Por Kauê de Paula
Saiu sem pressa pra voltar e
quando contornou o quarteirão nem percebeu mais o quão perto estava. Era a
rotina que se concretizava toda sexta à tarde quando ele no meio do caminho
encontrava na praça esverdeada de grama e crianças brincando a sua garota, que
vinha em sua direção com o mesmo sincero e verdadeiro sorriso no rosto de
sempre.
Ele a abraçou ali pela octogésima
quinta vez e nada parecia diferente, o amor era um sentimento belo em que eles
faziam questão de mostrar para o mundo, além do mais, o deles era perfeito, e
nada podia tirar isso deles.
Valentina tinha seus cabelos
pretos e os olhos verdes que tiravam todos os suspiros no riso com covinhas de
Diogo, que com seu estojo da faculdade arrancava folhas de caderno para
escrever juras de amor em forma de cartas e poesia.
Ele afagou seus cabelos
enquanto ela encostava sua cabeça em seu peito, e enquanto ela adormecia ele
fitava seus olhos fechados e sentia o cheiro de shampoo dos seus cabelos. Ela
lhe dava bom dia e o abraçava como se fosse a primeira vez, eles tinham um
cachorro que costumavam chamar de filho, tinham uma amizade que costumavam
chamar de bela e tinham uma promessa que costumavam chamar de amor.
Até que o pra sempre, sempre
acaba, e Diogo foi embora, deixando tudo para trás com a certeza de que o
destino era mais forte que sua vontade de permanecer ali e costurar os remendos
de promessas e sonhos que despencavam em palavras tristes e olhares frios.
Valentina com as lágrimas
nos olhos não podia entender, aonde o amor havia se escondido? Ele era real,
ela sabia disso, mas havia se perdido em alguma esquina, e agora era tarde
demais para voltar e buscá-lo.
Algumas cartas se perderam
em devaneios de mentira, alguns presentes se transformaram em fardos e boas
memórias deram espaço a dor e sofrimento. Quem um dia ira dizer que existe
razão nas coisas feitas pelo coração?
Dias e noites passaram, e a
pergunta remoía seus neurônios: por quê? Ninguém sabia, nem Diogo, que
acreditava estar fazendo o melhor para ambos. Seguiu seu caminho, seguiu tão a
risca que quando se perdeu não percebeu, e só acordou no ônibus da vida quando
já haviam passado seu ponto há horas.
Valentina seguiu também,
insegura, talvez certa demais, mas sempre sem perder os sonhos e a confiança
nos próprios passos. Ela tinha sua parcela de culpa e entendia que as falhas
eram inúmeras, a vontade de consertar era sempre retomada na cabeça, mas o tempo
havia passado, e quem lá iria saber se existiria uma segunda chance para o que
costumavam chamar de amor. Dormiu, Esqueceu.
Tarde da noite Diogo
desembrulhava coisas antigas no seu guarda roupa e encontrou a metade de um
chaveiro, a metade que havia ganhado de Valentina há muito tempo, simbolizava
as metades das suas vidas, do seu amor e das suas promessas. Sentiu uma leve
pontada dentro do peito e se pegou pensando de novo no que um dia tinha sido
perfeito. “por quê?” ele se perguntava, mas as respostas ecoavam longe em um
universo de erros e dor. Sabia que deveria olhar para frente, todos sabiam,
Valentina sabia, a vida não nos permite errar duas vezes, ou permite?
Suas fotos na internet
estavam lindas, e em algumas ainda ressuscitava a doce e velha magia que fazia
seu sorriso brilhar. Eram desconhecidos completos, fantasmas de uma lembrança
que parecia um sonho, fadados a acreditar que seus olhares jamais se cruzariam
de novo. Por medo, por remorso, por orgulho.
A vida tem dessas coisas, e
dentro de cada qual o sonho não havia morrido, por que ninguém desiste do amor
quando vale a pena, mas mais do que confessar e pagar seus pecados eles tinham
que romper uma barreira que ainda não conheciam, não tinham afinidade, e agora
mais do que nunca, não se viam e esperavam dentro de si de coração apertado e
misterioso ao mundo que o outro desse o primeiro passo.
Esperariam sem pressa que o
amor voltasse de meia dúzia de palavras e fotos rabiscadas, mas enquanto
ninguém decidia continuavam ali, Diogo e Valentina, perdidos na vida um do
outro, buscando e expulsando demônios pessoais, mas sem saber que a vida era
dura, e sendo assim, jamais se encontrariam de novo.
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