quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

A essencial dualidade



Era impressionante o poder que você tinha de me tirar do sério. Mesmo que eu tentasse não conseguiria lhe fazer qualquer tipo de surpresa ou mistério. Você vivia seu próprio mundo sem nenhum medo ou critério. E na sua vida eu era algum tipo descartável de ministério.

Cheguei sorrindo em casa com os ingressos do acústico Nando Reis. Mas você logo disse que só teria molecada de dezesseis. E não importava se os argumentos que eu tinha eram aceitáveis. Você detinha sempre das ultimas palavras incontestáveis.

Te comprei de pascoa aquele imenso ovo de chocolate gostoso. Mas você ao invés de agradecer me disse que preferia um CD do Caetano Veloso. Eu tentei incontáveis vezes ao seu lado não passar nervoso. Mas eu era um peão totalmente cercado nesse seu jogo. Pois perder você era pra mim algo muito perigoso.

O nosso amor era improvável de se acontecer. Eu sabia que cedo ou tarde ele iria perecer. Quando eu já tivesse citado todos os versos de Sheakspeare, ou simplesmente quando você viesse a se aborrecer. Eu queria um lugar na sua vida que jamais iria ter. E em um adormecer qualquer acordaria sem você ao amanhecer.

Você tinha um Iphone e eu uma vitrola. Eu adorava Pepsi e você Coca-Cola. Eu curtia vídeo game e você jogava bola. Você era mais do tipo balada e eu escola.

Eu assistia as animações da Disney e chorava feito criança. Enquanto você acabou levando os móveis na nossa mudança. Valsa estava mais para o meu tipo de dança. Mas você gostava mesmo de uma festança. Eu montava planilhas de gastos e guardava todo mês uma quantia na poupança. Você era mais de checar todas as portas e janelas à noite por segurança.

Você não se cansava de citar Freud e eu ficava dias ouvindo Pink Floyd. Eu Idolatrava e falava de Newton e Einstein. E você dizia blá blá blá pintando as unhas e bebendo sua Heineken.

E eu passava horas te ensinando como calcular uma matriz. Pra você dizer que no fundo mesmo queria ser atriz. E que não precisaria entender de fórmulas de bhaskara e bissetriz. Eu sabia que no fundo você só queira ser feliz. Mas me entristecia você odiar tanto Machado de Assis.

E óbvio que seu sorriso e sua pose de mulher me deixavam impressionado. Muitas vezes só de estar andando na rua ao seu lado fazia sentir-me lisonjeado. Mas sua indiferença me deixava transtornado, até mesmo indignado. E só de birra você dizia que gostava muito mais de Jorge Amado.

Escrevia as cartas mais românticas e piegas possíveis para você. Mas você lia e dizia ‘Que texto mais bonito, só pode ser do Iandê’. Mesmo que ao final estivesse assinado Kauê. Você fazia de tudo pra me provocar e eu me perguntava o porquê. Eu te odiava e te amava, pois você era o essencial que a minha vida precisava ter.

E eu estava quase totalmente livre e independente quando o telefone tocou. Eu vi que era seu número e meu coração logo disparou. Desde que você partiu apenas uma saudade imensa você deixou. E quando ouvi do outro lado você dizer que o nós não acabou. Eu soube, enfim, que no fundo você sempre me amou.


***Gostou? dá um joinha ai pra ajudar, obrigado queridos :)



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