sábado, 27 de agosto de 2011

Começo... Fim... Destino...



“[...] Podia ser um romance hollywoodiano, ou mais uma ilusão da vida, mas era na realidade um dilema infinito, que contagiava a vida daquelas pobres almas, que tão distantes e ao mesmo tempo tão próximos, se perguntavam a si próprios aonde iriam encontrar a solução pra tudo isso.
                De tantos mágicos momentos e trágicas situações só sobrou a lembrança de cada sorriso, e hoje ninguém sabe ao certo o que é isso tudo, mas muito ainda estar por vir, e até lá o mundo dá suas reviravoltas, e seja o que for nós estaremos aqui pra contemplar mais uma bela ou trágica crônica de um casal um tanto quando fictício.
                Continua... “
24/06/2011
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Ana Paula ouviu o despertador tocar e logo se emburrou querendo mais cinco minutos na sua cama quentinha. Olhou pro teto do quarto esticou o corpo ainda deitada na cama e pensou “Mais um longo e monótono dia de outono”. Levantou-se lentamente, mas aprontou-se logo, era uma moça de considerável vaidade, mas naquele dia ao olhar no espelho sentiu um vazio, não sabia bem o que era, atribuiu enfim aos longos dias cansativos em que estava vivendo e a tão maldosa rotina que a havia feito de refém.
Antes de sair de casa teve aquela impressão de que estava esquecendo algo, voltou ao seu quarto e não conseguiu sentir a falta de nada, olhou para o relógio e viu que já estava em cima da hora, e quando foi virar-se para sair algo lhe chamou a atenção. Ela viu em cima da escrivaninha um mensageiro, daqueles que você retira uma frase aleatoriamente por dia. Ela não era uma pessoa demasiadamente religiosa, inclusive mal havia lido meia dúzia de mensagens daquele mensageiro, mas naquele dia ela não resistiu, abriu o zíper e fechou os olhos, como evitando trapacear o próprio destino, e retirou uma das mensagens, leu com os olhos “Deus tem grandes planos pra você no futuro.” Num instante pensou vagamente “Cadê esses planos que até agora nem deram sinal de vida?”, mas achou uma blasfêmia, esqueceu aquilo, jogou a mensagem de lado e saiu de casa.
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Pedro levantou-se em um pulo só da cama, arregalou os olhos e em meio segundo já estava mais acordado que dormindo. Acendeu a luz e abriu a janela. O sol estava de um brilho estupidamente maravilhoso, e então ele foi forçado a apagar as luzes novamente. Ele foi até o banheiro e ao adentrar-se bateu o cotovelo na maçaneta, soltou um “caralho!!” e olhou-se no espelho. Tinha uma bela e enorme espinha bem no centro da sua testa. “Maravilha”, ele tomou seu banho e saiu de casa.
Chegando à portaria do apartamento lembrou-se que havia esquecido seu chaveiro, e voltou para buscá-lo. Pegou o chaveiro com as chaves e viu seu colar da sorte em cima da mesa, o colocou no pescoço, era deveras um cara mítico. Enfim, saiu de casa, e foi para o trabalho.
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O sinal tocou e todos desceram para o almoço, Pedro estava mendigando os segundos pro fim daquela insuportável sexta feira, pegou sua carteira e desceu para almoçar, uns amigos o convidaram pra comer um pastel, mas ele recusou e optou comer sozinho num pequeno café que havia na esquina do quarteirão onde trabalhava.
“Nossa que colar lindo!” exclamou uma voz feminina do seu lado, Pedro olhou meio espantado ao lado e suspirou ao dar de cara com a morena. “Ele é meu talismã... Oi, qual seu nome?” A garota sorriu e disse “Ana Paula, o prazer é todo meu...”. Eles se conheceram, trocaram telefones, saíram naquele mesmo final de semana, e pra quem não acredita em amor a primeira vista, eles tiveram a segunda a terceira e até a décima vez para se apaixonarem.
Ela o completava e vice-versa, como feijão com arroz, e há quem diga que não existe razão pra essas coisas, mas só a maneira que eles se olhavam nos olhos era diferente, era um brilho diferente, era como olhar pro sol e não queimar os olhos, e eles se amavam a cada dia mais e mais e...
