terça-feira, 13 de novembro de 2012

A Chuva




Tirou os pés da chuva, e pôs se a chorar, eliminando cada resto de amargo do seu coração, a chuva lavava sua tristeza, e ela soluçava feito criança. Buscando no barulho das suas lágrimas o silêncio da sua alma.
A vida era monótona, chata, cheia de imperfeições e pedaços de coisas podres, carregada de um odor ruim de insatisfação. Nada parecia certo, as pessoas não eram certas, nada lhe comovia, nada lhe agradava, os padrões não se encaixavam, a vida não fluía, os sonhos eram intangíveis de tal maneira que a esperança não passava de uma ideia distante.
Assim se fez mais uma história naquele pedacinho de lugar na imensidão do universo infinito, mais um alguém buscando respostas nas perguntas que não tinham solução, esse é o pedaço da vida de cada um de nós, fadados a vagar no legado da nossa miséria. Ela tinha brilho nos olhos, seu sorriso escorregava entre as bochechas de forma encantadora, era quase uma contradição encontrar mágica em uma alma triste, mas lá estava ela.
Ela tinha tudo sob controle, ou achava que tinha. Era como sentir prazer em se viver de angústia, mas no fundo às vezes um sorriso escapava, e nem sempre tudo parecia perdido. Os problemas eram sombras que se afastavam quando o sol aparecia por detrás das nuvens e trazia aquele lindo efeito do arco íris. Era lindo saber como uma gota de chuva, que parecia uma lágrima triste, poderia fazer um efeito prismático à luz do sol e nos presentear com uma bela visão.
O silêncio aos poucos foi se rompendo e o céu foi adquirindo seus mórbidos tons de cinza, os relâmpagos cortavam o horizonte vez ou outra, e a chuva despencava sobre as telhas como se viesse de bem longe no espaço. Ela sentou-se na varanda de novo e esticou os pés à chuva, aquela mesma sensação de choro invadiu seu corpo de novo, mas dessa vez ela se pôs de pé e saiu rua a fora, ficou parada ali, vendo as pessoas correndo para suas casas e pegando seus guarda chuvas.
Sentou-se então no meio fio e ficou olhando para o céu, a água deslizava pelas suas curvas e ela sentia a temperatura do seu corpo diminuindo, ela soltou um sorriso sem graça e continuou ali estática. Ela acordaria com um baita resfriado no dia seguinte, mas já não importava mais, por que aquela leve sensação de querer desaparecer do mundo, por algum motivo, desaparecia quando lá de cima o sol vinha rasgando a escuridão dos nossos pecados.

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