quinta-feira, 18 de abril de 2013

A Busca



E ele corre, corre sem parar, suspirando e molhado de suor, seu corpo começa a cansar, mas ele não para, corre, corre e corre, em linha reta, sem olhar para os lados, como um cavalo em uma carroça, sem saber o porquê, apenas corre. Quando as pernas falham ele escorrega e sente o chão batendo nas suas coxas como uma pancada feroz. Ele fica estendido ali, pensando em fechar os olhos e descansar sua jornada, recuperar as energias perdidas, mas ele não pode, ele levanta.

A noite é escura feito breu e ele só enxerga o caminho do meio fio enfileirado por aquela trilha de postes a sua frente. Não há ninguém ali, ninguém exceto ele, desorientado, buscando a saída, fugindo do seu destino que o persegue com sede de sangue nos olhos. Ele tenta pedir ajuda, mas nada. Tenta achar alguém, nada. Busca um lugar conhecido, e nada. Só escuridão. Ele cai em uma esquina e sente seu corpo doer, seu coração acelera mais uma vez e parece que vai ser expelido do peito. Ele aperta o peito com força, com uma sensação horrível, e de repente tudo é frio. A neve desce em câmera lenta do céu e ele está ali em pé novamente, só que agora pelado. O frio vai consumindo a sua temperatura vital e aos poucos as pontas de seus dedos começam a ficar roxas. Ele se encolhe todo e tenta se aquecer, mas nada funciona.

Tudo volta a ser silêncio e um relógio tic-taqueia no fundo da sua mente, ele olha para os lados e se depara com um relógio antigo pendurado no alto de um prédio que simplesmente parece ter brotado ali. O relógio volta, em contagem regressiva, e uma amarga sensação atravessa seu peito, ele sente o cheiro de pólvora e começa a buscar um abrigo. Ele é surpreendido por centenas de calibres apontados na sua direção, de todos os lados, ele não pode ver as faces, mas as armas reluzem à luz da lua, e em uma só badalada todas elas disparam atravessando o corpo frágil e gelado dele. Ele sente cada gota de sangue saindo do seu corpo e rolando pelo asfalto branco, formando um quadro abstrato de vermelho até a boca de lobo mais próxima.

Ele se levanta automaticamente e confere os tiros, não estão mais ali e ele volta a correr pela rua escura, até cair novamente e repetir toda a mesma história pela centésima vez. A dor é tão grande que ele simplesmente deseja morrer. E nesse momento em que ele entrega seu último suspiro ele acorda encharcado na cama, olha pra janela e vê uma noite agradável pelo vitro. Ele põe a mão na cabeça e percebe que está ensopado, então olha para o lado, e ela está ali, deitada, dormindo como um anjo, como se nada tivesse acontecido.

Ele sente como se tivesse feito um estardalhaço ao sair daquele pesadelo infernal, ele leva sua mão esquerda até os cabelos sedosos dela e acaricia sua cabeça, ela dá um sorriso ainda com os olhos fechados e abraça mais forte o travesseiro, com a outra mão ele confere o coração, e ele bate alucinantemente. Foi um baita susto, mas ele olhou o relógio e logo precisaria acordá-la com um beijo para começarem mais um dia, mas ele deitou ali e foi tirar mais um cochilo. Já era esperado, é justamente quando estamos mais felizes que os pesadelos aparecem. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário