Tremulo e sem
jeito, balbuciava algumas palavras incompreensíveis pela boca, bem baixinho,
quase que calado, parado, estático. Olhava o horizonte e via o brilho singular
do sol por aquele ângulo específico, tinha a ponta dos dedos fria e estava tão
perdido em pensamentos que mal piscava. Estava maravilhado e aprisionado nela.
Os cabelos
levemente ondulados desciam por suas costas como uma cascata de fogo vermelha,
que brilhava e emitia calor quanto mais fosse à incidência do sol sobre eles.
Ela virou quase que em câmera lenta, ele fitou seus olhos castanhos perdidos
por entre a maquiagem e ficou hipnotizado pela sua pele branca e sua fisionomia
angelical. A boca se abriu involuntariamente, ele nem pode disfarçar, seus
trejeitos eram encantadores e seu sorriso era como uma rajada de sonhos que o
atingia tão forte que ele podia se sentir caindo para trás.
Ele pegou a
sua mão, a levou para bem longe dali, estendeu um pano sobre a grama verde,
debaixo de uma árvore e se sentou. Ele fitou-a nos olhos e sorriu em ver seu
rosto rosado reluzindo ao sol, levou uma das mãos na sua bochecha e passeou
pelos seus cabelos estacionando na sua nuca, puxou-a gentilmente e ternamente
na sua direção e a beijou.
Eles perderam
um dia todo sorrindo por entre os mares de morro que se estendiam ao infinito do
horizonte azul. Seguravam as mãos e se olhavam como se uma palavra não
precisasse ser dita, trocaram presentes e ele lhe entregou uma rosa que havia roubado
do campo. Ela sorriu timidamente e ele a abraçou como se fosse uma última vez.
Eles assistiam
ao filme juntos e ela se debruçava ao seu peito perdida em sono, e enquanto
dormiam ele a abraçava e lhe dava um beijo de boa noite arrumando seu cabelo em
cima dos travesseiros. Ela tinha as mãos leves, doces, e ele se iluminava com a
graça do seu andar e o eco da sua voz nos seus ouvidos.
Ele estava
apaixonado de tamanha dimensão que chegava a ser hipócrita para si mesmo em
sentimentos de razão. Apoiava sua mão sob sua cintura e a puxava para seu lado,
a beija e dizia que a amava, ela retribuía vezes com palavras, vezes com
sorrisos e ele podia sentir através do seu olhar um sentimento que só seria
possível se enxergar depois de toda uma história de amor.
O ônibus passou
por uma falha no asfalto e ao pular ele saiu do seu transe, percebeu que todas
as pessoas ali estavam voltando para suas casas cansadas, perdidas em deveres e
problemas, e a ruiva ainda estava lá, do outro lado do ônibus, ela chegou a
sorrir pra ele, ou talvez fosse mera impressão, mas ela desceu no ponto
seguinte e ele suspirou excluindo e reciclando cada um dos seus pensamentos,
arrependido e inconformado de não ter ido até lá e dito com toda a autoridade e
ousadia do mundo - Boa tarde!
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