(Pedro e Ana Paula; texto III)
Kauê
de Paula
Uma
tal de Ana Paula descia as escadas da cafeteria na zona sul daquela enorme metrópole
barulhenta. Sua bota de couro combinava com seu cachecol, e seu chocolate
quente na mão esquerda esfumaçava pela atmosfera congelada de inverno. Ela
descia sozinha a rua doze por volta das quatro da tarde quando jogou o copo do
seu chocolate no lixo, limpou os lábios com a manga da blusa e continuou
andando rua a baixo.
A
neve tomava as calçadas e aos poucos ia engolindo cada centímetro do chão da
cidade. Um floco singelo caiu sob a língua de Pedro e ele então fechou a boca
num gesto de sorriso, e como se pudesse sentir-se melhor olhou para frente e continuou
caminhando, seu destino era a padaria que ficava logo de esquina, eles tinham
um belo pão de queijo, no entanto seus planos foram frustrados pela graciosa
figura que descias as escadas da cafeteria há uma quadra antes da padaria.
Pedro
se escondeu atrás de uma senhora que estava em pé por ali e ficou contemplando
a imagem que paralisava seus olhos. “Achei que nunca mais a veria” e realmente
já fazia anos, e ele não tinha uma ação reserva nesse caso, então começou a
segui-la, e a viu descendo pela rua doze. A cada passo naquele rebolado ele
perdia mais a respiração, até que parou por um momento “Que loucura, não posso
continuar” e deixou ela virar a esquina, adiantou-se um pouco a frente e pegou
o copo de chocolate no lixo, ainda estava quente e com a marca de batom na
borda. Jogou fora...
“Não
é possível Lucas, o que eu faço?” indignado ficava Pedro com tudo aquilo, não
sabia se a via em tudo por ódio ou por que queria, sentia um leve aperto no
fundo de uma história mal resolvida, mas ao mesmo tempo sabia, que talvez, aquilo
não deveria ser mais desenterrado. “Se vira meu irmão, faz o que te der
vontade, o que você quer fazer?” Pedro agradeceu a ajuda inútil “Eu quero é
matar aquela magrela peituda!”
O
inverno se acentuou e as ruas foram se esvaziando, Ana Paula fechou sua última
gaveta e guardou sua ultima peça de roupa na mala, olhou a neve caindo lá fora,
agora com mais força, e deu um suspiro longo. Não tinha ideia do que a esperava,
e isso a assustava, mas sabia bem o que ela queria naquele momento específico.
Pegou seu casaco e saiu de casa, foi até o mirante e sentou-se no banco gelado,
olhou para seus pés e ficou fitando a neve, foi então que percebeu os fracos
raios do sol abraçando a neve, e pode assistir aquele processo físico vagaroso.
Ela
caminhou até o beiral do mirante e se debruçou na grade, e ficou ali vendo o
sol por trás dos milhares de flocos que desciam do infinito. Alguém se estagnou
ao seu lado e esperou ela virar, “Nossa, você aqui!” A surpresa era real, mas
ela não sabia como reagir aquilo e ficaram se olhando. “É... Eu sei que você
vai embora.” Dizia Pedro tropeçando nas palavras, “Inclusive a mala já está
pronta”, e ela não sabia dizer, mas era como se ele estivesse chorando flocos
de neve, e aquilo a atingia por dentro, mesmo que por fora ela fosse a mesma. “Eu
só queria dizer Adeus da forma correta dessa vez, e tentar ser menos babaca”
Ela fez que concordando com a cabeça e lhe deu um abraço, longo talvez pelo
tempo, mas bem curto pelo o que um dia já fora. E ele então deu um sorriso
amargo, olhou aquele por-se-sol torto pela neve e se virou. Ela segurou seu
braço antes dele se distanciar e esperou ele se virar novamente “Você tem
razão, você é um babaca... Mas eu gosto de você”. Soltou e virou-se para o sol,
seja lá qual fosse a reação dele, ela jamais saberia, quando se virou ele já
não estava mais lá.
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