quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Sol de Inverno




(Pedro e Ana Paula; texto III)
Kauê de Paula

Uma tal de Ana Paula descia as escadas da cafeteria na zona sul daquela enorme metrópole barulhenta. Sua bota de couro combinava com seu cachecol, e seu chocolate quente na mão esquerda esfumaçava pela atmosfera congelada de inverno. Ela descia sozinha a rua doze por volta das quatro da tarde quando jogou o copo do seu chocolate no lixo, limpou os lábios com a manga da blusa e continuou andando rua a baixo.
A neve tomava as calçadas e aos poucos ia engolindo cada centímetro do chão da cidade. Um floco singelo caiu sob a língua de Pedro e ele então fechou a boca num gesto de sorriso, e como se pudesse sentir-se melhor olhou para frente e continuou caminhando, seu destino era a padaria que ficava logo de esquina, eles tinham um belo pão de queijo, no entanto seus planos foram frustrados pela graciosa figura que descias as escadas da cafeteria há uma quadra antes da padaria.
Pedro se escondeu atrás de uma senhora que estava em pé por ali e ficou contemplando a imagem que paralisava seus olhos. “Achei que nunca mais a veria” e realmente já fazia anos, e ele não tinha uma ação reserva nesse caso, então começou a segui-la, e a viu descendo pela rua doze. A cada passo naquele rebolado ele perdia mais a respiração, até que parou por um momento “Que loucura, não posso continuar” e deixou ela virar a esquina, adiantou-se um pouco a frente e pegou o copo de chocolate no lixo, ainda estava quente e com a marca de batom na borda. Jogou fora...
“Não é possível Lucas, o que eu faço?” indignado ficava Pedro com tudo aquilo, não sabia se a via em tudo por ódio ou por que queria, sentia um leve aperto no fundo de uma história mal resolvida, mas ao mesmo tempo sabia, que talvez, aquilo não deveria ser mais desenterrado. “Se vira meu irmão, faz o que te der vontade, o que você quer fazer?” Pedro agradeceu a ajuda inútil “Eu quero é matar aquela magrela peituda!”
O inverno se acentuou e as ruas foram se esvaziando, Ana Paula fechou sua última gaveta e guardou sua ultima peça de roupa na mala, olhou a neve caindo lá fora, agora com mais força, e deu um suspiro longo. Não tinha ideia do que a esperava, e isso a assustava, mas sabia bem o que ela queria naquele momento específico. Pegou seu casaco e saiu de casa, foi até o mirante e sentou-se no banco gelado, olhou para seus pés e ficou fitando a neve, foi então que percebeu os fracos raios do sol abraçando a neve, e pode assistir aquele processo físico vagaroso.
Ela caminhou até o beiral do mirante e se debruçou na grade, e ficou ali vendo o sol por trás dos milhares de flocos que desciam do infinito. Alguém se estagnou ao seu lado e esperou ela virar, “Nossa, você aqui!” A surpresa era real, mas ela não sabia como reagir aquilo e ficaram se olhando. “É... Eu sei que você vai embora.” Dizia Pedro tropeçando nas palavras, “Inclusive a mala já está pronta”, e ela não sabia dizer, mas era como se ele estivesse chorando flocos de neve, e aquilo a atingia por dentro, mesmo que por fora ela fosse a mesma. “Eu só queria dizer Adeus da forma correta dessa vez, e tentar ser menos babaca” Ela fez que concordando com a cabeça e lhe deu um abraço, longo talvez pelo tempo, mas bem curto pelo o que um dia já fora. E ele então deu um sorriso amargo, olhou aquele por-se-sol torto pela neve e se virou. Ela segurou seu braço antes dele se distanciar e esperou ele se virar novamente “Você tem razão, você é um babaca... Mas eu gosto de você”. Soltou e virou-se para o sol, seja lá qual fosse a reação dele, ela jamais saberia, quando se virou ele já não estava mais lá.

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