“Eu passei minha vida inteira te procurando, buscando esse brilho que só encontro nos teus olhos...” ela dizia, e ele respondia “Eu prometo que sempre farei de tudo pra te ver bem minha querida...” e trocavam eternas juras de amor.
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Meses depois as coisas sofreram um leve abalo, tudo por razão de um pesadelo que Pedro havia tido. Ele sonhou, mas não se recordava bem, lembrava-se de uma voz dizendo “Você tem cinco dias para abandona-la, se não você a vera morrer. E tudo começara em brigas.” Ele acordou assustado, mas logo deixou aquilo completamente de lado e saiu de casa, mas naquele dia ele e Ana Paula brigaram, e feio. Ele voltou pra casa, mas se quer fez ligação ao sonho que tivera.
Na segunda noite ele teve o mesmo sonho, só que com mais abalo e dessa vez ele ouviu “Você precisa deixá-la, ela perderá um amigo...” Ele acordou assustado igualmente, mas atribuiu a rotina conturbada, mas ao tentar conversar com Ana Paula sobre a briga do dia anterior percebeu que ela estava super abalada emocionalmente, e então ela contou-lhe que sua melhor amiga havia falecido essa madrugada em um acidente de carro.
Pedro passou algumas horas em claro, pensando indignado como podia tanta coincidência, ficou tentando resgatar da memoria, tentando achar uma falha no sonho, não podia ser real, ele comeu todas suas unhas, mas ignorou novamente aquilo tudo, além do mais, fizera as pazes com Ana Paula, não havia por que ter mais pesadelos. E então na terceira noite ele sonhou com seu amigo de trabalho dizendo algo no ouvido de Ana Paula, ele acordou atordoado e pensou logo “mas bem, eles nem se conhecem”.
Ele saiu de casa, foi até o café do centro encontrar Ana, e lá deu de cara com ela sentada e o amigo próximo a ela conversando, como num ato irracional ele decidiu dar razão ao sonho, entrou gritando no lugar, deu um murro no amigo, gritou diversas exclamações e só saiu retirado a força por seguranças. Naquele dia ele perdeu o amigo, contou dos sonhos pra Ana, que não acreditou muito nele, e logo acabou por perder um pouco de confiança, e por fim, como já descrito perdeu de certa forma um pouco da razão da situação.
Na quarta noite Pedro viu luzes de ambulância, viu seu braço quebrado, e camas de hospital. Mas foi de imediato, ele acordou e não sairia de casa, ele provaria pra ele mesmo que tudo não passava de uma loucura da sua própria cabeça, ele não entraria no seu carro hoje. Mas o destino é definitivo, ele saiu pra colocar o lixo pra fora, se assustou com o cachorro que saiu como um vulto do meio das lixeiras e caiu todo desajeitado escada a baixo. Ele quebrou o braço, a vizinha chamou a ambulância e ele parou no hospital para engessar, ele viu tudo que havia no sonho, não como imaginou que fosse, mas viu, e sentiu pela primeira vez medo, muito medo.
Ele ligou pra Ana Paula aquela noite, disse que lhe amava, e que faria de tudo para vê-la feliz e bem, lagrimas rolavam do seu rosto e ele começou a se embaralhar com as palavras, ela aflita não entendia o que estava acontecendo. Ele pediu perdão por tudo, disse que a amava e que estaria com ela pra toda a vida, segurou enormes minutos no telefone, ouvindo um vazio, juntando a coragem que faltava pra poder dizer que não a veria mais, e poder carregar pra sempre o peso de que ela jamais entenderia o porquê.
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Foi então que a coragem falhou, a mão dele tremeu e lentamente ele pôs o telefone no gancho. Ele então se ajoelhou ao pé da cama, fez as mãos em forma de oração e fechou os olhos. Ele perguntou a Deus por que ele estava fazendo aquilo com ele, implorou pela sua vida que a deixasse bem, ele pediu com todas as forças que pudesse existir uma outra saída para aquilo, pois ele não resistiria viver com nenhuma das duas opções que haviam lhe dado. Ele então olhou pras estrelas e pra noite sem luar no céu e deitou-se na cama, fechou os olhos e dormiu...
