terça-feira, 9 de agosto de 2011

O amor costumava ser assim




Ouça lendo: Last Kiss - Pearl Jam


E eu estiquei o braço na cama procurando o aconchego dos seus braços e achei apenas um lugar vazio. Estava escuro e eu passeava inutilmente pelo meu edredom buscando a sua mão. Em pouco tempo o sol raiou no céu e eu me levantei ainda embebido de sono, acendi a luz do quarto e a cama ainda permanecia vazia, fui até o banheiro e tudo estava em seu lugar de costume, me dirigi até a cozinha e tomei o meu café da manhã, e percebi que a sua xícara estava ainda guardada no armário. Tomei o meu banho, me arrumei para o trabalho e ao pegar a gravata notei que suas coisas estavam todas intocáveis dentro do closet. Abri a garagem, peguei o carro e me indaguei ao perceber que você sempre pegava uma carona comigo até o seu serviço. Chegando ao escritório me ocupei com a papelada burocrática, já normal de cada dia. O tempo corria, desci as escadas do edifício e segui rumo ao restaurante de esquina, onde nos conhecemos, e onde almoçávamos todo dia, automaticamente sentei no mesmo lugar, pedi o de sempre, comi e voltei para o trabalho sentindo que faltava algo muito importante no meu dia. Fechei meu turno e voltei para casa. Sentei no sofá e percebi que a casa ainda estava toda fechada, o cheiro da janta não estava rebolando por entre os cômodos, e se quer a TV estava ligada. Fiz a minha janta, assisti a um filme de praxe na TV e fui deitar. Dei uma breve lida em um livro que estava na escrivaninha ao lado da cama e indaguei:

-“Querida, já terminei,vou apagar as luzes, você se importaria de...!”.

E de repente olhei para o lado e percebi que só havia eu naquela cama, era uma enorme cama, uma quase infinita cama...

As coisas nem sempre foram assim... Esse foi o décimo quinto dia igual que tive depois que a perdi. Nada tinha tanto sentido assim, afinal, a vida continuava.

Esse costumava ser o amor. Desde os tempos da faculdade, das festinhas, das tão inocentes e doces cartas de amor aos beijos roubados. Prolongou-se numa narrativa tão romântica de momentos e sensações, cada buque de rosas naquele vaso da sala de jantar até o infinito fundo dos olhos daqueles cinco minutos que você para dançando o olhar sobre os dela.

Esse costumava ser o amor. Tão mágico e belo, tão hollywoodiano que parecia não ser verdade, que parecia ser um filme que eu via passar todos os dias na minha cabeça. E não me cansava!

Aquela viagem de casamento tinha tudo para ser memorável, e como foi. Lindos bosques regados por flores de outono, tudo dentro do padrão do que nós costumávamos chamar de amor.

Na volta para casa o simples momento. "Como eu amo você meu amor!" Eram as únicas palavras que eu ainda conseguia resgatar da minha memoria. Olhando para mim aqueles olhos tão inocentes e puros, aquele sorriso único que me enchia de alegria, me enchia de uma sensação de que bastava você estar ali para toda a minha felicidade ser real e contagiar o mundo inteiro, aqueles gestos tão apaixonados que prescindiam o último momento. Estendi a cabeça e lhe beijei, me perdi por um instante nos teus olhos e pensei em dizer que lhe amava, mas eu só pude abrir os olhos dois dias depois no hospital.

A chuva era muito intensa, a estrada era sinuosa, e nada parecia me amedrontar naquela noite, por que o amor costuma ser assim. E hoje eu ainda estou sonhando acordado, é como se o corpo voltasse para a realidade, mas o coração ainda estivesse preso ao passado. E se de repente eu tivesse dito que lhe amava? Ao menos isso me conforta, pois sei que você tinha essa certeza dentro de você.

Hoje a chuva despenca do céu, quase uma lembrança daquela noite, com exceção dos raios e relâmpagos, que violentos rasgam o céu preto. Essa estrada é muito bem iluminada, mas já foi tenebrosa há dias atrás. O medo deveria vir a tona, mas o amor costuma ser assim, a gente não sente o perigo, tudo remete ao momento que se repete incansavelmente na minha cabeça, contudo há certas e discretas diferenças, mas isso não me incomoda, por que é exatamente aonde eu me apoio nesta noite. Por que atrás do volante eu sei a diferença que me fara dormir a noite. Eu ria sozinho, parecia um maluco, olhava para o lado e via você ali aos meus olhos, seus sorrisos brincavam no ar e seus olhos ainda eram inocentes, seus gestos me tiravam a atenção e eu a beijei mais uma vez, só que dessa vez com muito mais amor, com a certeza de que o caminho traçado seria único. Segurei seu rosto e lhe disse ao pé do ouvido com todo o amor que eu tinha na minha alma “Eu sempre vou te amar!”.

E então eu pude me juntar a ela, pude reviver novamente o nosso sonho. Nem o cheiro de fumaça me faria esquecer como nós eramos felizes. Por que o tempo se arrasta sobre nossos feitos nessa vida, mas a gente sabe que o amor sempre estará lá, e nada vai me assombrar essa noite, por que hoje eu sou apenas uma simples e vaga lembrança de que o amor costumava ser assim.

***CURTE AI!

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