quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O Limite da Realidade: Sonho Real ou Realidade Imaginária?



A gota deslizava suavemente desafiando a gravidade, pendurada de ponta cabeça lubrificando aquele canto de parede verde e mofado. As rachaduras se estendiam interminavelmente, e as gotas caiam do teto como em sinfonia, as marcas na parede eram negras como sombras, de que há muito tempo não eram cuidadas. A janela de madeira estava corroída, e os cacos de vidro ainda estavam jogados ao redor, lá fora o céu era de um cinza tenebroso, a terra era seca, e nada ao redor crescia ou vivia. Ele olhou ao redor e encontrou entulhos que um dia já tinham sido alguma coisa, nada era identificável, o cheiro era ruim e o ar não era respirável, o teto parecia estar pra desabar, e absolutamente nada ali parecia bem o suficiente para se salvar.
Ele piscou os olhos.
Ao abrir viu a textura na parede e o teto pintados, tão novos que podia até sentir o cheiro da tinta, a janela estava decorada com uma cortina branca encantadora, e lá fora ele viu o sol banhando as planícies cobertas de flores e árvores, a brisa entrava e batia em seu rosto, e o frescor da tarde invadia a casa, ele sentia o cheiro de perfeição, e podia sentir em cada músculo do corpo a felicidade dos arredores, o quarto estava amplamente bem decorado, mas ele reparou em especial num criado-mudo antigo e bem conservado, em cima dele havia uma foto emoldurada a ouro, ele olhou e sorriu lembrando-se do melhor momento da sua vida.
Ele piscou os olhos e voltou para o mundo destruído, e assim piscou mais uma vez, e foi para um mundo perfeito, e assim ficou repetidamente por anos da sua vida...
Certo dia, ele cansou de viver em um mundo perfeito e em outro destruído, ele sentou-se no mesmo quarto e se questionou, se perguntou o porquê tudo tinha quer tão certou ou tão incerto, ele não obteve respostas, mas depois de muito sacrifício e tempo, de um árduo trabalho e foco mental chegou a uma conclusão.
Ele decidiu que queria um mundo misto, banhado pelos extremos, cercado de imperfeiçoes e coisas lindas, ele queria seus dois mundos em um só, e então fechou os olhos, pois era só ali que ele ficava entre as realidades, e ficou por horas com eles fechados, tentando buscar dentro de si o ingrediente que surtiria na fusão daquelas realidades, e o faria só enxergar a partir de então um mundo só.
Ele abriu os olhos, olhou ao redor, e viu os mesmos bosques floridos, e quando piscava via tudo desabar fervorosamente. Ele se irritou, não podia mais viver assim, e já não sabia o que fazer.
Depois de muito pensar ele foi até a janela e a consertou, e quando piscou novamente não a viu mudar, logo mais pegou seu porta-retratos, deu um sorriso de canto de boca e o desfez em mil pedaços, ao piscar ele continuou exatamente igual, e assim ele achou a resposta.
Ele voltou-se a sentar, fechou os olhos, e buscou bem no fundo de sua alma o que queria, reformulou cada passo, cada canto e cada acaso da sua história.
Ele abriu os olhos então... Perfeição? Destruição? Equilíbrio? O que ele realmente via agora? Eu não sei, eu posso o ter inventado, ter inventado a sua história, os seus mundos, posso até te dizer que nada disso é real, não passa de um sonho, mas o que adiantaria? Pra ele, exclusivamente pra ele, agora tudo é real, tudo faz parte da realidade que ele criou, e eu não sei como ela é, mas seja lá como ela for... Ele abriu os olhos e sorriu.

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