sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Dois lados dessa moeda chamada obsessão.

Por Kauê de Paula


Saiu sem pressa pra voltar e quando contornou o quarteirão nem percebeu mais o quão perto estava. Era a rotina que se concretizava toda sexta à tarde quando ele no meio do caminho encontrava na praça esverdeada de grama e crianças brincando a sua garota, que vinha em sua direção com o mesmo sincero e verdadeiro sorriso no rosto de sempre.
Ele a abraçou ali pela octogésima quinta vez e nada parecia diferente, o amor era um sentimento belo em que eles faziam questão de mostrar para o mundo, além do mais, o deles era perfeito, e nada podia tirar isso deles.
Valentina tinha seus cabelos pretos e os olhos verdes que tiravam todos os suspiros no riso com covinhas de Diogo, que com seu estojo da faculdade arrancava folhas de caderno para escrever juras de amor em forma de cartas e poesia.
Ele afagou seus cabelos enquanto ela encostava sua cabeça em seu peito, e enquanto ela adormecia ele fitava seus olhos fechados e sentia o cheiro de shampoo dos seus cabelos. Ela lhe dava bom dia e o abraçava como se fosse a primeira vez, eles tinham um cachorro que costumavam chamar de filho, tinham uma amizade que costumavam chamar de bela e tinham uma promessa que costumavam chamar de amor.
Até que o pra sempre, sempre acaba, e Diogo foi embora, deixando tudo para trás com a certeza de que o destino era mais forte que sua vontade de permanecer ali e costurar os remendos de promessas e sonhos que despencavam em palavras tristes e olhares frios.
Valentina com as lágrimas nos olhos não podia entender, aonde o amor havia se escondido? Ele era real, ela sabia disso, mas havia se perdido em alguma esquina, e agora era tarde demais para voltar e buscá-lo.
Algumas cartas se perderam em devaneios de mentira, alguns presentes se transformaram em fardos e boas memórias deram espaço a dor e sofrimento. Quem um dia ira dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração?
Dias e noites passaram, e a pergunta remoía seus neurônios: por quê? Ninguém sabia, nem Diogo, que acreditava estar fazendo o melhor para ambos. Seguiu seu caminho, seguiu tão a risca que quando se perdeu não percebeu, e só acordou no ônibus da vida quando já haviam passado seu ponto há horas.
Valentina seguiu também, insegura, talvez certa demais, mas sempre sem perder os sonhos e a confiança nos próprios passos. Ela tinha sua parcela de culpa e entendia que as falhas eram inúmeras, a vontade de consertar era sempre retomada na cabeça, mas o tempo havia passado, e quem lá iria saber se existiria uma segunda chance para o que costumavam chamar de amor. Dormiu, Esqueceu.
Tarde da noite Diogo desembrulhava coisas antigas no seu guarda roupa e encontrou a metade de um chaveiro, a metade que havia ganhado de Valentina há muito tempo, simbolizava as metades das suas vidas, do seu amor e das suas promessas. Sentiu uma leve pontada dentro do peito e se pegou pensando de novo no que um dia tinha sido perfeito. “por quê?” ele se perguntava, mas as respostas ecoavam longe em um universo de erros e dor. Sabia que deveria olhar para frente, todos sabiam, Valentina sabia, a vida não nos permite errar duas vezes, ou permite?
Suas fotos na internet estavam lindas, e em algumas ainda ressuscitava a doce e velha magia que fazia seu sorriso brilhar. Eram desconhecidos completos, fantasmas de uma lembrança que parecia um sonho, fadados a acreditar que seus olhares jamais se cruzariam de novo. Por medo, por remorso, por orgulho.
A vida tem dessas coisas, e dentro de cada qual o sonho não havia morrido, por que ninguém desiste do amor quando vale a pena, mas mais do que confessar e pagar seus pecados eles tinham que romper uma barreira que ainda não conheciam, não tinham afinidade, e agora mais do que nunca, não se viam e esperavam dentro de si de coração apertado e misterioso ao mundo que o outro desse o primeiro passo.

Esperariam sem pressa que o amor voltasse de meia dúzia de palavras e fotos rabiscadas, mas enquanto ninguém decidia continuavam ali, Diogo e Valentina, perdidos na vida um do outro, buscando e expulsando demônios pessoais, mas sem saber que a vida era dura, e sendo assim, jamais se encontrariam de novo.

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