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Ana Paula havia morrido, ele a via dentro do caixão, tinha flashes de uma tragédia, sangue para todos os lados, muita dor, sofrimento e lágrimas. E ao lado dele no velório uma mão pousou em seu ombro, ele não via o rosto do homem, mas ele lhe disse ao ouvido “você quer uma oportunidade de fazer diferente?” e Pedro balançou a cabeça sem conseguir proferir uma palavra se afogando nas próprias lagrimas. O homem desapareceu, Pedro o procurou, não o via mais, sentiu um ar quente no rosto...
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Pedro acordou. Colocou a mão no rosto procurando as lágrimas, não as encontrou, deu o mais longo suspiro e levantou da cama. Acendeu as luzes e abriu a janela, o sol estava estupidamente maravilhoso, ele então foi forçado a apagar as luzes novamente, dirigiu-se ao banheiro e esbarrou o cotovelo na maçaneta e disse “caralho!!” fez cinco segundos de silencio, e quando percebeu disse mais assustado ainda “caralho!!!” Olhou horrorizado pro espelho e encontrou uma bela espinha no centro da sua testa, ele quase desmaiou, e percebeu que seu relógio marcava a data de meses atrás, e ele sabia exatamente que dia era aquele, ele se arrumou pra sair de casa e por uma ultima vez tentou enganar o destino, pegou seu chaveiro pra não precisar voltar em casa para buscar seu colar, que seria o que o faria conhecer Ana, mas ao chegar na portaria do apartamento ele percebeu que suas chaves não estavam no chaveiro, e voltou ao apartamento, encarou o colar, e se rendeu, foi pro trabalho...
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Era o mesmo dia, as mesmas falas, Pedro se lembrava com riqueza de detalhes, lutou contra aquilo, mas sabia que não adiantaria, entrou no café, sentou-se e fechou os olhos bem forte, tentando uma ultima tentativa de ser apenas um sonho maluco.
“Nossa que colar lindo!” exclamou uma voz feminina do seu lado, Pedro olhou e viu Ana Paula, ela era linda, e tinha o sorriso dos seus sonhos, os olhos dele se encheram de água, ele segurou a voz falha e disse “Ele é meu talismã... Oi, qual seu nome?” A garota sorriu e disse “Ana Paula, o prazer é todo meu...” e ele virou-se para ir embora, a garota o segurou pelo braço e disse “Por que a pressa? Disse algo de errado?” ele sentiu vontade de abraça-la e contar tudo, mas que doideira seria entender o que estava acontecendo, ele falou duramente, mais com ele, do que com ela “Não foi nada, mas eu não posso te conhecer...” Ela sentiu a tensão no corpo de Pedro e pediu carinhosamente “Por favor, abra os olhos, deixa eu te ver ao menos” e ele abriu lentamente deixando escorrer uma lagrima, ela olhou no fundo dos olhos dele e disse “É como se eu já te conhecesse há anos, esse brilho no seu olhar é uma coisa muita familiar pra mim, é como...” e ele a interrompeu e disse “não, não é não... Deus me disse que tem grandes planos pra você no futuro, agora com licença” e ele saiu pela porta da frente.
Ela ficou imóvel lá por horas, lembrando dá frase que lera antes de sair de casa, aquele estranho havia lhe dito a mesma coisa, um arrepio atravessou todo seu corpo, e como se ela entendesse toda a magia do acontecimento levantou-se, sorriu para o sol e continuou sua vida...
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Pedro saiu olhando fixamente para o nada, ele teve a oportunidade de fazer diferente, e optou por não a conhecer, ele não queria vê-la sofrer, mas ficou repetindo infinitamente na cabeça aquela frase do sonho “tenho grandes planos pra você no futuro” e se agarrou dia e noite nessa frase, sonhando o dia que encontraria Ana novamente e poderia dessa vez, como combinado de Deus, ser feliz ao lado da moça, sorria só de imaginar, o que ele não sabia, é que nunca mais a veria de novo.

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