quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Adeus céu azul.

Por Kauê de Paula


A chama dançava na lareira estalando a lenha pálida
E calmamente sua esposa aproximou-se e disse: Estou grávida.
Na porta as batidas súbitas traziam a noticia e a revolta.
A carta da pátria vinha com o amargo chamado sem volta

Na mochila a certeza do futuro incerto e nada mais
O uniforme martirizava e segregava as diferenças e os ideais
O avião cruzava o oceano e os olhares eram de medo.
E na boca do inimigo ao chão aquele forte gosto azedo.

As tropas cada vez menores conduziam sua jornada
Crianças mutiladas, sangue e mulheres sendo estupradas.
E pelas cidades vizinhas deixavam a marca da destruição
Eram tempos sádicos onde não se existia sequer compaixão.

Ele observava que todos ali corriam por abrigo
Quando os soldados vinham de Norte a Sul
E as promessas de um admirável mundo novo.
Desfraldavam sob um limpo céu azul.

Para compreender aqueles olhos tão frios e simplistas
Arrastados por uma censura moral, silenciosa e fascista.
Você talvez deva patinar sobre o gelo da vida moderna
Onde um milhão de olhos choram em uma escura caverna

As bombas riscavam o céu naquela falsa democracia
Como lindas gaivotas fantasiadas de demagogia.
E atrás da farda e bigode aparado alguém decidia
Uma única mente escolhendo quem vivia ou morria.

Do outro lado sua esposa já aceitava a sua morte
E com outros homens seu corpo era leiloado à sorte
E já nesse mundo podre seu filho nascia e respirava vivo
Com a imagem do pai que jamais havia conhecido.

O perfume nos campos de concentração era de dor
A vida era algo que ali não se atribuía mais valor
A morte era tão certa quanto o ato de respirar
E o som das balas traduzia onde todos iam findar

E quando voltou aos confins de onde saiu
Deparou-se com os destroços gerados pela guerra
E sabia que ali, debaixo de toda aquela merda.
Existiu um lugar que costumava chamar: minha terra!

Doce e belo com traços de humor, é fácil falar de amor.
Mas este sorriso gostoso não se tem mais em qualquer cidade
Em alguma esquina do mundo ainda existe, com certeza.

Uma pobre alma que não sabe quem é essa tal de felicidade.

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