sexta-feira, 26 de julho de 2013

O Cubo Mágico da Vida.


Aqueles olhos grandes me seduziam de forma espantosa, era meu êxtase diário de delírios, vinha acompanhado de uma dose de sorrisos e um perfume que era escancarado ao meu rosto a cada brisa de vento cintilando pelos vermelhos fios de cabelo que caiam sobre seus ombros. Demorou, mas eu decidi me arriscar naquela aventura em forma de sonho. Aquele anjo sorriu de volta e depois de tantas conversas ela me sentenciou de forma que eu jamais poderia esquecer:
-Você me parece um cara inteligente, eu acho que você pode conseguir me ajudar em uma coisa. Esse cubo aqui era do meu pai, ele costumava dizer que era como a vida, por que nele há mais de 43 quintilhões de possíveis formas de se ajustar e se você pudesse fotografar uma forma por segundo ainda sim demoraria 1400 trilhões de anos pra se visualizar todas. É como a nossa vida, a gente deve escolher como viver e gastar nosso tempo vivendo dessa forma, garantindo que não haja milhões de metamorfoses que nos façam perder os melhores momentos dessa curta jornada.
Meu cérebro começou a fritar, mas como um bom amante dos números parecia intrigante e desafiador, eu fiquei ali admirado com a firmeza nas palavras da garota.
-Eu quero que você o resolva, deixe na forma mais simples possível, onde cada lado tem a sua devida cor, é assim que eu espero viver a minha vida, de forma simples, organizada e feliz. Você conseguiria me ajudar? – e sorriu desafiadoramente.
O dia foi longo, nada tirava minha atenção, eu precisava resolver aquele treco, era tudo que eu tinha para ter a garota dos meus sonhos. Horas e dias se passavam e nada, depois de conseguir resolver partes eu precisava desmanchá-las para conseguir outras, era desanimador, eram tantas possibilidades que chegava a parecer impossível resolve-lo. Até mesmo tentando estabelecer critério e padrões matemáticos, era inútil, e eu ficava imaginando que talvez apenas um gênio fosse capaz de decifrar aquele enigma.

O coração sempre foi aberto a sentimentos como esse, eu talvez nunca conseguiria resolver aquilo ali, mas de certo eu jamais deixaria de tentar, isso era certo. Eu ficava recordando meus avôs e o lindo romance que tinham construído por anos e anos de vida. Era notável por todos a energia que emanava daquele casal de velhinhos cabeça branca, décadas iam sendo escritas no livro do tempo e nada abalava aquela paixão, nada mesmo, contagiante e de se emocionar com os mimos que eles trocavam, e até o último segundo isso perdurou. Quando meu avô partiu dessa pra uma melhor minha vó estava lá, debruçada sobre seu peito, deixando as lágrimas rolarem e apertando forte a sua mão e dizendo em confidencia o quão gratificante tinha sido passar todas as suas décadas de vida ao seu lado.
Todos em luto, e a pessoa em que mais se haviam preocupado estava bem. Era impressionante a força da vovó, ninguém poderia acreditar como ela continuava sorridente e feliz, vivendo cada segundo e fazendo seus crochês lindos, como se nada tivesse acontecido. Foi assim até mesmo depois que o câncer tomou conta do seu corpo frágil, e ela teve os movimentos perdidos. Ela era forte, e até internada no hospital com a comida ruim ela estava feliz e bem humorada, foram anos e anos de vida devido a essa autoestima elevada, ela chegou a me contar o ‘segredo’, ela disse que não importava o que aconteceria com ela, ela tinha aproveitado a vida do jeito que ela sonhou, o amor prometido ao lado de vovô, foram mágicos ela dizia, e sem dúvida ela deixaria esse mundo sorrindo, por que foi assim que ela passou por ele ao lado do seu grande amor, e ela não estava errada, no dia em que faleceu ela estava sorrindo, um sorriso tão largo que a morte parecia apenas um belo e confortável sonho de criança.

Todas as histórias em um flash e eu olhava para aquele bendito paralelepípedo reto de arestas congruentes e suspirava em pensar que poderia perder o amor da minha vida por um desafio impossível.

Hoje, depois de algumas décadas eu tenho algumas várias histórias para contar. Principalmente a que diz respeito a como minhas manhãs eram felizes ao acordar ao lado aqueles lindos olhos castanhos, que a cada dia eram mais lindos e cheios de amor pra dar. Era o amor certo, e eu pude tê-lo só pra mim, em cada ano da minha vida e desfrutá-lo de maneira genuína. Era impossível não sorrir para aquele doce e belo rosto, que mesmo com o tempo trazia o conforto que eu sempre desejei ter dentro de mim.
Como eu consegui? É uma boa pergunta, eu ainda não posso acreditar que cheguei naquele dia, há muitos anos atrás e entreguei o cubo desfeito, e simplesmente disse que era impossível, que se a vida tivesse que ser daquela forma eu talvez nunca conseguisse, e que certamente eu preferiria vive-la da maneira que eu sempre a vivi. Chega a ser engraçado como eu conquistei aqueles olhos com essas palavras. Hoje, depois de décadas, o cubo permanece entre a gente, e como eu disse que jamais desistiria, ele está lá, só que desta vez totalmente resolvido. É um troféu do nosso amor, que eu pude conquistar pouco a pouco traçando uma história ao lado do meu amor.
Mas a vida não acaba aqui, ela sempre será feita de desafios, e o fim só chega quando o tempo acabar, até lá nós vamos superando os obstáculos maiores, por que são eles que nos mantém vivos e aquecidos dentro da vida das pessoas que amamos.
-Amor! Veja só o que eu comprei hoje!



-Nossa querido! Assim você vive por nós dois toda uma vida – dizia com o sorriso e os olhos grandes que eu jamais vou esquecer.


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