quinta-feira, 5 de setembro de 2013

O Peso Das Decisões



Os microscópicos ciscos de poeira desciam pelo feixe de luz que atravessava a janela do quarto, e aos poucos iam se depositando em cima da cama onde ele estava deitado pensativo. Olhou o céu lá fora, estava azul, sem nuvens e perfeito para qualquer tipo de programa, mas na cabeça dele só uma única coisa lhe tomava naquele momento. Roeu cada unha que tinha nos dedos e então suspirou profundamente com a certeza de que não seria fácil, e o telefone então tocou.
Uma breve conversa seguiu e como naturalmente previsto ele pegou as suas coisas e saiu de casa. O sol lhe deu boas vindas e ele cabisbaixo foi seguindo seu caminho tropeçando nas palavras que gostaria de usar. Alguns minutos depois ele chegou ao seu destino, e havia pensado tanto que simplesmente não havia nada planejado, era apenas aquela sensação sincera, que dizia que era a melhor e talvez única saída.
Ele entrou pelo portão em transe e recebeu um abraço longo, logo mais se ajoelhou e acariciou o cachorro que lhe vinha dar boas vindas feliz com a inocência de uma criança. Seguiu adiante e “Oi” era o que ele ouvia saindo embebido de melancolia da voz dela. E foi então que de repente ali olhando nos olhos dela voltou à realidade. “Mas podemos tentar de novo...” e ele na sua luta interna sabia o que deveria fazer, e sem pestanejar proferiu a sentença máxima de encerramento daquela ata.
Dentro dele cada lágrima que escorria pelo rosto dela era uma penitencia que ele deveria pagar no futuro. Ele tinha de ser forte, sua postura quase desumana assombrava a ele mesmo, e de passos lentos e contra a vontade foi se dirigindo a saída, mesmo que puxado e arrastado para ficar mais, ele desviava os olhos, fugia daquela cena, o show tinha terminado e ele precisava abraçar aquela decisão. “Você não me ama mais?” e em pequenos nuances de flashbacks ele sabia que era mentira, e como era mentira, mas mesmo assim, sem medo respondeu áspero “não”, e um ponto final ficou colocado naquele parágrafo.

Aquele último abraço lhe dava mais vontade de ficar, e ali olhando para o cachorro, que sorrindo não podia entender, ficou ouvindo as vãs tentativas. “Você vai me abandonar aqui com nosso filho?” e o olhar tão inocente daquele Retriever refletia toda a história que havia ali, o próprio havia sido um presente de namoro, e por bem ou não funcionava como um filho, seus olhos começaram a se umedecer, e ele deu de costas e caminhou pelo portão. Postura séria e decidida, ninguém sabia, mas ao sair dali as lágrimas foram ficando caminho a fora, caindo pesadas e doloridas sabendo que era o preço a se pagar se um dia quisesse a vê-la de novo. Mas nunca imaginaria que o tempo lhe custaria o seus bens mais preciosos, o seu filho e o seu amor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário