Pela
oitava vez ela deitava a cabeça pesada no travesseiro e chorava. Foi um mês difícil,
mas ali dentro do seu consciente ela até achava oito em trinta um número
razoável. E assim seguiam os dias arrastados em memórias que não iam embora,
por mais que a vontade de seguir adiante a motivasse, parecia que algo a
segurava ali, naquele pedaço perdido de recordações dosadas de palavras vazias,
e ela não podia mais se sentir assim.
A
rotina a convencia de que a dor iria embora logo, o sol ia amanhecer um novo
dia e de repente ela estaria bem, em um lugar onde só o futuro a seduziria a
sorrir. Mas era fato que certas coisas não cabiam na região desapego do seu
cérebro, a pasta já estava cheia, e as soluções faltavam. Uma a uma as noites
iam passando, e ela podia se sentir melhor consigo mesma, mas algo faltava.
Encontrou
três ou quatro hobbies, conheceu meia dúzia de pessoas novas, trocou alguns
passos e horários da rotina e a vida já lhe parecia nova. Queria novas
aventuras, o desejo lhe desafiava a novamente buscar a perfeição dos seus
sonhos mais profundos. O sol entrava na janela banhando seus cabelos e ela
sentia o cheiro do novo. A vida é feita de mudanças, ela estava disposta a
mudar, aceitar o desconhecido.
Abriu
os olhos bem devagar e levemente tonta em meio a multidão se segurou, apoiou-se
nos braços dele, que de pé estava ali a fitando com um olhar indeciso. Os
lábios se tocaram algumas vezes mais enquanto as luzes piscavam forte em cima de
suas cabeças.
A
vontade era motivadora, mas ainda faltava algo, e naquela noite o desejo foi substituído
inteiramente pelo vazio. Seu coração vacilou momentaneamente e simplesmente o
medo a invadia por todos os lados, o que poderia ser afinal? Ela estava confusa
e parecia regredir nas trevas dos seus sentimentos. Algo ali a tornava vazia,
tão vazia que nem podia sentir algo que tinha certeza que precisava, então
voltou-se a deitar na sua cama, preocupada, sentindo que talvez tivesse apagado
coisas demais, e em algum lugar da sua lixeira mental algum arquivo tivesse
sido enviado por engano a pasta do desapego.
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