terça-feira, 14 de abril de 2015

Pé de Valsa


Johann Strauss - El Danubio Azul

 Se não me falha a memória era a vigésima quarta vez que eu olhava no espelho. Eu estava visivelmente nervoso e ansioso, era o grande dia, tudo deveria estar perfeitamente em ordem como o planejado. Eu ajeitei o nó na minha gravata trocentas vezes, e ainda assim parecia assimétrica demais para o meu gosto. Meu terno estava impecavelmente passado e justaposto ao meu corpo. Banhei-me em perfume, penteei o cabelo, amarrei o sapato e entrei no salão.

         Estavam presentes algumas centenas de pessoas ali esperando pela cerimônia de formatura. “Enfim formado!” Todos riam, conversavam e se divertiam. A decoração estava impecável, com efeitos lindos de luz sob alguns vasos com plantas por todo o salão. Muitas famílias estavam ali, além de muitos amigos e muitos professores queridos, mas o que realmente me importava naquela noite singular era a minha morena.

         Ela apareceu deslumbrante num vestido vermelho encantador, que descia pelo seu corpo perfeito e encaixava nela como uma luva. Os cabelos estavam parcialmente presos e os saltos nos pés a deixavam ainda bem menor do que eu. Sorriu para mim de longe, que já estava totalmente hipnotizado por ela. A partir daquele momento eu só tinha olhos para àquela morena no vestido vermelho.

         O momento da valsa chegou enfim, e eu começava a soar frio. Todos em pé estavam prontos para assistir aquela performance padrão de formatura. Ela se aproximou de mim e o seu perfume já tão comum invadiu minhas narinas, e como todas as outras mil vezes me arrancou um sorriso involuntário e pueril. Minha respiração perdeu alguns compassos e com toda calma do mundo coloquei minha mão esquerda no meio das suas costas, onde a mesma foi descendo delicadamente até a sua cintura. Juntamos nossas mãos direitas e começamos a dançar aquela clássica e belíssima melodia de Johann Strauss, El Danubio Azul.

          Eu olhei em seus olhos e de repente só existiam nós dois naquele baile. Sozinhos naquele imenso salão infinito. Seu sorriso me reconfortava como uma brisa de outono, e eu se quer me lembrava que não sabia dançar. Alguém colocou uma rosa em minhas mãos e então eu a trouxe para frente do seu corpo, entregando-a. Ela abriu um sorriso e os olhos levemente molhados de emoção se debruçaram em meu ombro. Eu soltei a sua mão e a segurei pela cintura com as duas mãos, a trazendo o mais próximo possível do meu corpo. Ela apoiou ambas as mãos sob meus ombros, com a rosa em mãos, e então fechamos os olhos e bailamos pelo infinito incontável e imensurável das nossas tão doces e velhas lembranças.         

Uma luz forte me distraiu e quando abri os olhos todos estavam em volta da gente, nos admirando. Era visível um certo brilho nos olhos das pessoas ali, e todas as câmeras estavam voltadas para nós. O nosso amor era tão exageradamente belo que encantava todo e qualquer coração que passasse por perto. Seu pai se aproximou, e beijando a sua mão, eu passei a dança para ele.          

Aquele momento singular, a valsa, o vestido, as mãos, aquele sentimento indescritível... Tudo ainda me faz lembrar daquele dia como se fosse exatamente ontem. Seis anos se passaram desde então, eu não te vejo há tantos anos, mas as fotos ainda estão aqui, ainda me despertam felicidade. Espero que suas lembranças sejam tão marcantes quanto as minhas, pois muitas delas me definem hoje como homem. Aquela foto específica do baile, naquela noite especial, ainda habita minha caixa de recordações no meu armário, e me faz crer que cada pedaço de amor que doamos ao mundo ainda reflete por ai aos olhos de meros e totais desconhecidos. Obrigado!
           


         

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