e a gente acaba perdendo. Essa não ia passar não!

Ela não tinha absolutamente ideia nenhuma do que fazer. A qualquer momento ele iria descer numa estação e ela perderia sua chance. Seus pensamentos borbulharam, fritaram. Ela entrou em pane em meio minuto, uma gota de suor chegou a escorrer delicadamente pelo seu pescoço. Foi quando ela decidiu o que de costume ela fazia “foda-se!” e foi até o cara. Ela chegou como um ninja na sua frente, e quando ele percebeu, tomando um baita susto, ela disse rapidamente “Me beija, depois eu te explico!” Não sei o que ele pensou na hora, mas dificilmente alguém diria não para aqueles olhos tão naturalmente bonitos. Rafaela não sabia o quão linda e doce era, num mundo de pessoas tão vazias.

Ela não acreditou no que estava fazendo, ouviu o apito do metrô e saltou na estação, o rapaz mal teve tempo de abrir os olhos e as portas se fecharam. O metrô foi embora com ele, e ela ficou ali na estação imóvel “Que caralhos foi isso, Rafaela ?indagava ela sozinha para ela mesma. Adorava falar sozinha, achava que era muito louca por isso.

Ela nunca mais viu aquele cara, ela nem fazia questão. De repente, apenas o impulso de ter feito o que queria, sem se prender a nada, lhe dava uma satisfação completa. Parecia até que havia aprendido a ser feliz sozinha enfim, ria sozinha, se divertia com seus próprios pensamentos. O que será que as pessoas não falam dessas pessoas que riem sozinhas na rua? “São todas loucas!” Talvez sejam mesmo, mas são felizes! Maldito julgamento prematuro e infantil dessa gente.


Rafa continuou sozinha, ainda tinha a cabeça cheia de fantasias e desejos, era uma completa maluca por sonhos e filmes de romance. Mas agora ela tinha aquele jeito, sabe, aquele jeito de quem chegou ao fim do álbum, de quem colecionou todos os amores proibidos e sabe bem o que quer afinal. Há quem dizia a ela que as decepções não diminuem com a nossa experiência, mas ela nem dava mais ouvidos, pois acho que ela acabou amadurecendo com o passar dos (d)anos. 


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2 comentários:

  1. Mas passado é para refletir e não para repetir. sz
    Parabéns! É de tirar suspiros seus textos!

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  2. Nossa, adorei o texto, Kauê!
    Olha que eu tenho de aprender umas coisas com a sua Rafaela, hein hm

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