quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Te amarei de janeiro a janeiro.

O amor surge quando o inverno sem querer vira verão, quando não existe chuva forte, tempestade ácida ou neve certa para impedir dois corações de se olharem, para fazer com que a vida vire do avesso e seja menos do que parece ser.

    A verdade é que eu vivi anos sob a mesma estação, passei dias florescendo pela manhã e deixando minhas folhas caírem a cada fim de tarde, eu vivi muito tempo a espera de algo que pudesse me deixar emocionalmente estável, que pudesse me fazer permanente, em eterna primavera ou em chuvas pequenas e curtas para um raiar de sol ainda mais forte que o anterior.

    Sim, eu era furacão querendo calma, era ódio implorando amor, sede ansiando por água e outono desejando desesperadamente florescer, e foi então que você surgiu com uma barba mal feita, com um sorriso aéreo e cheio de cor, transbordando flor e amarelo ouro na minha vida, sendo um tudo repleto de vazio, mas um vazio que eu queria que ficasse eternamente preso as minhas raízes, um desconhecido lindo que eu queria manter perto com todas as interrogações, com todas as chuvas, com todos os céus escuros e claros, eu queria você e o seu sorriso deslumbrante próximo a mim, o resto eu poderia resolver, porque não haveria de existir dúvida certa com você sendo a explicação existente entre cada parêntese definitivo que marcava o enlace da minha história.

    Sempre acreditei na eternidade, tanto do amor quanto das estações, tanto de mim quanto de você, tanto dos nossos laços quanto do nosso nó(s). Sempre acreditei em eternidade porque naquela rua tranquila em frente a casinha amarela que eu sonhava em morar, estava um velhinho chorando a perda da sua amada, como se repetisse para si e para o mundo o quanto a tinha amado naquela mesma cadeira todos os dias, o quanto eles foram eternos a cada pôr do sol, a cada lua cheia e nova, a cada queda de folhas, chuvas, só(i)s e florescer, e agora, como aquele senhor dizia para o seu amor, eu te digo que te eternizo em mim durante toda festa anual, durante cada nuvem que se forma e cai em mim de paraquedas em forma de chuva, água seca e sol quente.

    As coisas findas viram as mais espetaculares e saborosas quando doem, por incrível que pareça, em qualquer estação que você viesse a surgir hoje, iria doer, mas iria ser uma dor daquelas que a gente se acostuma a viver, uma dor feita de silêncios, e se eu não fosse tão fanática pela tranquilidade do não dito, jamais te aceitaria em forma de tempestade, mas como diria Clarice Lispector: "Eu também sou o escuro da noite."

(Marina Galvão)

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